Por Flávio Aguiar, na Rede Brasil Atual:
Já começou a contagem regressiva. E pior do que uma bomba de hidrogênio, um míssil da Otan ou uma nave espacial em vias de explodir, o governo norte-americano está a menos de 48 horas de uma possível moratória ou pedido de falência.
Primeiro, uma observação semântica: embora tenha sido usada, a palavra “calote” aparece bem menos vezes, com muito menos ênfase, do que quando se trata de um país de terceiro mundo, emergente, ou o Brasil. “Calote” é muito depreciativo. Coisa de pobre, Grécia, América Latina, África.
Banco não dá ”calote”. Dá “default” que, convenhamos, é muito mais chique.
Ninguém acredita que os Estados Unidos darão o calote a partir de quinta-feira. Em parte, é wishfull thinking por parte das bolsas, dos mercados e da direita. Em parte, também é wishfull thinking por parte da esquerda, na base do “eles são iguais mesmo, vão acabar se entendendo”. “Nada mais republicano que um democrata, e vice-versa, ou versa-vice”.
Não é bem assim. Os republicanos dos Estados Unidos, vanguarda das direitas mundiais, estão entrando no ciclo mais perverso do pensamento de direita, o ciclo maníaco-maníaco, em que para se combater a depressão inevitável se entra num surto psicótico onde só há lugar para uma euforia destrutiva e também autodestrutiva. Algo como acontece com estes atiradores solitários, tipo Andreas Breivik da Noruega. Na falta de realidade, eu crio a minha realidade, e atiro na outra, porque esta outra ameaça a minha.
O pensamento de direita emergiu vitorioso do fim da guerra fria. Tornou-se hegemônico em grande escala. Não tinha contestação, que era uma coisa do passado. “Mas o mundo foi rodando, nas patas do seu cavalo”... e as visões, ao invés de “se clareando”, “se entrevando”, “se obscurecendo”. Hoje o pensamento de direita, de menos Estado e mais mercado, perdeu a hegemonia. Mas não o poder. Sobretudo porque ainda não apareceu uma nova hegemonia que substitua sua.
A contestação da neo-hegemonia de direita vem exatamente do passado, do pensamento keynesiano, de que em primeira e última instância os mercados devem ser regulados e contidos em sua ânsia de deglutir o mundo. O pensamento de esquerda, que projetava o futuro, entrou em pane. Produz análises, mas não novas utopias. Mas diante do fantasma keynesiano, mais real do que nunca, o pensamento ortodoxo de direita se entrega à sua própria orgia autodesrregulada e cria situações extremas como esta do “calote” – desculpem, “default” – norte-americano. Os republicanos, motivados por seu desejo de impedir que 48 milhões de seus compatriotas tenham acesso à seguridade de saúde através de um sistema público compulsório, estão prestes a proporcionar ao mundo uma situação inédita, qual seja, a do governo norte-americano jogar a toalha diante das suas obrigações e débitos.
Não haverá FMI que socorra os Estados Unidos. Por duas razões: não há fundos no FMI nem em outra agência financeira mundial, nem em todas juntas, capazes de amparar o Leviatã dos Estados Unidos. E de acordo com as regras do FMI, este deveria passar a monitorar as contas de Washington. Convenhamos: é mais fácil um rico entrar no céu, como dizia Jesus Cristo. As coisas foram feitas para funcionarem ao contrário: o governo norte-americano e seus acólitos é que devem monitorar o FMI...
Assim que estamos marchando alegremente para o fim do mundo. Talvez ele venha a ser evitado, ou melhor, postergado. Mas que apareceu na curva do caminho, apareceu.
Primeiro, uma observação semântica: embora tenha sido usada, a palavra “calote” aparece bem menos vezes, com muito menos ênfase, do que quando se trata de um país de terceiro mundo, emergente, ou o Brasil. “Calote” é muito depreciativo. Coisa de pobre, Grécia, América Latina, África.
Banco não dá ”calote”. Dá “default” que, convenhamos, é muito mais chique.
Ninguém acredita que os Estados Unidos darão o calote a partir de quinta-feira. Em parte, é wishfull thinking por parte das bolsas, dos mercados e da direita. Em parte, também é wishfull thinking por parte da esquerda, na base do “eles são iguais mesmo, vão acabar se entendendo”. “Nada mais republicano que um democrata, e vice-versa, ou versa-vice”.
Não é bem assim. Os republicanos dos Estados Unidos, vanguarda das direitas mundiais, estão entrando no ciclo mais perverso do pensamento de direita, o ciclo maníaco-maníaco, em que para se combater a depressão inevitável se entra num surto psicótico onde só há lugar para uma euforia destrutiva e também autodestrutiva. Algo como acontece com estes atiradores solitários, tipo Andreas Breivik da Noruega. Na falta de realidade, eu crio a minha realidade, e atiro na outra, porque esta outra ameaça a minha.
O pensamento de direita emergiu vitorioso do fim da guerra fria. Tornou-se hegemônico em grande escala. Não tinha contestação, que era uma coisa do passado. “Mas o mundo foi rodando, nas patas do seu cavalo”... e as visões, ao invés de “se clareando”, “se entrevando”, “se obscurecendo”. Hoje o pensamento de direita, de menos Estado e mais mercado, perdeu a hegemonia. Mas não o poder. Sobretudo porque ainda não apareceu uma nova hegemonia que substitua sua.
A contestação da neo-hegemonia de direita vem exatamente do passado, do pensamento keynesiano, de que em primeira e última instância os mercados devem ser regulados e contidos em sua ânsia de deglutir o mundo. O pensamento de esquerda, que projetava o futuro, entrou em pane. Produz análises, mas não novas utopias. Mas diante do fantasma keynesiano, mais real do que nunca, o pensamento ortodoxo de direita se entrega à sua própria orgia autodesrregulada e cria situações extremas como esta do “calote” – desculpem, “default” – norte-americano. Os republicanos, motivados por seu desejo de impedir que 48 milhões de seus compatriotas tenham acesso à seguridade de saúde através de um sistema público compulsório, estão prestes a proporcionar ao mundo uma situação inédita, qual seja, a do governo norte-americano jogar a toalha diante das suas obrigações e débitos.
Não haverá FMI que socorra os Estados Unidos. Por duas razões: não há fundos no FMI nem em outra agência financeira mundial, nem em todas juntas, capazes de amparar o Leviatã dos Estados Unidos. E de acordo com as regras do FMI, este deveria passar a monitorar as contas de Washington. Convenhamos: é mais fácil um rico entrar no céu, como dizia Jesus Cristo. As coisas foram feitas para funcionarem ao contrário: o governo norte-americano e seus acólitos é que devem monitorar o FMI...
Assim que estamos marchando alegremente para o fim do mundo. Talvez ele venha a ser evitado, ou melhor, postergado. Mas que apareceu na curva do caminho, apareceu.
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