Marcelo Auler
“O Grampo da Discórdia” (publicado na edição de hoje da CartaCapital) é um texto de minha autoria sobre as divergências que continuam acontecendo dentro da Superintendência Regional da Polícia Federal, no Paraná, onde persistem as críticas aos métodos utilizados pela força-tarefa.
Trata-se, na verdade, da continuidade das apurações que comecei a fazer em julho passado quando estive em Curitiba. A primeira parte desta apuração eu publiquei nesse blog, em 20 de agosto: “Lava Jato revolve lamaçal na PF-PR”.
Nos dois textos, procurando ser o mais isento possível, mostro parte das divergências e discussões que ocorrem entre policiais federais e alguns advogados que atuam na defesa dos envolvidos nesta grande apuração.
Conto como surgiu a versão de que “dossiês” contrários à Lava Jato estariam sendo fabricados – o que, diga-se, jamais se confirmou; falo do envolvimento da doleira Nelma Kodama com um agente da Policia Federal que a presenteava com flores e bombons, retirando-a da cela nas noites de plantão; revelo que esse agente, que sofria de problemas psicológicos e deveria estar de licença médica, acabou suicidando-se; relato as tentativas da mesma doleira em colher informações com o seu antigo defensor, para repassá-las aos delegados que acusaram o advogado de preparar dossiês; explico como o delegado Mario Henrique Castanheira Fanton foi chamado à Curitiba para investigar os supostos “dossiês” e acabou se atritando justamente com aqueles que o convocaram.
Estas divergências, como descrevi em agosto e repriso agora, estão diretamente ligadas ao já badalado aparelho de escuta que o doleiro Alberto Youssef descobriu em sua cela, em março de 2014.
Como destacou a reportagem da revista,
o agente Werlang insiste: a ordem de grampear veio de delegados da força-tarefa. Os acusados negam.
Incrivelmente, apesar dos números fantásticos que a Lava Jato apresenta nesses seus 19 meses de apurações, até hoje não houve uma resposta satisfatória e definitiva da própria direção geral do Departamento de Polícia Federal, sobre o mesmo. Isto só faz aumentar as divergências e as críticas internamente na superintendência do DPF no Paraná. Um esclarecimento publico sobre esse grampo certamente acabará de vez com toda a discussão que persiste dese março de 2014.
Vale ressaltar que pessoalmente defendo a ampla apuração de todos os atos criminosos que estão sendo descobertos por esta Operação. Reafirmo aqui minha total confiança no trabalho do juiz Sérgio Moro, a quem conheço e aprendi a respeitar, há mais de sete anos. Isto, porém, não me impede de levantar questionamentos com base em tudo o que ouvi e apurei, dos dois lados. Não por outro motivo, aceitei de bom grado o parágrafo final da reportagem que foi proposto em São Paulo pelo editor Sérgio Lírio e o diretor de CartaCapital, Mino Carta:
“Só o completo esclarecimento do tal grampo poderá demonstrar que a Lava Jato não ultrapassa os limites da legalidade em seu ímpeto louvável de punir a corrupção no Brasil. Para quem está imbuído da missão de limpar o País, a transparência não é só recomendável. É essencial”.
A revista está nas bancas à disposição dos que se interessarem pelo assunto.