Povo nas ruas melhora perspectivas para 2016.
Em 2015 a recessão econômica foi bastante influenciada pela crise política. Em 2016 espera-se uma recuperação econômica com muito menos influência da crise política. Revemos aqui algumas posições em relação ao último artigo que escrevemos sobre a crise, devido aos acontecimentos importantes ocorridos em dezembro último. A previsão dos analistas de mercado para a economia brasileira em 2015 seria de uma recessão em torno de 0,7% a 1,3% de queda no PIB; em condições normais, sem considerar aspectos políticos. As coisas complicaram a partir do resultado das eleições de 2014, em que a oposição não aceitou o resultado das urnas e criou um tremendo impasse político a partir daí. O governo também não soube se proteger e perdeu várias batalhas, principalmente a presidência da Câmara dos Deputados que passou a ditar uma pauta bomba, exacerbando despesas públicas. Os rugidos negativistas da mídia encontraram o parceiro ideal numa oposição obcecada em derrubar Dilma a qualquer preço.A birra da oposição se perpetua e contamina o cenário político e dos meios de comunicação que passam a gerar e exagerar um clima de pessimismo na economia, diminuindo expectativas de investimentos. Para complicar, a Operação Lava Jato que investiga corrupção na Petrobrás e sua cadeia produtiva, atinge as maiores corporações brasileiras ligados ao setor: "Não podemos ignorar o fato de as empresas investigadas não poderem mais operar negócios, terem acesso ao crédito e às licitações. A verdade é que a cadeia de petróleo e gás sofreu um imenso impacto", disse o diretor do Ipea, André Calixtre. Só neste setor há uma queda de 5% no nível de investimentos do país. Segundo a BBC, “os impactos diretos e indiretos da operação poderiam ser de R$142,6 bilhões em 2015 – algo em torno de 2,5% do PIB”. Portanto,uma recessão de coisa de 1% negativo pode chegar a menos 4%. Ou seja, a crise política multiplica por 4 a crise econômica. Haveria uma forma de enfrentar a corrupção no mundo do petróleo sem o custo devastador que se apresentou? Sem dúvida que sim. Moro não pegou uma calculadora ou tudo foi intencional para provocar a recessão? Se foi, estava fazendo o jogo da oposição: do “quanto pior, melhor”.
Para Marcio Pochmann, ex-presidente da Fundação Perseu Abramo, houve uma opção pela recessão. Para ele, a crise econômica foi construída por uma crise política que se estabeleceu em função do resultado eleitoral. “Nós tivemos um impasse político e tem a ver com a forma como o governo se organizou a partir desse resultado eleitoral. Houve um erro na sucessão no Legislativo que acabou provocando o acirramento dentro da base do governo. Então, isso resultou num impasse. E essa crise política contaminou a economia. Não aconteceu nada de substancial que justificasse termos uma piora na situação econômica, portanto, no meu modo de ver, é de natureza política.”.... Segundo Pochmann, “ao abandonar a trajetória da política econômica anterior, aceitando o diagnóstico da oposição e passando a governar com o programa dos perdedores, o Brasil terminou por confirmar posteriormente o vaticínio neoliberal....” Para este economista, a política econômica do ministro Joaquim Levy é a mesma dos neoliberais do PSDB. Esta era a posição de quem via a política econômica de Joaquim Levy no início do governo Dilma até o final do ano.
Mas então as coisas mudam a partir das mobilizações populares do dia 16 de dezembro. "O novo ambiente político que se respira no país, com reflexos positivos no Congresso, no Supremo e no debate sobre os rumos da política econômica e a saída de Joaquim Levy, foi construído pela mobilização popular do dia 16.” (Paulo Moreira Leite). O governo ouve as vozes das ruas e muda seu ministro - agora as perspectivas são outras - começa enfim um novo mandato do governo Dilma. Povo tira o país do abismo, reage contra o impeachment, salva a democracia do golpe das elites e muda a política econômica. “Movimentos populares, entidades sindicais e partidos políticos do campo progressista conseguiram, pela primeira vez desde 2013, colocar mais gente nas ruas que as forças conservadoras. O comparecimento à jornada do dia 16 de dezembro bateu, com folga, as falanges que marcaram presença no dia 13. O placar fechou em 250 mil vermelhos contra 65 mil azuis. A ferramenta mais interessante desta empreitada talvez seja a Frente Brasil Popular. Com o advento da FBP, em conjunto com outras alianças do gênero, a esquerda recupera chance de se emancipar do papel de apêndice da institucionalidade, readquirindo protagonismo na disputa dos rumos de uma administração policlassista e pluripartidária.” (Breno Altman).... “O conservadorismo contava com a paralisia da esquerda, desnorteada e dividida pelas decisões adotadas pelo governo em 2015, mas foi surpreendido por sua capacidade de reinvenção, no momento mais decisivo da escalada antidemocrática. Não se trata de apoiar o governo Dilma contra seus oponentes, mas de defender a democracia contra seus inimigos.” (Breno Altman). Amplos setores da sociedade que mergulharam no desalento após as eleições de 2014, ficaram frustrados pela guinada à direita do segundo mandato da presidente reconduzida. Agora a presidenta tem uma segunda chance de mudar sua política econômica com o novo ministro Nelson Barbosa. As forças que defendem a legalidade do governo Dilma também reivindicam programas de emergência para a retomada do crescimento econômico, a proteção do emprego e a recuperação da renda familiar, com diminuição da taxa de juros e retomada do investimento público.
A GO Associados que prevê um recuo de 2,5% do PIB brasileiro e queda de 30% dos investimentos das empresas investigadas pela Lava Jato, prevê também perdas totais de 1,9 milhão de empregos. “Infelizmente, o grosso das demissões ainda não ocorreu. Mas não acredito que no final do ano a gente tenha 2 milhões de empregos a menos no país (foram 900.000 em 2015). Há outros setores que vão expandir, apesar de todos os problemas”, avalia Alessandra Oliveira. Estas perdas de emprego podem não ocorrer com a MP (medida provisória) assinada pela presidente Dilma Rousseff na semana que foi nomeado o novo ministro, que permite acordos de leniência (entre Estado e empresas privadas acusadas de corrupção) e dá a essas empresas o direito de continuar funcionando caso cumpram penalidades e demais condições legais. Segundo ela, o objetivo das mudanças na legislação é dar celeridade aos acordos de leniência "sem destruir empresas ou fragilizar a economia". Até agora a Lava Jato punia as empresas cortando seus contratos com o Estado e portanto provocando quebradeiras e desemprego. Agora se pune os executivos responsáveis sem prejudicar as empresas. Isto pode dar um grande impacto positivo para a economia em 2016, iniciando um processo de recuperação para este ano.
Daniel Miranda Soares é ex-professor de Economia com mestrado pela UFV e UFMG.
(artigo originalmente escrito para o Diário Popular e publicado no dia 07/01/2016, contracapa......http://issuu.com/jornaldiariopopular/docs/06_01_2016_21_40_34/1?e=4106722/32544869.
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