Povo nas ruas melhora perspectivas para 2016.
7 de Janeiro de 2016, 20:21 - sem comentários aindaPovo nas ruas melhora perspectivas para 2016.
Em 2015 a recessão econômica foi bastante influenciada pela crise política. Em 2016 espera-se uma recuperação econômica com muito menos influência da crise política. Revemos aqui algumas posições em relação ao último artigo que escrevemos sobre a crise, devido aos acontecimentos importantes ocorridos em dezembro último. A previsão dos analistas de mercado para a economia brasileira em 2015 seria de uma recessão em torno de 0,7% a 1,3% de queda no PIB; em condições normais, sem considerar aspectos políticos. As coisas complicaram a partir do resultado das eleições de 2014, em que a oposição não aceitou o resultado das urnas e criou um tremendo impasse político a partir daí. O governo também não soube se proteger e perdeu várias batalhas, principalmente a presidência da Câmara dos Deputados que passou a ditar uma pauta bomba, exacerbando despesas públicas. Os rugidos negativistas da mídia encontraram o parceiro ideal numa oposição obcecada em derrubar Dilma a qualquer preço.A birra da oposição se perpetua e contamina o cenário político e dos meios de comunicação que passam a gerar e exagerar um clima de pessimismo na economia, diminuindo expectativas de investimentos. Para complicar, a Operação Lava Jato que investiga corrupção na Petrobrás e sua cadeia produtiva, atinge as maiores corporações brasileiras ligados ao setor: "Não podemos ignorar o fato de as empresas investigadas não poderem mais operar negócios, terem acesso ao crédito e às licitações. A verdade é que a cadeia de petróleo e gás sofreu um imenso impacto", disse o diretor do Ipea, André Calixtre. Só neste setor há uma queda de 5% no nível de investimentos do país. Segundo a BBC, “os impactos diretos e indiretos da operação poderiam ser de R$142,6 bilhões em 2015 – algo em torno de 2,5% do PIB”. Portanto,uma recessão de coisa de 1% negativo pode chegar a menos 4%. Ou seja, a crise política multiplica por 4 a crise econômica. Haveria uma forma de enfrentar a corrupção no mundo do petróleo sem o custo devastador que se apresentou? Sem dúvida que sim. Moro não pegou uma calculadora ou tudo foi intencional para provocar a recessão? Se foi, estava fazendo o jogo da oposição: do “quanto pior, melhor”.
Para Marcio Pochmann, ex-presidente da Fundação Perseu Abramo, houve uma opção pela recessão. Para ele, a crise econômica foi construída por uma crise política que se estabeleceu em função do resultado eleitoral. “Nós tivemos um impasse político e tem a ver com a forma como o governo se organizou a partir desse resultado eleitoral. Houve um erro na sucessão no Legislativo que acabou provocando o acirramento dentro da base do governo. Então, isso resultou num impasse. E essa crise política contaminou a economia. Não aconteceu nada de substancial que justificasse termos uma piora na situação econômica, portanto, no meu modo de ver, é de natureza política.”.... Segundo Pochmann, “ao abandonar a trajetória da política econômica anterior, aceitando o diagnóstico da oposição e passando a governar com o programa dos perdedores, o Brasil terminou por confirmar posteriormente o vaticínio neoliberal....” Para este economista, a política econômica do ministro Joaquim Levy é a mesma dos neoliberais do PSDB. Esta era a posição de quem via a política econômica de Joaquim Levy no início do governo Dilma até o final do ano.
Mas então as coisas mudam a partir das mobilizações populares do dia 16 de dezembro. "O novo ambiente político que se respira no país, com reflexos positivos no Congresso, no Supremo e no debate sobre os rumos da política econômica e a saída de Joaquim Levy, foi construído pela mobilização popular do dia 16.” (Paulo Moreira Leite). O governo ouve as vozes das ruas e muda seu ministro - agora as perspectivas são outras - começa enfim um novo mandato do governo Dilma. Povo tira o país do abismo, reage contra o impeachment, salva a democracia do golpe das elites e muda a política econômica. “Movimentos populares, entidades sindicais e partidos políticos do campo progressista conseguiram, pela primeira vez desde 2013, colocar mais gente nas ruas que as forças conservadoras. O comparecimento à jornada do dia 16 de dezembro bateu, com folga, as falanges que marcaram presença no dia 13. O placar fechou em 250 mil vermelhos contra 65 mil azuis. A ferramenta mais interessante desta empreitada talvez seja a Frente Brasil Popular. Com o advento da FBP, em conjunto com outras alianças do gênero, a esquerda recupera chance de se emancipar do papel de apêndice da institucionalidade, readquirindo protagonismo na disputa dos rumos de uma administração policlassista e pluripartidária.” (Breno Altman).... “O conservadorismo contava com a paralisia da esquerda, desnorteada e dividida pelas decisões adotadas pelo governo em 2015, mas foi surpreendido por sua capacidade de reinvenção, no momento mais decisivo da escalada antidemocrática. Não se trata de apoiar o governo Dilma contra seus oponentes, mas de defender a democracia contra seus inimigos.” (Breno Altman). Amplos setores da sociedade que mergulharam no desalento após as eleições de 2014, ficaram frustrados pela guinada à direita do segundo mandato da presidente reconduzida. Agora a presidenta tem uma segunda chance de mudar sua política econômica com o novo ministro Nelson Barbosa. As forças que defendem a legalidade do governo Dilma também reivindicam programas de emergência para a retomada do crescimento econômico, a proteção do emprego e a recuperação da renda familiar, com diminuição da taxa de juros e retomada do investimento público.
A GO Associados que prevê um recuo de 2,5% do PIB brasileiro e queda de 30% dos investimentos das empresas investigadas pela Lava Jato, prevê também perdas totais de 1,9 milhão de empregos. “Infelizmente, o grosso das demissões ainda não ocorreu. Mas não acredito que no final do ano a gente tenha 2 milhões de empregos a menos no país (foram 900.000 em 2015). Há outros setores que vão expandir, apesar de todos os problemas”, avalia Alessandra Oliveira. Estas perdas de emprego podem não ocorrer com a MP (medida provisória) assinada pela presidente Dilma Rousseff na semana que foi nomeado o novo ministro, que permite acordos de leniência (entre Estado e empresas privadas acusadas de corrupção) e dá a essas empresas o direito de continuar funcionando caso cumpram penalidades e demais condições legais. Segundo ela, o objetivo das mudanças na legislação é dar celeridade aos acordos de leniência "sem destruir empresas ou fragilizar a economia". Até agora a Lava Jato punia as empresas cortando seus contratos com o Estado e portanto provocando quebradeiras e desemprego. Agora se pune os executivos responsáveis sem prejudicar as empresas. Isto pode dar um grande impacto positivo para a economia em 2016, iniciando um processo de recuperação para este ano.
Daniel Miranda Soares é ex-professor de Economia com mestrado pela UFV e UFMG.
(artigo originalmente escrito para o Diário Popular e publicado no dia 07/01/2016, contracapa......http://issuu.com/jornaldiariopopular/docs/06_01_2016_21_40_34/1?e=4106722/32544869.
A crise econômica é essencialmente política
15 de Dezembro de 2015, 15:44 - sem comentários aindaA previsão dos analistas de mercado para a economia brasileira em 2015 seria de uma recessão em torno de 0,7% a 1,3% de queda no PIB; em condições normais sem considerar aspectos políticos. As coisas complicaram a partir do resultado das eleições de 2014, em que a oposição não aceitou o resultado das urnas e criou um tremendo impasse político a partir daí. O governo também não soube se proteger e perdeu várias batalhas, principalmente a presidência da Câmara dos Deputados que passou a ditar uma pauta bomba, exacerbando despesas públicas. Os rugidos negativistas da mídia encontraram o parceiro ideal numa oposição obcecada em derrubar Dilma a qualquer preço. A birra da oposição se perpetua e contamina o cenário político e dos meios de comunicação que passam a gerar e exagerar um clima de pessimismo na economia, diminuindo expectativas de investimentos. Para complicar a Operação Lava Jato que investiga corrupção na Petrobrás e sua cadeia produtiva, atinge as maiores corporações brasileiras ligados ao setor: "Não podemos ignorar o fato de as empresas investigadas não poderem mais operar negócios, terem acesso ao crédito e às licitações. A verdade é que a cadeia de petróleo e gás sofreu um imenso impacto", disse o diretor do Ipea, André Calixtre. Só neste setor há uma queda de 5% no nível de investimentos do país. Segundo a BBC, “os impactos diretos e indiretos da operação poderiam ser de R$142,6 bilhões em 2015 – algo em torno de 2,5% do PIB”. Portanto uma recessão de coisa de 1% negativo pode chegar a menos 3,5;4%. Ou seja a crise política multiplica por 4 a crise econômica. Haveria uma forma de enfrentar a corrupção no mundo do petróleo sem o custo devastador que se apresentou? Muito provavelmente. Moro não pegou uma calculadora ou tudo foi intencional para provocar a recessão?
Para Marcio Pochmann, ex-presidente da Fundação Perseu Abramo, houve uma opção pela recessão. Para ele, a crise econômica foi construída por uma crise política que se estabeleceu em função do resultado eleitoral. “Nós tivemos um impasse político e tem a ver com a forma como o governo se organizou a partir desse resultado eleitoral. Houve um erro na sucessão no Legislativo que acabou provocando o acirramento dentro da base do governo. Então, isso resultou num impasse. E essa crise política contaminou a economia. Não aconteceu nada de substancial que justificasse termos uma piora na situação econômica, portanto, no meu modo de ver, é de natureza política.”.... Segundo Pochmann, “ao abandonar a trajetória da política econômica anterior, aceitando o diagnóstico da oposição e passando a governar com o programa dos perdedores, o Brasil terminou por confirmar posteriormente o vaticínio neoliberal. Não há saídas positivas sem a retomada do crescimento econômico, desprendendo-se radicalmente da dominância financeira.” Para este economista, isso nunca aconteceu nos anos 2000, pelo contrário....se havia piora no quadro internacional, o Brasil negava essa piora e estimulava o crescimento econômico enfrentando o desemprego e a pobreza. Agora há uma outra orientação.
Para Wilson Cano, professor do Instituto de Economia da Unicamp, estamos em crise há 35 anos: década de 80 - crise da dívida externa e fragilização do Estado; anos 90 - abertura comercial e instauração do neoliberalismo, privatização e valorização cambial que acabou com a indústria nacional. O pior é que não foram só os governos “liberais” que fizeram isso - os governos do PT deram continuidade à dominância financeira neoliberal, a despeito de suas progressistas políticas sociais e de uma nova postura na política externa. Para este economista a predominância do capital financeiro nas relações econômicas internacionais e a política neoliberal ampliam-se a partir dos anos 80...O capital financeiro passa a dominar o capital produtivo. O capitalismo, com sua predominância financeira, nunca foi tão voraz e irracional, nunca criou tantos miseráveis como hoje, e nunca alimentou e realimentou tantas guerras como nos últimos 30 anos! Soltaram a fera, com a desregulamentação do sistema financeiro, agora, que se cuidem todos…Hoje o mundo trabalha para pagar juros ao capital financeiro internacional em todos os países capitalistas e não é à toa que as dívidas públicas e privadas cresceram exponencialmente e quem ganha é o capital rentista especulativo. Os governos estão cortando gastos com benefícios sociais e educação na Europa para sobrar dinheiro para pagar o capital rentista. No Brasil, as razões da ingovernabilidade são causadas por um orçamento em que os juros da dívida perfazem a metade do orçamento federal e 95% do deficit público.
Ainda segundo Márcio Pochmann, a dominância financeira é o maior entrave para o crescimento do país. Enquanto 99% da população tenderão a conviver com a redução nominal do PIB estimada em 745,3 bilhões de reais em 2015, por conta da recessão econômica, o 1% mais rico receberá como ganho financeiro 548 bilhões de reais adicionais devido à alta dos juros. A altíssima taxa de juros (30 meses seguidos de elevação da taxa Selic) inviabiliza o crescimento econômico e eleva o custo do setor produtivo. Dessa forma, a dominância financeira gera recessão econômica e mais inflação. O único ensaio desenvolvimentista que houve nos últimos 20 anos foi durante o segundo mandato do governo Lula (2006-10) quando houve queda brusca dos ganhos financeiros. Nos outros períodos os ganhos financeiros foram sempre maiores que os retornos produtivos: entre 2011 e 2015, a taxa de retorno das atividades produtivas decresceu 89,7%, em média, o ganho financeiro subiu 39,8% no mesmo período. Com a atual taxa básica de juros praticada insistentemente pelo Banco Central, dificilmente a atividade produtiva obterá retorno positivo, capaz de competir com a dominância financeira.
(artigo publicado originalmente no Diário Popular, dia 15/12/2015, contracapa).....http://issuu.com/jornaldiariopopular/docs/15_12_2015_00_21_03/1?e=4106722/31980345.
Daniel Miranda Soares é economista, ex-professor de Economia com mestrado pela UFV.
A crise é muito mais política do que econômica
15 de Dezembro de 2015, 15:44A previsão dos analistas de mercado para a economia brasileira em 2015 seria de uma recessão em torno de 0,7% a 1,3% de queda no PIB; em condições normais sem considerar aspectos políticos. As coisas complicaram a partir do resultado das eleições de 2014, em que a oposição não aceitou o resultado das urnas e criou um tremendo impasse político a partir daí. O governo também não soube se proteger e perdeu várias batalhas, principalmente a presidência da Câmara dos Deputados que passou a ditar uma pauta bomba, exacerbando despesas públicas. Os rugidos negativistas da mídia encontraram o parceiro ideal numa oposição obcecada em derrubar Dilma a qualquer preço. A birra da oposição se perpetua e contamina o cenário político e dos meios de comunicação que passam a gerar e exagerar um clima de pessimismo na economia, diminuindo expectativas de investimentos. Para complicar a Operação Lava Jato que investiga corrupção na Petrobrás e sua cadeia produtiva, atinge as maiores corporações brasileiras ligados ao setor: "Não podemos ignorar o fato de as empresas investigadas não poderem mais operar negócios, terem acesso ao crédito e às licitações. A verdade é que a cadeia de petróleo e gás sofreu um imenso impacto", disse o diretor do Ipea, André Calixtre. Só neste setor há uma queda de 5% no nível de investimentos do país. Segundo a BBC, “os impactos diretos e indiretos da operação poderiam ser de R$142,6 bilhões em 2015 – algo em torno de 2,5% do PIB”. Portanto uma recessão de coisa de 1% negativo pode chegar a menos 3,5;4%. Ou seja a crise política multiplica por 4 a crise econômica. Haveria uma forma de enfrentar a corrupção no mundo do petróleo sem o custo devastador que se apresentou? Muito provavelmente. Moro não pegou uma calculadora ou tudo foi intencional para provocar a recessão?
Para Marcio Pochmann, ex-presidente da Fundação Perseu Abramo, houve uma opção pela recessão. Para ele, a crise econômica foi construída por uma crise política que se estabeleceu em função do resultado eleitoral. “Nós tivemos um impasse político e tem a ver com a forma como o governo se organizou a partir desse resultado eleitoral. Houve um erro na sucessão no Legislativo que acabou provocando o acirramento dentro da base do governo. Então, isso resultou num impasse. E essa crise política contaminou a economia. Não aconteceu nada de substancial que justificasse termos uma piora na situação econômica, portanto, no meu modo de ver, é de natureza política.”.... Segundo Pochmann, “ao abandonar a trajetória da política econômica anterior, aceitando o diagnóstico da oposição e passando a governar com o programa dos perdedores, o Brasil terminou por confirmar posteriormente o vaticínio neoliberal. Não há saídas positivas sem a retomada do crescimento econômico, desprendendo-se radicalmente da dominância financeira.” Para este economista, isso nunca aconteceu nos anos 2000, pelo contrário....se havia piora no quadro internacional, o Brasil negava essa piora e estimulava o crescimento econômico enfrentando o desemprego e a pobreza. Agora há uma outra orientação.
Para Wilson Cano, professor do Instituto de Economia da Unicamp, estamos em crise há 35 anos: década de 80 - crise da dívida externa e fragilização do Estado; anos 90 - abertura comercial e instauração do neoliberalismo, privatização e valorização cambial que acabou com a indústria nacional. O pior é que não foram só os governos “liberais” que fizeram isso - os governos do PT deram continuidade à dominância financeira neoliberal, a despeito de suas progressistas políticas sociais e de uma nova postura na política externa. Para este economista a predominância do capital financeiro nas relações econômicas internacionais e a política neoliberal ampliam-se a partir dos anos 80...O capital financeiro passa a dominar o capital produtivo. O capitalismo, com sua predominância financeira, nunca foi tão voraz e irracional, nunca criou tantos miseráveis como hoje, e nunca alimentou e realimentou tantas guerras como nos últimos 30 anos! Soltaram a fera, com a desregulamentação do sistema financeiro, agora, que se cuidem todos…Hoje o mundo trabalha para pagar juros ao capital financeiro internacional em todos os países capitalistas e não é à toa que as dívidas públicas e privadas cresceram exponencialmente e quem ganha é o capital rentista especulativo. Os governos estão cortando gastos com benefícios sociais e educação na Europa para sobrar dinheiro para pagar o capital rentista. No Brasil, as razões da ingovernabilidade são causadas por um orçamento em que os juros da dívida perfazem a metade do orçamento federal e 95% do deficit público.
Ainda segundo Márcio Pochmann, a dominância financeira é o maior entrave para o crescimento do país. Enquanto 99% da população tenderão a conviver com a redução nominal do PIB estimada em 745,3 bilhões de reais em 2015, por conta da recessão econômica, o 1% mais rico receberá como ganho financeiro 548 bilhões de reais adicionais devido à alta dos juros. A altíssima taxa de juros (30 meses seguidos de elevação da taxa Selic) inviabiliza o crescimento econômico e eleva o custo do setor produtivo. Dessa forma, a dominância financeira gera recessão econômica e mais inflação. O único ensaio desenvolvimentista que houve nos últimos 20 anos foi durante o segundo mandato do governo Lula (2006-10) quando houve queda brusca dos ganhos financeiros. Nos outros períodos os ganhos financeiros foram sempre maiores que os retornos produtivos: entre 2011 e 2015, a taxa de retorno das atividades produtivas decresceu 89,7%, em média, o ganho financeiro subiu 39,8% no mesmo período. Com a atual taxa básica de juros praticada insistentemente pelo Banco Central, dificilmente a atividade produtiva obterá retorno positivo, capaz de competir com a dominância financeira.
(artigo publicado originalmente no Diário Popular, dia 15/12/2015, contracapa).....http://issuu.com/jornaldiariopopular/docs/15_12_2015_00_21_03/1?e=4106722/31980345.
Daniel Miranda Soares é economista, ex-professor de Economia com mestrado pela UFV.
Dívida Pública e juros intocáveis
26 de Agosto de 2015, 19:54Dívida Pública compromete orçamento da União. Por que não cortar juros em vez de cortar despesas governamentais importantes ?
Essa amarra imposta pela lógica da dívida pública suga recursos de todos os setores e os drena em direção ao parasitismo financeiro.
Paulo Kliass
No caso do Relatório da STN aqui abordado, o montante de juros pagos somente no mês de julho somou R$ 40 bi. Esse valor representa um crescimento de quase 100% em relação aos R$ 22 bi pagos em julho do ano passado......As informações relativas à dívida federal demonstram que houve a alocação de R$ 211 bilhões para pagamento de juros para o período de janeiro a julho do presente ano. Não apenas o valor é enorme, como ele tem subido de forma exponencial ao longo do período recente. Na comparação com o ano passado, por exemplo, percebe-se que, de janeiro a julho, foram dispendidos R$ 131 bi.....a conta de pagamento de juros subiu mais de 60% no mesmo período.......Uma das razões que explicam esse crescimento reside na orientação da política monetária. Apesar de haver títulos públicos federais com diferentes tipos de indexadores, a referência básica da remuneração da dívida pública continua sendo a rentabilidade oferecida pela nossa taxa oficial de juros. Em julho do ano passado, a SELIC estava no patamar de 11% ao ano. Começou uma trajetória de elevação em setembro e agora está em 14,25% anuais........Ora, trata-se de tratamento generoso oferecido pelo próprio Estado ao sistema financeiro, proporcionando rentabilidade elevada para seus títulos..........o caráter dramático do mecanismo se revela quando percebemos que um volume enorme do esforço nacional é direcionado ao financismo e que, mesmo assim, os números da dívida não param de crescer. Ao longo da última década, por exemplo, o Brasil pagou R$ 2,5 trilhões a título de juros da dívida e, mesmo assim, o estoque da mesma dobrou de tamanho............O que mais impressiona é o verdadeiro mecanismo de blindagem que os meios de comunicação impõem para impedir a apresentação de alternativas à atual orientação de política econômica.......Parece mais do que óbvia a necessidade de se rediscutir o atual pacto de silêncio comandado pelo rentismo...........Isso significa realizar uma auditoria na dívida pública, com o intuito de verificar efetivamente o que é legal e legítimo em sua composição atual. Isso significa estabelecer limites máximos anuais para o comprometimento de valores orçamentários com pagamento de juros.
No entanto, a hegemonia do capital financeiro reina absoluta. Seus porta-vozes conseguem convencer de que o momento é de sacrifício para todos. Na verdade, deveriam sentir vergonha dos lucros astronômicos obtidos pelos bancos. Para manter tal performance, os juros devem continuar intocáveis - tanto a taxa SELIC nas alturas, quanto o volume de recursos para pagamento do serviço da dívida.
* Paulo Kliass é doutor em Economia pela Universidade de Paris 10 e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal.
Um novo e apocalíptico colapso capitalista
14 de Julho de 2015, 11:11Um novo e apocalíptico colapso capitalista
Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Essa é a previsão de Nouriel Roubini para 2016.
"O capitalismo é a crise". Foto: The Environmental Blog (CC BY-NC-ND 2.0)
Roubini é um economista norte-americano que previu, em 2006, em detalhes, o colapso capitalista de 2008, a partir do estouro da especulação financeira com a chamada subprime, a especulação imobiliária levada ao extremo nos países desenvolvidos.
No início deste ano, Roubini previu um novo e ainda pior colapso capitalista, em 2016, a partir do estouro da “mãe de todas as bolhas”, as emissões de dinheiro podre pelos principais bancos centrais. Esse dinheiro podre é repassado para os monopólios a taxas próximas a zero e é aplicado imediatamente na especulação financeira. Mesmo assim, o semi cadáver do capitalismo não conseguiu dar mais que alguns passos a mais, às custas de gerar um mega endividamento dos estados burgueses.
De acordo com Roubini, em 2015, “teremos crescimento econômico e dinheiro barato, pelo que esta ‘espuma’ que vemos nos mercados ainda deverá continuar”. É exatamente isso o que está acontecendo nos principais países. Uma aparência de “bonança”, promovida em cima de volumes colossais de crédito, enquanto a economia produtiva mundial entrou em recessão. Ou seja, uma espécie de calmaria antes da tempestade.
Crises cíclicas?
O fenômeno das crises cíclicas é próprio do capitalismo na fase liberal, de ascenso industrial, no século XIX. A superprodução relativa de produtos (devido à falta de compradores) levava a um excesso de mercadorias que não encontrava compradores. Após ter destruído um volume de forças produtivas durante a crise, a produção era retomada, até a próxima crise, que se repetia a cada dez anos aproximadamente. Essas crises levaram sempre a turbulências e à movimentação das massas.
As revoluções que aconteceram em 1848, na Europa, tiveram na base a crise de 1847. Após o período de reação e refluxo que se seguiu às derrotas, a nova movimentação operária levou à fundação da Primeira Internacional Comunista, em 1864, que teve, na base, a crise industrial de 1858.
A partir do século XX, na época do imperialismo, as crises deixaram de ser periódicas, ou “cíclicas”. O Imperialismo representa a fusão do capital industrial com o capital financeiro, segundo a definição acunhada por V.I.Lenin, no seu famoso livro (Imperialismo, etapa superior do capitalismo). É uma caraterística da fase imperialista o aumento acelerado do parasitismo financeiro, do acúmulo de capital fictício, da exportação de capitais, de guerras para reformular a divisão do mercado mundial já dividido etc.
A cada nova crise, o capitalismo não se recicla, mas ganha uma nova ponte de safena. Assim, tem entrado num processo de envelhecimento histórico que o faz se assemelhar a um velho caquético em fase terminal.
O cenário obsceno em que vemos o mundo hoje faz parte da crise. O parasitismo financeiro foi levado a níveis gritantes, o mundo tem sido transformado numa espécie de cassino especulativo.
O capitalismo tem saída para a crise?
O capitalismo não consegue mais extrair lucros da produção.
A crise de 1929 somente foi fechada por meio da Segunda Guerra Mundial. O esforço de reconstrução deu um certo fôlego, nos países desenvolvidos, durante 20 anos. A crise mundial de 1974 liquidou as chamadas políticas keynesianas, que tinham conseguido estabilizar o sistema e conter o desenvolvimento das tendências revolucionárias após a guerra. A inflação e o desemprego dispararam.
A crise somente conseguiu ser contida, de maneira parcial, por meio da entrada de centenas de milhões de operários chineses, e depois do antigo bloco soviético, no mercado, com salários miseráveis. Sobre esta base, o movimento operário em ascenso foi contido e ataques em grande escala promovidos, principalmente, a partir da derrota da greve dos mineiros ingleses pelo governo de Margareth Thatcher e dos controladores aéreos pela Administração Ronald Reagan.
Novas crises, parciais, se sucederam. Mais foi o colapso capitalista de 2008 que colocou a pá de cal sobre o chamado neoliberalismo.
Nenhuma política alternativa ao neoliberalismo foi possível de ser colocada em prática. A tentativa mais avançada, neste sentido, foi a de François Hollande, na França, mas que fracassou de maneira humilhante, apesar do Partido Socialista francês contar com a maioria em ambas as câmaras. Hoje, Hollande é um dos líderes, junto com Angela Merkel, a chanceler alemã, das políticas de austeridade.
A falta de condições para estruturar uma nova política tem levado a manter a política neoliberal numa nova onda ainda mais brutal, conforme o exemplo da Grécia o mostra de maneira transparente. Da mesma maneira, na América Latina, os Estados Unidos passaram a apertar o ataque contra as massas com o objetivo de aumentar a espoliação, na tentativa de conter a queda dos lucros, implodida pelo aprofundamento da crise mundial.
Qual é a saída para a crise capitalista?
Mantendo as amarras parasitárias, não existe nenhuma saída possível para o capitalismo, com a exceção de guerras em grande escala e ataques ainda mais fortes contra a população. Essa “saída” está sendo impulsionada, devido à falta de alternativas, por meio dos grupos de extrema-direita que crescem em todo o mundo. O “efeito colateral” é que as guerras e os ataques contra os trabalhadores geram a desestabilização do sistema e conduzem inevitavelmente a revoluções.
Após a Primeira Guerra Mundial, aconteceu a revolução bolchevique na Rússia, a revolução na Hungria e três revoluções na Alemanha.
Após a Segunda Guerra mundial, os operários italianos se armaram e passaram a controlar todas as fábricas. As massas, na França, controlaram o país por meio da Resistência. Na Iugoslávia e na Albânia, os nazistas foram derrotados por revoluções populares. Na Grécia, aconteceram duas revoluções. Em 1947, foi declarada a independência na Índia. Em 1949, uma revolução popular na China derrota os norte-americanos, após terem derrotado os japoneses. O mesmo aconteceu no sudeste asiático. Os impérios coloniais na África desabaram.
A única saída para a crise capitalista é a derrubada do capitalismo, isto é, o domínio do mundo pelo punhado de famílias que o controlam. Em primeiro lugar, está colocada a estatização dos bancos, a quebra da especulação financeira e a estatização de todas as grandes empresas. Neste momento, nenhuma grande empresa consegue sobreviver sem o assalto aos cofres públicos. É uma das caraterísticas do imperialismo, o chamado capitalismo de estado.
O novo colapso capitalista irá, inevitavelmente, acordar as massas do grande “sonho neoliberal”. Está colocada a retomada do ascenso operário dos anos 1980. E sobre esta base a formação de partidos operários, de massa e revolucionários.