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Blog do damirso

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.

A crise econômica e a armadilha neoliberal

24 de Junho de 2015, 19:22, por Daniel Miranda Soares

Publicado originalmente no Diário do Aço.    http://diariodoaco.com.br/noticia/94693-7/opiniao/a-crise-economica-e-a-armadilha-neoliberal


23/06/2015 - 14h19

A crise econômica e a armadilha neoliberal


Daniel Miranda Soares

O governo Lula cresceu em média 4% ao ano (2004-2010), com base em investimentos em infraestrutura (PAC com recursos do BNDES) e expansão da demanda comandada por programas de transferência de renda (Bolsa Família, programas sociais, salário mínimo) com distribuição de renda. O preço das “commodities” em alta ajudou muito nestes momentos.

O governo Dilma começa a desacelerar, cresceu em média 1,6% ao ano (2011-2014) baseado em investimentos, transferências de renda, mas também em programas anticíclicos (subsídios e desonerações) tipo: desonerações da folha patronal, redução de tarifa elétrica e de preços de combustíveis, redução tributária (IPI) para automóveis e eletrodomésticos.

O preço das “commodities” despencam a partir de meados de 2013 e o modelo de expansão do mercado interno (via políticas de distribuição de renda) já mostra sinais de esgotamento a partir de início de 2014.

Mas o custo dos programas anticíclicos do governo Dilma começa a vazar e gera déficit fiscal. Resultado: o governo Dilma se rende ao mercado, cai na armadilha neoliberal e adota o programa de “ajuste fiscal”. É um programa ortodoxo de ajuste fiscal e que pode gerar mais contração econômica. Segundo Luís Nassif não é só o ajuste fiscal que pode complicar, mas dois torniquetes que vêm junto com ele: elevação da taxa de juros e restrição ao crédito.

Estes dois derrubam o PIB. Em 2014 o PIB praticamente não cresceu (0,1%) e a previsão do PIB para este ano é de queda de 1,3%. Neste primeiro trimestre de 2015 o PIB caiu 1,6% (em relação a mesmo período de 2014) enquanto a indústria caiu 3%. Indústria puxa PIB pra baixo.

Mas também o consumo das famílias cai pela primeira vez desde 2003 (-0,9%). Uma queda maior na indústria repercute em outros setores e aí com a ajuda da mídia e o pessimismo generalizado a recessão pode virar crise.

Mas não haveria problema em manter as taxas de crescimento da economia, mesmo chegando perto do limite de expansão do mercado interno, se os níveis de investimentos se elevassem. O que permite manter taxas contínuas de crescimento é o investimento, isto é sabido entre economistas. É o caso da China, que mantém altas taxas de crescimento do PIB com elevadas taxas de investimentos. O governo chinês quer desacelerar o ritmo da economia, investindo menos.

O investimento está baixo em todo o mundo, com exceção da China. Sabe-se também que as principais economias neoliberais estão com baixos níveis de investimentos produtivos devido à hegemonia do capital financeiro que prioriza aplicações especulativas do dinheiro com retorno maior do que as aplicações no capital produtivo.

Mas no caso brasileiro ainda existe mais um agravante, segundo economistas keynesianos críticos da política econômica (Luís Gonzaga Belluzzo, João Manuel Cardoso de Mello e Luís Carlos Bresser Pereira - mesmo apoiando o governo Lula-Dilma e até mesmo Paul Singer): câmbio valorizado.     

O câmbio valorizado mata a indústria nacional. Segundo estes economistas, o Brasil sempre cresceu bem industrialmente com apoio determinante do Estado brasileiro: foi assim com Getúlio, JK e os governos militares. Mas a partir dos anos 1980, com a crise da dívida externa e a crise internacional, as coisas mudam completamente. Os governos pós-crise dos anos 1980 mantém câmbio valorizado, principalmente a partir dos anos 1990, continuando com Lula e Dilma.

Desde então a indústria, que correspondia a 29% do PIB em 1993, hoje significa 13% (2013). Segundo João Manuel C. Mello: “o grande problema é a indústria. Temos 20 anos de câmbio valorizado. Não há quem resista a isso. Entre 1950 e 1980 crescemos mais do que o Japão. Depois veio a crise da dívida e depois nada.”... "O processo de moagem da indústria acabou com o empresariado. Onde estão os empresários do manifesto de 1978 [que pediu mudanças na economia e a volta da democracia]? Ou venderam ou viraram rentistas ou comerciantes ou importadores.”...

É a opinião também de Luiz Gonzaga Belluzzo: “O que desarranjou isso foi a privatização, que decorre da política anterior... sem as estatais perdeu-se, então, um instrumento de política industrial, de crescimento. Agora só tem a Petrobras.”    

Luiz Carlos Bresser Pereira: “Os governos do PT tentaram mudar isso. Lula tentou fazer uma coalizão desenvolvimentista, reunindo empresários industriais, trabalhadores, classe média e a burocracia pública, e, com isso, fazer o que Getúlio Vargas havia feito... mas não conseguiu.”

João Manuel C. Mello: “O que houve foi um ciclo de consumo. No governo Lula, as exportações subiram em quantidade e em preços. Isso deu impulso na economia. Permitiu soltar o crédito, o gasto público, a arrecadação subiu. Isso moveu a economia. Em 2009, Lula fez certo, uma política de sustentação para não deixar a economia afundar. Mas isso é um ciclo de consumo, que é curto.”...   

Segundo os economistas citados, o ajuste fiscal poderia ser mais moderado. E haveria uma chance ainda de se evitar a recessão: aumentar os investimentos.

Para Luiz Gonzaga Belluzzo o Brasil tem que aproveitar as vantagens que possui na área de petróleo e gás. Com câmbio competitivo e queda dos juros o investimento em infraestrutura, por exemplo, permitiria a adoção de políticas industriais fundadas na formação de “redes de produtividade” entre as construtoras e seus fornecedores.

Com critérios de desempenho a indústria nacional atenderia à demanda de equipamentos, peças e componentes. Pode ser então que a agenda positiva de Dilma esteja certa ao lançar recentemente o Plano Nacional de Investimentos em Infraestrutura (logística e transportes) no valor de R$ 198,4 bilhões para os próximos anos, prevendo aumento dos investimentos de 18% para 21% do PIB.

Tirando este ano que é de crise, se o Plano aplicar os investimentos previstos a partir do final deste ano, só fica faltando uma política industrial de longo prazo. O ano de 2014 sofreu o primeiro déficit comercial desde 2000.

O real desvalorizado já surtiu efeitos positivos: janeiro e fevereiro a balança comercial foi deficitária; março, abril, maio e metade de junho deste ano está superavitária (valor das exportações maior que das importações).

O câmbio tem que se manter desvalorizado para beneficiar a indústria nacional (algumas indústrias já estão se beneficiando com o dólar em alta). Exportações mais baratas e importações mais caras estimula a indústria nacional e aumenta o superávit no comércio externo.

O BC prevê dólar a R$ 3,15 até o final do ano e esperamos que o governo defina melhor sua política industrial, integrando a política financeira à política econômica (BC, queda de juros, pacotes de investimentos, cadeias produtivas, BNDES, etc.).

Daniel Miranda Soares é economista e mestre pela UFV.

 



Porque a Globo perdeu credibilidade ? Um jornalismo contra a democracia e contra o povo.

6 de Abril de 2015, 7:39, por Daniel Miranda Soares

Por que a hostilidade crescente contra a Globo?

5 de abril de 2015 | 10:49 Autor: Miguel do Rosário

A Globo passa por uma profunda crise de imagem, e que só tende a piorar, porque o seu jornalismo piora a cada dia.

Seu jornalismo torna-se cada dia mais e mais manipulador, mais e mais mentiroso.

As verdades são transformadas em mentiras, através de um processo de manipulação cada vez mais sofisticado e mais cínico.

As mentiras são transformadas em verdades aplicando-lhes, na superfície, um verniz de meia-verdade.

Uma de suas apresentadoras, Angelica, é fragorosamente vaiada ao visitar uma universidade (Unirio), no Rio de Janeiro.

Seus jornalistas, igualmente, não podem mais pisar nenhuma universidade pública sem serem recebidos por vaias.

Em São Paulo, 60 mil professores marchando nas ruas também entoam coros contra a Globo. Entendem que a Globo é contra eles, ao não dar informações honestas sobre a greve, sobre as condições de trabalho, puxando sempre a sardinha para o lado do governo estadual.

No complexo do alemão, moradores em protesto contra a polícia militar, que matou inocentes durante operação na favela, incluindo uma criança, hostilizam a equipe da Globonews.

Por que isso?

A Globo não é um político, um estadista, a quem as pessoas endereçam sua irritação em relação aos problemas econômicos do dia a dia.

A irritação com a Globo é algo bem mais profundo, bem mais consciente, bem mais politizado.

A presença da imprensa deveria ser comemorada por grevistas, manifestantes de uma comunidade, e universitários, porque seria a oportunidade de transmitir ideias à opinião pública.

Não é o que acontece.

Manifestantes, trabalhadores ou estudantes, protestam contra a Globo antes mesmo de saberem o resultado da cobertura, porque a experiência lhes ensinou que a Globo sempre vai distorcer a informação, contra o trabalhador, contra o estudante.

Blogueiros e jornalistas independentes sabem que a Globo é seu principal adversário, até porque a emissora não esconde isso.

Sempre que tem oportunidade, produz matérias para agredir e difamar jornalistas independentes.

Nos sindicatos e partidos de esquerda, cresce o entendimento de que a Globo se tornou o principal partido político da direita.

Um partido conservador que faz oposição à qualquer coisa que cheire a nacionalismo, qualquer coisa que beneficie o trabalhador ou o estudante.

A Globo sustenta o castelo de cartas da mídia corporativa brasileira. Um castelo de cartas que, por sua vez, sustenta o que existe de mais atrasado e reacionário em nosso país.

Toda a estrutura midiática nacional repousa sobre a Globo e seus milhares de tentáculos.

A Globo é o principal adversário, e admite isso, em editoriais, de uma regulamentação democrática da mídia, porque sabe que o seu monopólio seria o primeiro a ser atingido se o universo midiático deixasse de ser o ambiente selvagem de hoje, em que prevalece apenas o mais forte.

E o mais forte de hoje deve sua força ao regime ditatorial, por um lado, e a financiamentos ilegais dos Estados Unidos, de outro.

É uma força, portanto, duplamente ilegal, duplamente antidemocrática.

Ilegal por nascer do arbítrio interno, do golpe; e ilegal por violar nossa soberania, ao nascer do capital estrangeiro.

Antidemocrática por ter articulado o golpe e depois tê-lo sustentado; e antidemocrática por se posicionar contra o povo brasileiro, em benefício de minorias endinheiradas.

Os outros canais de TV também são ruins, mas a estrutura midiática, como um todo, tem a Globo como principal ponto de apoio.

Não é por outra razão que a Globo é blindada por todo o corpo midiático oficial.

Sem a oposição política da Globo, haveria condições de uma regulamentação democrática de TV e rádios no Brasil, introduzindo dispositivos para garantir a pluralidade política.

O trabalhador brasileiro não pode usar o controle remoto. Num canal temos Sheherazade incitando linchamento de jovens pobres, no outro Boris Casoy humilhando garis, no outro Arnaldo Jabor festejando “golpe democrático” em Honduras e sugerindo algo parecido no Brasil.

Em São Paulo, o sujeito que escolhe ver a TV pública, se depara com Augusto Nunes, blogueiro da Veja, apresentador do Roda Viva, entrevistando golpista bancado pela CIA estimulando manifestações contra o governo.

Com esse congresso, de fato, será difícil aprovarmos alguma mudança, mas isso ocorre justamente porque a mídia ajudou a elegê-lo.

As forças mais retrógradas do congresso, com Eduardo Cunha à frente, são os fiadores dessa mídia ainda tão poderosa, embora já tão decadente em termos de ética e moral.

Em todo o mundo desenvolvido, há pluralidade nos meios de comunicação.

Nos EUA, não há nada parecido com a Globo.

Estados e municípios tem jornais e TVs locais. Em muitos condados, há tvs públicas locais.

Fox e MSNBC, uma republicana, mais à direita, outra democrata, mais à esquerda, disputam a liderança dos canais fechados.

Na Europa, então, nem se fala.

O jornal em língua inglesa com mais audiência de internet no mundo é o The Guardian, de centro-esquerda.

Mesmo se você ler um grande jornal conservador americano ou europeu, como o Washington Post, nos EUA, ou o Le Figaro, na França, notará uma profunda diferença em relação à nossa imprensa: eles respeitam o outro; há um padrão civilizatório que eles não ultrapassam.

No último final de semana, houve eleições locais na França. A direita ganhou disparado. Na França, é assim. Há uns seis anos atrás, a esquerda tinha levado tudo. Agora é a direita que leva a melhor.

Le Figaro, jornal da direita, não trata a esquerda, contudo, como um inimigo a ser eliminado do mapa. Há respeito pelo adversário. Organizações de esquerda (partidos, sindicatos) são respeitadas.

Esses jornais, de qualquer forma, são apenas jornais: não possuem concessões públicas de rádio e tv.

Não há essa contínua tentativa de criminalizar a política, que assistimos aqui.

Não há essa excrescência que é termos um jornal privado, fortemente partidário, distribuindo prêmios a juízes em função de sua perseguição a um determinado partido.

Enfim, a nossa democracia, para se consolidar, precisará se livrar desses entulhos da ditadura.

Não tem nada a ver com socialismo ou comunismo.

A regulamentação democrática de sistemas de oligopólio e monopólio são medidas liberais, comuns e necessárias ao capitalismo.

O oligopólio asfixia a livre iniciativa, trava o empreendedorismo, sufoca a criatividade.

Um país tão rico e tão diverso acorrentado aos pés de um monstro criado na ditadura?

Nossa democracia, nossos filhos, merecem mais que isso.

Boa Páscoa a todos!



A guerra dos ricos contra os pobres

26 de Março de 2015, 7:03, por Daniel Miranda Soares

A guerra dos ricos contra os pobres

Eu não conseguia entender como uma coisa tão terrivelmente cruel como a ditadura militar pode se instalar no Brasil. Como um homem normal pode se tornar um torturador? Até o dia que eu fiz um curso de Fé e Política no Cepat em Curitiba e o professor explicou o seguinte:

No Brasil a industrialização aconteceu de forma muito rápida. Em pouco tempo os operários das grandes fábricas começaram a progredir e crescer. Eles tinham condições para sair da miséria.

Mas esta situação desagradou a muita gente, principalmente aos ricos. E isto foi uma das raízes da eclosão da ditadura militar: Ela veio para dar um golpe nos pobres para impedir e impossibilitar que eles possam crescer e sair da pobreza. Vocês lembram daquele discurso inflamado, que o Presidente eleito João Goulart fez alguns dias antes do golpe, pedindo e planejando uma reforma agrária ampla e outras reformas em benefício dos pobres ? Por esta coragem e visão de futuro ele pagou com a vida e o Brasil com a Ditadura.

Hoje eu vejo fenômenos parecidos. O governo Lula e Dilma conseguiu libertar muitos milhões de pobres das correntes da miséria. Eles começaram a crescer e é exatamente isto que não agrada aos ricos. Os ricos querem dar uma lição a estes pobres, para que eles voltem ao lugar deles. Ao meu ver esta onda de ódio agudo dos ricos contra o PT e aPresidenta Dilma tem a ver com esta situação. É novamente a guerra dos ricos contra os pobres.

Como nós vivemos em um país de religião majoritariamente cristã, os ricos não podem dizer abertamente que o governo não deveria ter ajudado os pobres. Este discurso não seria legal. Por isto eles precisam usar outros argumentos. Eles se agarraram à corrupção da Petrobrás, ao Mensalão e a outras falhas para acabar com o PT, não por indignação sincera e sentimento ético, mas por oportunismo e hipocrisia. Eles sabem muito bem que esta corrupção é uma praxe brasileira de décadas e séculos. Eles não ignoram que também cometeram este tipo de corrupção, igual ou até maior. Mas eles fazem um uso perverso da informação da corrupção alheia, como justificativa para acabar com o PT e para sangrar a Presidente Dilma, como disse certo deputado do partido oposicionista.

Não é somente no plano nacional que existe esta guerra dos ricos contra os pobres. No plano geopolítico acontece o mesmo. As nações ricas e poderosas, entre elas principalmente os Estados Unidos, não simpatizam com a libertação dos pobres, o crescimento e a autonomia dos países na América Latina. Eles tem medo da aliança do Brasil com os países socialistas como Cuba, Venezuela e os países andinos . Eles temem o poder emergente dos BRICS, onde o Brasil tem um papel importante. De muitas formas abertas como também ocultas, eles apoiam e incentivam um possível golpe contra o governo do Brasil. Não podemos esquecer que a América Latina tem uma história de golpes efetivados como também fracassados.

Enquanto durar esta guerra dos ricos contra os pobres, não existe solução. Enquanto a doença, que está na base dos sintomas, não estiver diagnosticada e tratada, a história sempre se repetirá. “Até quando durará esta tragédia?” escreveu o grande humanista francês Abbé Pierre (1912 – 2007) em seu último livro (Mon Dieu ... pourquoi ? Editora Plon, 2005)

A única saída está em uma educação para a Ética. O professor de Ética suíço Thomas Groebly é autor de um livro com o título: “ O futuro será ético, ou não existirá “ (Die Zukunft ist ethisch – oder gar nicht, Editora Waldvogel, 2010)

 



Um outro olhar sobre a crise : os bilionários americanos corrompem a política

21 de Fevereiro de 2015, 11:46, por Daniel Miranda Soares

(Artigo revisado e ampliado, originalmente publicado no endereço: http://www.diariodoaco.com.br/noticia/90445-7/opiniao/um-outro-olhar-da-crise-os-bilionarios-americanos-corrompem-a-politica.     Diário do Aço, 18/02/2015. ).


       Pouca gente viu os excelentes documentários da série “Porque Pobreza?” que são exibidos em canais de TV educativos. Um deles é “Park Avenue: Dinheiro, Poder e o Sonho Americano” realizado pelo jornalista Alex Gibney, que analisa com cuidado as relações entre os novos ricos e os novos pobres nos EUA nos últimos 30 anos, tomando como modelo a rua Park Avenue. A rua passa por Manhattan onde ficam os prédios mais luxuosos de Nova York e onde moram bilionários detentores de fortunas financeiras, dos barões das falcatruas aos controladores de fundos de investimentos.  Do outro lado da rua, ao sul do Bronx, fica o distrito eleitoral mais pobre dos EUA com 700 mil pessoas - destas cerca de 40% vivem na pobreza. Aqui, os últimos 30 anos foram bem diferentes do que se viu no Park Avenue de Manhattan. As pessoas viram seus salários diminuirem e o custo de quase tudo chegar às alturas. Eles perderam seus empregos durante a recessão causada pelos banqueiros do outro lado do rio. E acabaram em situação ainda pior do que a geração passada. Neste distrito o desemprego chega a 19%  e algumas famílias tem dificuldades até para por comida na mesa.
       É muito difícil de sair da extrema pobreza nos EUA. Isto quase nunca acontece. Isto é exatamente o oposto do que as pessoas pensam sobre os EUA - a terra das oportunidades. Para Jeffrey Sachs (prof. da Columbia) quando ele era jovem os EUA se orgulhavam de serem uma nação de cidadãos de classe média, com um pequeno grupo de ricos e um pequeno grupo de pobres. Mas nos últimos 30 anos esta relação se inverteu:  a receita pública era divida igualmente entre todos no gráfico 1947-1972 (1% aos super ricos ,10% ricos e 90% destinada ao americano médio). A partir do final dos anos 70, os 90% que estavam na base viram sua pizza ser totalmente devorada pelos 1% do topo - os mais ricos estão ficando com um percentual enorme de todos os ganhos da economia : cerca de 2/3  com os super-ricos, os ricos cerca de 1/3 e a classe média ficando com a menor parte, perto de 1% - invertendo as posições.
       Michael Gross (autor do livro “740 Park Avenue...”) diz que um pequeno grupo de multibilionários, os 1% dos 1% que moram em pouquíssimos lugares em N.York. Entre os prédios mais luxuosos de NY, o nº 740 da Park Avenue moram mais bilionários do que em qualquer outro prédio do mundo. São 31 moradores e cada apartamento tem cerca de 1860m². A maior parte destes são executivos de hedge fund. Dentre os principais moradores encontramos: John Thain (CEO na época da derrocada Merril Lynch); Ezra Merkin que trabalhou para Bernie Madoff; David Koch (o mais rico do prédio) ; Steve Schwartzman (foi executivo do Lehman Brothers); entre outros.
      O prof. Jacob Hacker (cientista político da Univ. de Yale) afirma que a gigantesca acumulação de riqueza não tem a ver só com o trabalho , mas com os ricos  que usam o sistema político a favor deles. Houve um ciclo que reforçou isso. Eles investiram em políticas que os favoreceram e ainda reinvestiram esse dinheiro na política. Para entender até que ponto o dinheiro influencia Washington, Gibney contatou o símbolo máximo da corrupção - o ex-lobista Jack Abramoff (ficou 4 anos na cadeia), que diz : “.... hoje os congressistas usam os serviços dos lobistas para redigirem os projetos de lei no esboço exato do que eles querem e isso envolve pagamento em dinheiro. As campanhas políticas custam milhões e quem tem dinheiro pede algo em troca. ... Eu fazia assim e eu sei o que fazia” -  afirma o ex-lobista.
       Mas quando tudo isso começou ? Quando os ricos começaram a controlar Washington ? Segundo o prof. Hacker de Yale tudo tem a ver com a mobilização dos empresários que ocorreu nos anos 70.  Os empresários seguiram os conselhos do futuro juiz da Suprema Corte, Lewis Powell que fez um memorando muito convincente para a Câmara do Comércio determinando que os empresários se unissem, basicamente contra os reformistas e o poder político dos trabalhadores e líderes de massa como Ralph Nader. Ele pediu que as grandes corporações se esforçassem mais para moldar a política americana e as leis. E os empresários o atenderam. O poder lobista dos empresários cresceu vertiginosamente a partir dos anos 70  Eles investiram quantias enormes na política. O resultado foi o fim das políticas que beneficavam as classes médias e os pobres dando início às políticas a favor dos ricos. O lobby era uma indústria de US$400 milhões nos anos 80  e hoje é uma indústria de $4 bilhões.  
      Jeffrey Sachs (prof. da Columbia) : “Um exemplo da influência que os bilionários podem ter no governo é algo no código tributário chamado de “provisão de juros transitados”. Operadores de hedge fund e  private equity como Schwartzman pagam 15% de impostos sobre sua renda.... os empresários mais ricos são taxados em um percentual menor do que o mercadinho da esquina”. Os democratas tentaram acabar com estes juros, mas não conseguiram. Por quê ? A influência dos bilionários corromperam também os democratas: esse é o exemplo perfeito de como o dinheiro manda na política americana hoje em dia.
      E nenhum dinheiro manda tanto quanto o de David Koch e seu irmão Charles. Esse magnata de direita é o morador mais rico do Park Avenue 740. Juntos, eles influenciam a política americana mais que qualquer outra pessoa. Doaram milhões a grupos de reflexão de direita (CATO Institute, Ayn Rand Institute, Capital Research Center, Mercatus Center,  etc.)  Financiaram Universidades, programas que promovessem a desregulamentação. Para eles o modelo ideal é um mercado livre de impostos - o supra sumo do paraíso em sociedade. Ofereceram grande apoio financeiro ao movimento Tea Party. que divulga muito as idéias de Ayn Rand que disse em 1959: “eu me oponho a todas as formas de controle, sou a favor de uma economia livre e sem regulamentações”. No mundo de Rand quem precisa de ajuda é um vagabundo ou um parasita. Quem quer ajudar os outros é um vilão. Seus heróis tem orgulho de serem os mais egoístas possíveis. Perguntaram a Ayn Rand : “você não gosta do mundo altruísta em que vivemos” ? Resposta: “dizer que não gosto é pouco, eu o considero um mal”. Para eles ser ganancioso é bom, o individualismo é prioridade em relação aos interesses da coletividade. Eles não aceitam a idéia de que se você é pobre e sua educação é ruim, você não tem a mesma oportunidade de competir que os ricos. Parece que os ideais da direita americana foram copiados pela direita brasileira - vide oposição que fizeram ao Bolsa Família, às cotas para universidades e a outros programas de distribuição de renda.
       Quase todos concordam que  educação é a chave para a  ascensão social, mas a universidade está cada vez mais inalcansável. O custo subiu mais de 500% desde 1980 - sem um diploma universitário é muito mais difícil conseguir trabalho. Com 12 milhões de americanos desempregados os programas de educação e treinamento estão sendo cortados por ambos os partidos em troca do corte de impostos para os ricos. Tim Smeeding (Instituto de Pesquisa e Pobreza) :  “1 em cada 7 americanos recebem vales-alimentação. Mais da metade são crianças e idosos: 41% deles moram em abrigos”. Como não conseguem emprego eles precisam da rede de proteção. Paul Ryan, estrela do Tea Party, quer cortar em 134 bilhões o programa de vale-alimentação nos próximos 10 anos - sem estes recursos a rede de proteção seria destruída - para ele a rede de proteção é uma rede de dormir. Ou seja, bolsa de ajuda para os pobres é Bolsa Vagabundagem como diz também a direita brasileira.
       Para Jeffrey Sachs: “Os impostos são o preço que pagamos pela civilização. Sem impostos não há civilização é simples assim....Os impostos pagos pelos milionários diminuíram mais de 25% nos últimos 20 anos. E para muitas pessoas extremamente ricas os impostos caíram quase 50%.” A maior parte começou no governo Bush. O corte de impostos aumentou a dívida pública americana (o corte de Bush acrescentou 2,9 trilhões) e com a proposta de Paul Ryan a dívida aumentaria para 4,6 trilhões nos próximos 10 anos. A concentração de renda aumentou nos EUA: os CEOs (altos executivos) ganhavam 20 vezes mais que um trabalhador comum em 1965; hoje eles ganham 231 vezes mais. Então, pergunta Gibney, o que está havendo ? Eles estão ganhando mais porque merecem ? O que é difícil de entender é na insistência dos ricos em cortar mais impostos já que eles possuem bem mais do que nós.  A riqueza é criada, mas a pobreza também, sem a democracia social todos os ganhos da economia vão para quem está no topo; enquanto nossos políticos dependerem do dinheiro dos ricos para se elegerem eles farão leis para proteger os castelos de riqueza do outro lado do rio....Um rio que se tornou um fosso profundo e proibido.

Daniel Miranda Soares é economista, Msc; ex-professor universitário.



Para entender a crise econômica mundial e a bolha especulativa

10 de Janeiro de 2015, 9:27, por Daniel Miranda Soares


09/01/2015 - 16h59  Diário do Aço
 O ABC DA CRISE ECONÔMICA MUNDIAL
Daniel Miranda Soares
 (artigo revisado, publicado originalmente no jornal Diário do Aço, no endereço : http://www.diariodoaco.com.br/noticia/89046-7/opiniao/o-abc-da-crise-economica-mundial )

 
David Harvey, formado pela Universidade de Cambridge, de orientação marxista  é professor da Universidade da Cidade de Nova York e um dos principais nomes da Geografia Humana contemporânea, tendo sido agraciado em 1995 com o Prêmio Vautrin Lud, o Nobel da Geografia. Publicou "Para entender o Capital: Livro I" e "Para entender o Capital: Livro II e III", traduzidos em português. Segundo Harvey as origens da crise atual do sistema capitalista tem início nos anos 1970. Para os capitalistas o problema era que os salários dos trabalhadores do Primeiro Mundo estavam relativamente muito elevados. Portanto para eles a grande questão era o controle do trabalho, da oferta de trabalho.


Porque estavam muito elevados? A força de trabalho era muito organizada, tinham poder sindical e tinham poder político e exerciam esse poder através dos partidos políticos. O capital “precisava” disciplinar essa força de trabalho. Para Harvey essa disciplina foi feita de diferentes maneiras: mudanças tecnológicas, globalização e imigração. No início eles acharam que poderiam resolver o problema através da imigração - então abriram suas portas aos imigrantes - os franceses com a entrada de trabalhadores magrebinos; os alemães com a entrada dos turcos; os ingleses com o povo de suas ex-colônias e nos EUA com uma enorme reforma na lei de imigração em 1965 que permitiu que pessoas do mundo todo fossem para o país. Pensavam que com o aumento da oferta interna do trabalho os salários cairiam. Mas não foi o suficiente.

Aí vem a globalização a partir dos anos 1980 quando a produção se transfere para diversas áreas do mundo emergente à procura de salários baixos. Assim boa parte do que era o centro do capitalismo acabou se desindustrializando: em boa parte dos EUA, a indústria desapareceu assim como na Inglaterra e na Alemanha. Ela foi deslocada. É um modelo de expansão geográfica muito diferente que se baseia nas expansões das multinacionais que continuam com suas sedes no Norte e estabelecem suas bases produtivas no Sul: China, Brasil, México, Taiwan, etc... Mas é uma globalização diferente da que aconteceu no século XIX quando os países centrais exportavam produtos industrializados para a periferia; agora a periferia se torna produtora destes bens industrializados em vários pontos ao redor do mundo.


Quanto às mudanças tecnológicas - houve muitas e significativas mudanças - nos anos 1970 não havia laptops, celulares, computadores pessoais, internet, etc. Harvey afirma que as concepções mentais eram muito diferentes incluindo é claro, as sensibilidades políticas. Ele diz: “Nós nos preocupávamos muito mais com solidariedade social, essas coisas. Hoje somos muito mais individualistas. Nós nos tornamos indivíduos ao telefone, no computador. Tudo isso mudou e o dia a dia mudou radicalmente.”
 O mundo se tornou mais individualista e isso diminuiu o poder dos trabalhadores se organizarem. Portanto o novo regime que surgiu a partir de então - que podemos chamar de neoliberalismo - na década de 1980, Margaret Thatcher, Ronald Reagan, o general Pinochet entre outros colocaram um ponto final no poder político dos trabalhadores.    


Mas então como se caracteriza o neoliberalismo? Segundo Harvey, com o poder do capital financeiro. Ao reprimir trabalhadores e salários a participação dos salários na renda nacional caiu em quase todos os países (com exceção de alguns países da América do Sul no séc. XXI).  Nos EUA nos anos 1970 um chefe de executivo ganhava 30 vezes o salário de um empregado médio - agora eles ganham 350 vezes mais. A classe média diminuiu. O capitalismo prospera com a precarização do trabalho - mantendo salários baixos e aumentando os lucros - o resultado é um sistema que cria pobreza e também desemprego.


Então surge a questão: o que acontece com o mercado quando você retrai os salários? Nos EUA a resposta foi: “Dê crédito a eles”, deixe que comprem a crédito. Assim surgiu a economia do débito que é esse enorme negócio que os bancos entraram. As famílias americanas triplicaram suas dívidas em 30 anos. A queda na demanda causada pelos baixos salários foi compensada pelo aumento da dívida. Mas quando os salários caem e a dívida aumenta, em algum momento há o problema de como as pessoas pagarão a dívida.  

  
As famílias americanas já vinham se endividando ao longo dos anos 1990 e a partir de 1995 o mercado imobiliário voltou se expandir, assim como o endividamento - crédito ao consumidor e hipotecas. Com a crise de 2000-2001, do mercado de ações, o mercado imobiliário ganhou estímulos e se expandiu mais vigorosamente. As famílias, já endividadas, elevaram a contratação de empréstimos, fazendo novas hipotecas e adquirindo novas linhas de crédito.
A partir de 2003, com a intensificação da valorização dos imóveis e esgotamento dos clientes tradicionais, o crédito foi facilitado para as famílias sem histórico de crédito, sem emprego e sem renda - o subprime. Como os empréstimos subprime eram dificilmente liquidáveis, os bancos arquitetaram uma estratégia de securitização desses créditos. Para diluir o risco dessas operações duvidosas os bancos juntaram-nas e transformaram a massa daí resultante em derivativos negociáveis no mercado financeiro internacional, cujo valor era cinco vezes superior ao das dívidas originais.


Assim, criaram-se títulos negociáveis cujo lastro eram esses créditos "podres". Foi a negociação em enormes quantidades desses títulos que provocou o alastramento da crise, de origem estadunidense, para os principais bancos do mundo. Tais papéis, lastreados em quase nada, obtiveram o aval das agências internacionais de classificação de risco, obtendo chancela máxima - AAA - geralmente dados a títulos bem mais sólidos como os do tesouro americano.  Todos os bancos foram atingidos, porque todo o sistema financeiro estava interligado na multiplicação destes papéis. Quando os juros dispararam nos Estados Unidos - com a consequente queda do preço dos imóveis - houve inadimplência em massa. A mesma classe média detentora de tantas ações, teve seu patrimônio (imobiliário) depreciado e começou a não pagar as parcelas de hipoteca, levando as hipotecadoras a terem prejuízos vultosos.  

 
A empresta R$ 100.000 ao elemento B a uma taxa de juros de 1% ao mês; o B empresta ao C os mesmos R$ 100.000 a uma taxa de 2% ao mês, até aí A e B são credores de R$ 100 mil cada, totalizando R$ 200.000; C empresta os mesmíssimos R$ 100 mil a uma taxa de juros de 3% ao mês para D; até então, A, B e C são credores de R$ 100 mil cada, totalizando R$ 300 mil. Ou seja, todos eles são credores do mesmo capital. No exemplo colocado, houve a "geração" de R$200 mil virtuais a partir de R$ 100 mil reais. Puro capital fictício, sem lastro real, alavancagem multiplicada várias vezes de um valor original muito menor. Foi isso o que aconteceu com o mercado americano.


Em alguns casos a alavancagem chegava a 50 por 1. Quando os credores deixaram de pagar suas dívidas a coisa se propagou em massa atingindo todo o sistema financeiro em todo o mundo. Nos EUA cerca de 7 milhões de famílias  perderam seus imóveis ou cerca de 30 milhões de pessoas; foi um dos maiores movimentos de transferência de direitos de propriedade privada na história americana. A acumulação por espoliação - foi como tomar das pessoas seus bens de valor - também aconteceu na Espanha, Irlanda e Leste europeu (um milhão de pessoas perderam suas casas na Hungria). A crise se propaga com queda na demanda por bens, queda na produção, aumento do desemprego, queda de salários etc. aumentando o ciclo.   

      
Para Harvey nos últimos 30 anos o neoberalismo promoveu o capital financeiro, sob sua forma especulativa. Boa parte dos investimentos não foi para a produção, mas para ativos, papéis, ações e quotas de empresas, permitindo que se ganhe dinheiro jogando com o dinheiro.
A pressão em cima de empresas como Petrobrás, Cemig, Copasa e Sabesp é no sentido de abrir mais seu capital, aumentar dividendos aos acionistas, distribuindo mais lucros em vez de mais investimentos produtivos (deu certo para as últimas três). É emblemático a pressão que os neoliberais estão fazendo para abrir o capital da Caixa Econômica Federal (empresa 100% estatal com o menor juros da praça que gerencia programas sociais do governo). Imagine a pressão que vão fazer para distribuir todo o lucro do banco aos acionistas e deixar a empresa sem recursos para investimentos. É o que acontece  quando o sistema financeiro passa a dominar empresas de capital aberto. A Cemig ficou com poucos recursos para investir sucateando boa parte de seu patrimônio. A Sabesp distribuiu R$4 bilhões dos lucros aos acionistas e agora está pedindo R$3 bilhões ao governo federal. Promovendo a desregulamentação, ao invés de se dar uma retomada da expansão econômica, houve uma gigantesca transferência de capitais da esfera produtiva para a especulativa. Porque, como dizia Marx, o capital não está feito para produzir, mas para acumular. Se ele encontra melhores condições — maior retorno, menos tributação, liquidez total — ele se concentra na esfera financeira.


Daniel Miranda Soares. Economista, Msc. Ex-professor e EPPGG aposentado.