Eram 14h40 quando o presidente Jair Bolsonaro e sua equipe, todos usando máscaras, sentaram-se numa mesa para dar satisfações ao país sobre sua atuação para enfrentar o coronavírus. O mesmo presidente que saiu às ruas para cumprimentar e tocar em seus seguidores, justificou-se dizendo que ele sabia o risco que estava correndo, mas esqueceu-se de dizer dos riscos que as pessoas que estavam ali na rua, irresponsavelmente, também corriam.
Em sua fala, Bolsonaro ignorou também os momentos irresponsáveis em que tratou o coronavírus como “fantasia”, afirmando que ele “não era tudo isso aí”. Em seguida chamou um a um os membros de sua equipe para tentar demonstrar que o Brasil estava preocupado não é de hoje com o vírus que assola o mundo.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, tirou a máscara e mostrou-se humilde, falando de números e mais números, inclusive citando o Bolsa Família, implantado no governo Lula e tão criticado pela direita raivosa. Agora, o Bolsa Família vai ajudar a salvar vidas, oferecendo dinheiro aos mais necessitados para comprar arroz e feijão.
A seguir falou o diretor da Anvisa, Antonio Barra Torres. O ministro da Justiça, Sergio Moro, também sem máscara, falou de segurança. E vieram os outros, todos aparentando seriedade para dar a impressão de que o governo está atuando para enfrentar o vírus.
Bolsonaro, agora sem máscara, fez uma curta pausa dizendo que “a hora é de união” e deu a palavra ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, presente diariamente em todos os telejornais – talvez o que tenha mais a cabeça no lugar, apesar de fazer parte de um governo desnorteado. Mandetta começou a falar comparando a escalada do coronavírus com uma escalada ao Monte Everest. Num momento que parecia horário político, o ministro da Saúde elogiou o presidente da República por ter permitido a ele de montar uma equipe técnica dentro do Ministério.
Aí vieram as perguntas dos jornalistas, segundo o presidente “profissionais da imprensa”. A jornalista do Bloomberg perguntou sobre a “histeria” que ele anunciou. Bolsonaro, abatido e falando com calma, disse que “no início houve uma histeria”, mas agora “o problema é sério”. A pergunta do jornalista da CNN foi sobre o panelaço da noite de terça-feira em várias cidades brasileiras.
Bolsonaro, agora educado com os jornalistas que ele já chamou de “espécie em extinção”, disse que “faz parte da democracia”, mas ficou irritado com o Jornal Hoje da Rede Globo que exibiu as manifestações com detalhes, em cada bairro de São Paulo, do Rio e de outras cidades. Criticou igualmente o site da revista Veja porque “ambos não anunciaram que hoje à noite terá também um panelaço em favor do presidente Jair Bolsonaro”. O repórter da Record foi chamado e não estava presente. A repórter do Estadão, chamada por ele de “senhora Jussara”, perguntou pela participação do presidente nas manifestações. Ele, demagogicamente, disse que “longe de demagogia, na alegria e na tristeza eu estou sempre do lado do povo”. E completou afirmando que a “a mídia mentiu em dizer que eu estava contra o Congresso”. E chamou o Estadão de “glorioso Estado de S.Paulo”.
Delis Ortiz, da Rede Globo , depois de pedir desculpas se a pergunta iria incomodar o presidente, disse estranhar sua equipe de máscara na coletiva e quis saber se isso não é contraditório ao que ele vem dizendo sobre o coronavírus. E disse: “Ninguém conseguiria montar um ministério tão competente quanto o que ele montou”.
O penúltimo a falar foi o ministro Paulo Guedes que enrolou com números e cifras e ao final disse que alimenta a esperança de que a economia brasileira decole no segundo semestre.
O encerramento foi feito pelo presidente. Em um relambório pedestre, rasteiro, perdido entre o que havia dito antes e o que foi obrigado a dizer hoje, Bolsonaro não falou como um estadista, mas como um enfermeiro de farmácia recomendando o que a população deve fazer – lavar as mãos, isolar-se em casa – sem dizer o que seu governo faz ou fará.
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