Armar o cidadão de bem’s seria a solução para o problema da violência?
29 de Abril de 2014, 23:13Como em todo ano de eleição, pré-candidatos a cargos eletivos erguem a voz para assuntos polêmicos apelando para o senso comum na tentativa de angariar os votos daqueles menos interessados nas reais causas dos problemas e na busca por soluções mais sensatas para a solução destes problemas.
Depois dos justiciamentos populares defendidos em cadeia nacional de TV pela apresentadora Rachel Sheherazade do SBT e da repercussão de suas declarações, tenho quase certeza que os temas violência e o direito divino do cidadão de bem’s em se defender dos marginais, serão os principais assuntos da campanha eleitoral que se aproxima.
Ou melhor, se aproxima não, já está aí, a campanha eleitoral já está a todo vapor.
Nas minhas redes, sou diariamente bombardeado por uma campanha quase surreal. Alguns pretendentes ao cargo de deputado, já tem a solução para todos os problemas:
Pôr fim ao estatuto do desarmamento, lei nº 10826/2003
O estatuto do desarmamento não proíbe ninguém de ter uma arma. Desde quê, esta pessoa passe por uma série de exames de capacidade e sanidade mental e não tenha antecedentes criminais. A única exceção, é que o cidadão comum, civil, pode ter sua arma em casa, só não pode andar por aí, desfilando com ela na cintura.
Porém, para os proto-candidatos e gênios da segurança pública, se todo cidadão de bem’s tiver o direito divino de portar uma arma para sua defesa, toda a violência irá acabar, como se num passe de mágica.
Será mesmo?
Neste final de semana, na cidade de Santo André – SP, o médico Ricardo Seiti Assanome, foi até a delegacia do 2º Distrito Policial daquela cidade, apenas para registrar um boletim de ocorrência a respeito de um leve acidente de transito sem vítimas, feridos e apenas um pequeno prejuízo material (o B.O. serviria apenas para os trâmites do seguro do veículo do médico).
De repente, um susto. Um policial militar à paisana entrou correndo na delegacia.
No susto, o agente de telecomunicações da polícia civil, André Bordwell da Silva, achou que se tratava de um atentado, um ataque àquela delegacia. Sacou de sua arma e começou a distribuir tiros para todos os lados. Na confusão, o investigador de plantão ouviu os tiros, sacou sua arma e partiu para o ataque.
Não havia nenhum marginal na recepção da delegacia. Não se tratava de um ataque ou atentado e nenhuma vida corria qualquer tipo de risco. Foi só um susto, nada mais.
Este susto rendeu o disparo de nada menos que 30 projéteis e resultou em dois homens feridos e outro morto com um tiro na cabeça, o médico de 28 anos, Ricardo Seiti Assanome.
Uma tragédia, uma história absurda que desnuda todo o despreparo e o elevado nível de estresse que se encontram os agentes da polícia não só no ABC paulista como em quase todo o Brasil.
Ora, mas se agentes e investigadores da Polícia Civil, com toda sua experiência, treinamento e sangue frio, por causa de um susto disparam trinta vezes suas armas, que fará então, o cidadão de bem’s quando armado e numa situação de estresse?
Num acidente de transito, uma amassadinha no paralamas vai render seis pipocos na cabeça do motorista imprudente?
Numa caminhada noturna, a presença de algum elemento suspeito caminhado atrás ou na direção do cidadão de bem’s será suficiente para justificar uma série de disparos a esmo que podem ferir ou matar sei lá quantos?
Numa discussão de bar, a última palavra e a razão será definida por aquele cidadão de bem’s com o saque mais rápido?
Mais uma infinidade de outras situações que inevitavelmente terminarão em tragédias.
Eu aqui, polaco e completamente doido, não entendo lhufas de segurança pública, mas já andei armado pala rua e sei que, quando se está armado você é muito mais confiante, você não sente medo e, com o sangue quente, você nem mede as conseqüências de seus atos.
Armar a população de bem’s não é a solução, ao contrário, só vai agravar ainda mais o problema.
Arrisco até em afirmar que o problema está nas próprias polícias civil e militar que deixaram de servir e proteger a vida humana e passaram a servir proteger o patrimônio e o capital dos homens de bem’s. O problema está também no sistema que deixou de lado as medidas de prevenção e só tem olhos para as medidas de punição.
Sendo assim, se armar para quê?
Para proteger seu iPhone do ladrãozinho viciado em crack?
O que é mais valioso. Seu iPhone de R$ 3 mil ou sua vida, ou a vida do viciado que pretende trocar seu iPhone por uma dúzia de pedras de crack?
Pois é. Soluções mágicas e mirabolantes são mesmo fascinantes.
Pena que estas soluções mirabolantes e fascinantes escondem debaixo do tapete do senso crítico individual toda e qualquer possível solução para o problema.
A violência endêmica não é o verdadeiro problema. A violência endêmica é apenas o efeito do problema.
Mas quem dos especialistas em segurança pública terá a coragem para apontar e propor soluções para a verdadeira causa do problema da violência endêmica?
A absolvição dos envolvidos no caso do helicóptero do pó já nos dá a dica. Do jeitão que está, tudo tende a piorar.
Polaco Doido
Armar o cidadão de bem’s seria a solução para o problema da violência?
29 de Abril de 2014, 20:13 - sem comentários aindaComo em todo ano de eleição, pré-candidatos a cargos eletivos erguem a voz para assuntos polêmicos apelando para o senso comum na tentativa de angariar os votos daqueles menos interessados nas reais causas dos problemas e na busca por soluções mais sensatas para a solução destes problemas.
Depois dos justiciamentos populares defendidos em cadeia nacional de TV pela apresentadora Rachel Sheherazade do SBT e da repercussão de suas declarações, tenho quase certeza que os temas violência e o direito divino do cidadão de bem’s em se defender dos marginais, serão os principais assuntos da campanha eleitoral que se aproxima.
Ou melhor, se aproxima não, já está aí, a campanha eleitoral já está a todo vapor.
Nas minhas redes, sou diariamente bombardeado por uma campanha quase surreal. Alguns pretendentes ao cargo de deputado, já tem a solução para todos os problemas:
Pôr fim ao estatuto do desarmamento, lei nº 10826/2003
O estatuto do desarmamento não proíbe ninguém de ter uma arma. Desde quê, esta pessoa passe por uma série de exames de capacidade e sanidade mental e não tenha antecedentes criminais. A única exceção, é que o cidadão comum, civil, pode ter sua arma em casa, só não pode andar por aí, desfilando com ela na cintura.
Porém, para os proto-candidatos e gênios da segurança pública, se todo cidadão de bem’s tiver o direito divino de portar uma arma para sua defesa, toda a violência irá acabar, como se num passe de mágica.
Será mesmo?
Neste final de semana, na cidade de Santo André – SP, o médico Ricardo Seiti Assanome, foi até a delegacia do 2º Distrito Policial daquela cidade, apenas para registrar um boletim de ocorrência a respeito de um leve acidente de transito sem vítimas, feridos e apenas um pequeno prejuízo material (o B.O. serviria apenas para os trâmites do seguro do veículo do médico).
De repente, um susto. Um policial militar à paisana entrou correndo na delegacia.
No susto, o agente de telecomunicações da polícia civil, André Bordwell da Silva, achou que se tratava de um atentado, um ataque àquela delegacia. Sacou de sua arma e começou a distribuir tiros para todos os lados. Na confusão, o investigador de plantão ouviu os tiros, sacou sua arma e partiu para o ataque.
Não havia nenhum marginal na recepção da delegacia. Não se tratava de um ataque ou atentado e nenhuma vida corria qualquer tipo de risco. Foi só um susto, nada mais.
Este susto rendeu o disparo de nada menos que 30 projéteis e resultou em dois homens feridos e outro morto com um tiro na cabeça, o médico de 28 anos, Ricardo Seiti Assanome.
Uma tragédia, uma história absurda que desnuda todo o despreparo e o elevado nível de estresse que se encontram os agentes da polícia não só no ABC paulista como em quase todo o Brasil.
Ora, mas se agentes e investigadores da Polícia Civil, com toda sua experiência, treinamento e sangue frio, por causa de um susto disparam trinta vezes suas armas, que fará então, o cidadão de bem’s quando armado e numa situação de estresse?
Num acidente de transito, uma amassadinha no paralamas vai render seis pipocos na cabeça do motorista imprudente?
Numa caminhada noturna, a presença de algum elemento suspeito caminhado atrás ou na direção do cidadão de bem’s será suficiente para justificar uma série de disparos a esmo que podem ferir ou matar sei lá quantos?
Numa discussão de bar, a última palavra e a razão será definida por aquele cidadão de bem’s com o saque mais rápido?
Mais uma infinidade de outras situações que inevitavelmente terminarão em tragédias.
Eu aqui, polaco e completamente doido, não entendo lhufas de segurança pública, mas já andei armado pala rua e sei que, quando se está armado você é muito mais confiante, você não sente medo e, com o sangue quente, você nem mede as conseqüências de seus atos.
Armar a população de bem’s não é a solução, ao contrário, só vai agravar ainda mais o problema.
Arrisco até em afirmar que o problema está nas próprias polícias civil e militar que deixaram de servir e proteger a vida humana e passaram a servir proteger o patrimônio e o capital dos homens de bem’s. O problema está também no sistema que deixou de lado as medidas de prevenção e só tem olhos para as medidas de punição.
Sendo assim, se armar para quê?
Para proteger seu iPhone do ladrãozinho viciado em crack?
O que é mais valioso. Seu iPhone de R$ 3 mil ou sua vida, ou a vida do viciado que pretende trocar seu iPhone por uma dúzia de pedras de crack?
Pois é. Soluções mágicas e mirabolantes são mesmo fascinantes.
Pena que estas soluções mirabolantes e fascinantes escondem debaixo do tapete do senso crítico individual toda e qualquer possível solução para o problema.
A violência endêmica não é o verdadeiro problema. A violência endêmica é apenas o efeito do problema.
Mas quem dos especialistas em segurança pública terá a coragem para apontar e propor soluções para a verdadeira causa do problema da violência endêmica?
A absolvição dos envolvidos no caso do helicóptero do pó já nos dá a dica. Do jeitão que está, tudo tende a piorar.
Polaco Doido
Aramar o cidadão de bem’s seria a solução para o problema da violência?
29 de Abril de 2014, 20:13 - sem comentários aindaComo em todo ano de eleição, pré-candidatos a cargos eletivos erguem a voz para assuntos polêmicos apelando para o senso comum na tentativa de angariar os votos daqueles menos interessados nas reais causas dos problemas e na busca por soluções mais sensatas para a solução destes problemas.
Depois dos justiciamentos populares defendidos em cadeia nacional de TV pela apresentadora Rachel Sheherazade do SBT e da repercussão de suas declarações, tenho quase certeza que os temas violência e o direito divino do cidadão de bem’s em se defender dos marginais, serão os principais assuntos da campanha eleitoral que se aproxima.
Ou melhor, se aproxima não, já está aí, a campanha eleitoral já está a todo vapor.
Nas minhas redes, sou diariamente bombardeado por uma campanha quase surreal. Alguns pretendentes ao cargo de deputado, já tem a solução para todos os problemas:
Pôr fim ao estatuto do desarmamento, lei nº 10826/2003
O estatuto do desarmamento não proíbe ninguém de ter uma arma. Desde quê, esta pessoa passe por uma série de exames de capacidade e sanidade mental e não tenha antecedentes criminais. A única exceção, é que o cidadão comum, civil, pode ter sua arma em casa, só não pode andar por aí, desfilando com ela na cintura.
Porém, para os proto-candidatos e gênios da segurança pública, se todo cidadão de bem’s tiver o direito divino de portar uma arma para sua defesa, toda a violência irá acabar, como se num passe de mágica.
Será mesmo?
Neste final de semana, na cidade de Santo André – SP, o médico Ricardo Seiti Assanome, foi até a delegacia do 2º Distrito Policial daquela cidade, apenas para registrar um boletim de ocorrência a respeito de um leve acidente de transito sem vítimas, feridos e apenas um pequeno prejuízo material (o B.O. serviria apenas para os trâmites do seguro do veículo do médico).
De repente, um susto. Um policial militar à paisana entrou correndo na delegacia.
No susto, o agente de telecomunicações da polícia civil, André Bordwell da Silva, achou que se tratava de um atentado, um ataque àquela delegacia. Sacou de sua arma e começou a distribuir tiros para todos os lados. Na confusão, o investigador de plantão ouviu os tiros, sacou sua arma e partiu para o ataque.
Não havia nenhum marginal na recepção da delegacia. Não se tratava de um ataque ou atentado e nenhuma vida corria qualquer tipo de risco. Foi só um susto, nada mais.
Este susto rendeu o disparo de nada menos que 30 projéteis e resultou em dois homens feridos e outro morto com um tiro na cabeça, o médico de 28 anos, Ricardo Seiti Assanome.
Uma tragédia, uma história absurda que desnuda todo o despreparo e o elevado nível de estresse que se encontram os agentes da polícia não só no ABC paulista como em quase todo o Brasil.
Ora, mas se agentes e investigadores da Polícia Civil, com toda sua experiência, treinamento e sangue frio, por causa de um susto disparam trinta vezes suas armas, que fará então, o cidadão de bem’s quando armado e numa situação de estresse?
Num acidente de transito, uma amassadinha no paralamas vai render seis pipocos na cabeça do motorista imprudente?
Numa caminhada noturna, a presença de algum elemento suspeito caminhado atrás ou na direção do cidadão de bem’s será suficiente para justificar uma série de disparos a esmo que podem ferir ou matar sei lá quantos?
Numa discussão de bar, a última palavra e a razão será definida por aquele cidadão de bem’s com o saque mais rápido?
Mais uma infinidade de outras situações que inevitavelmente terminarão em tragédias.
Eu aqui, polaco e completamente doido, não entendo lhufas de segurança pública, mas já andei armado pala rua e sei que, quando se está armado você é muito mais confiante, você não sente medo e, com o sangue quente, você nem mede as conseqüências de seus atos.
Armar a população de bem’s não é a solução, ao contrário, só vai agravar ainda mais o problema.
Arrisco até em afirmar que o problema está nas próprias polícias civil e militar que deixaram de servir e proteger a vida humana e passaram a servir proteger o patrimônio e o capital dos homens de bem’s. O problema está também no sistema que deixou de lado as medidas de prevenção e só tem olhos para as medidas de punição.
Sendo assim, se armar para quê?
Para proteger seu iPhone do ladrãozinho viciado em crack?
O que é mais valioso. Seu iPhone de R$ 3 mil ou sua vida, ou a vida do viciado que pretende trocar seu iPhone por uma dúzia de pedras de crack?
Pois é. Soluções mágicas e mirabolantes são mesmo fascinantes.
Pena que estas soluções mirabolantes e fascinantes escondem debaixo do tapete do senso crítico individual toda e qualquer possível solução para o problema.
A violência endêmica não é o verdadeiro problema. A violência endêmica é apenas o efeito do problema.
Mas quem dos especialistas em segurança pública terá a coragem para apontar e propor soluções para a verdadeira causa do problema da violência endêmica?
A absolvição dos envolvidos no caso do helicóptero do pó já nos dá a dica. Do jeitão que está, tudo tende a piorar.
Polaco Doido
Por um movimento social menos ideológico 3: o movimento e seus ideários
27 de Abril de 2014, 20:48 - sem comentários ainda
[1]Uma pesquisa realizada em dois congressos estudantis, sendo um deles o 46.º CONUNE (Congresso da União Nacional dos Estudantes) ocorrido em Belo Horizonte em 1999 e outra no CONEA (Congresso Nacional dos Estudantes de Agronomia) ocorrido em Pelotas (Rs) em setembro deste mesmo ano procurou saber como andava a organização e estrutura do movimento estudantil. A escolha do CONUNE foi feita porque ele foi considerado um ponto onde os diversos grupos se manifestam e marcam seu campo político e reivindicações, mas acima de tudo um local onde a experiência coletiva se consolida e procura mudar seus métodos ou continuar como está. A pesquisa delimitou quatro campos extraídos a partir das entrevistas e pesquisa participante para sua exposição: A) O movimento estudantil e os estudantes B) O movimento estudantil e os partidos políticos C)O movimento estudantil e seus ideários D) O surgimento de novas linguagens e práticas emergentes em seu interior. . No primeiro texto da série “Por um movimento social menos ideológico” tratou-se do item A dizendo das falhas do movimento em relação a sua institucionalização e de formas de atuação antigas. O segundo texto “Por um movimento social menos ideológico 2: o movimento e o partido” tratou do envolvimento dos partidos e nesse terceiro vamos tratar do item C, isto é, a função da ideologia.
A pesquisa detectou o movimento estudantil com ideários classistas, transclassistas, alguns mais gerais e até pautas setorizadas, uma mistura de diferentes estratégias e concepções. Ainda assim as questões convergem para três principais: a) reestruturação da entidade b)ampliação das temáticas com lutas amplas mas setorizadas e c)lutas pela educação, de forma mais forte a defesa das universidades, contra o neoliberalismo procurando resgatar aspetos clássicos e históricos do movimento estudantil sendo esse tripé, um ideal, um modelo. Na prática ou uma das dimensões é privilegiada ou se intercruzam a partir das necessidades e assim alguns conflitos podem ocorrer nesse processo de disputa e encaminhamento das pautas, mas a metodologia de cada grupo ainda é mais conflitante. Quando perguntados sobre as prioridades do movimento estudantil a maioria pautou a defesa da educação e mais especificamente as universidades sabendo da crise a qual passava na época a universidade pública aliado a uma luta contra uma política econômica que gera carência de saúde, educação e menos qualidade de vida.
Isso se justifica sobre a perda do sentimento de “coisa pública” e os estudantes sentiam na pele o sucateamento das universidades e sabiam de sua importância para a soberania nacional, sendo pouco incluída nos discursos as universidades privadas, sendo um discurso que se repete independendo a orientação partidária e a dinâmica de cada tendência. É uma reivindicação de uma universidade de fato pública, gratuita, de qualidade e democrática.[2] Algo comum aos discursos também é a redemocratização das instituições estudantis, luta contra o neoliberalismo. A independência da UNE vem como um caminho para a defesa dos interesses da juventude, para uma aproximação maior da vulnerabilidade e os enfrentamentos sofridos devido a falta de políticas públicas, em suma, a luta por uma política para a juventude. Esse acabou sendo o tema de aproximação de questões mais gerais.
Durante os debates houveram muitos comentários sobre o conceito de política pública, e a idéia da criação de política de participação pública marca a diferença entre o caráter propositivo do presente e reivindicatório do passado, como a proposta de fóruns de participação, conselhos e comissões onde a juventude se represente. Os tempos diferem dos anos 60 em que um diploma era algo da classe média, e agora trabalho e qualificação são necessários para a não exclusão de jovens inseridos num ensino mais democratizado mas não adaptado a falta de mobilidade social causada pelo neoliberalismo. Muitos dos estudantes vêem que é preciso um enfrentamento ao governo federal feito por uma ação mobilizadora como a única forma de romper a estrutura social dominante e capitalista e também a ampliação dos canais de participação. É possível afirmar o crescimento de uma consciência da interligação entre vários grupos juvenis e políticas de juventude que integrem as necessidades dos vários setores, pautada inclusive em termos de oportunidade ou sua falta para os vários grupos juvenis. Ainda assim procura-se uma causa comum como na década de 90- “fora Collor”.
Essa atualmente seria o fora FMI que apesar de ser aceita por todas as tendências de esquerda descontenta os anarquistas e libertários pela maneira como a questão é encaminhada. Tudo isso esbarra no problema da forma tradicional de atuação comentada no texto 1 “Por um movimento social menos ideológico- o estudante e o movimento” que não leva a prática mas fica na retórica e nem cria calendário de como os estudantes podem interferir na questão. Ficou claro na pesquisa um projeto não muito claro e incapaz de trazer uma solução, além de uma pluralidade de visões e ideários no movimento que causam tensões no campo político onde os vários grupos negociam as demandas e estratégias para ação.
Pensando através da pesquisa acima eu concluo uma nova função da ideologia. Na forma tradicional a ideologia serve como guia, referencial e objetivo do movimento. Cada grupo ideológico com sua instituição, partido representante (se houver) e sua ideologia tem objetivos diferentes e modos diferentes de ver o mundo, portanto por um lado a ideologia é responsável pela união entre os membros do grupo, proximidade entre certos grupos mas principalmente o afastamento entre alguns. Seja qual for a ideologia, proponho uma nova função a ela. Significa que ela vai perder a força atual que tem, mas não que vá deixar de ser necessária. Relego sua função como guia, referencial, e objetivo do movimento. Para min ela deve ser o motor que mantém o militante em movimento, que não o deixa perecer apesar das dificuldades, mas nada além disso. A ideologia pode ir de um simples pensamento de onde chegar, a simples noção que a luta é em longo prazo ou uma ideologia formal como anarquismo, comunismo, etc... mas se cumprir tal função cumpriu seu papel. A proposta então é um movimento multireferenciado que não nega as diferenças e as considera positiva. Um movimento que não polariza o diferente, mas busca suas qualidades para uma completa melhora do movimento. O que todos devem ter em comum é o objetivo. Dessa forma favorece-se a união do movimento sem sua homogeneização, mas que precisa de ou gera uma desinstitucionalização. Isso pôde ser visto na pratica nas manifestações de julho ainda que não de forma organizada e com vários objetivos, na reunião dos blogueiros com Lula que foi capaz de incomodar a grande organização Globo [4] e suponhamos a causa meio passe estudantil universitário, é algo que todos os grupos de movimento estudantil querem. A pesquisa confirmou a falta da clareza de um objetivo comum no movimento, não sendo algo fácil de construir, mas uma construção social que gera ou é gerada pela desinstitucionalização. A pergunta que fica é: como todos os referenciais podem ajudar no alcance de um mesmo objetivo e como ele pode ser construído?
Lembrem-se de referenciar a fonte caso utilizem algo deste blog. Dúvidas, comentários, complementações? Deixe nos comentários.
Escrito por: Rafael Pisani
Observação: No servidor anterior foi postado no dia 21/04/2014 as 14:16. Nesse servido foram feitas as seguintes alterações:
1. Substituição de “meio passe estudantil universitária” por “meio passe estudantil universitário”.
Referencias:
Marcos Ribeiro Mesquita, « Movimento estudantil brasileiro: Práticas militantes na ótica dos Novos Movimentos Sociais », Revista Crítica de Ciências Sociais [Online], 66 | 2003, colocado online no dia 01 Agosto 2012, criado a 28 Março 2014. URL : http://rccs.revues.org/1151 ; DOI : 10.4000/rccs.1151
Disponível em: http://blogoosfero.cc/blog-do-miro/blog/a-globo-e-a-entrevista-dos-camaradas Miguel do Rosário/ http://blogoosfero.cc/blog-do-miro . Data de acesso: 20 de abril de 2014
Disponível em: http://www.vermelho.org.br/radio/noticia/240396-331
Ramon de Castro/ http://www.vermelho.org.br . Data de acesso: 20 de abril de 2014
Disponível em: http://www.viomundo.com.br/opiniao-do-blog/entrevista-de-lula-a-blogueiros-zero-hora-mente-e-omite-informacoes-de-seus-leitores.html Luiz Carlos Azenha/ http://www.viomundo.com.br . Data de acesso: 20 de abril de 2014
[1] Todo o texto tem como fonte a única referencia que está na lista, os comentários que forem do presente autor serão demarcados com uma nota de rodapé.
Por um movimento social menos ideológico 2: o partido e o movimento
27 de Abril de 2014, 20:41 - sem comentários ainda
[1]Uma pesquisa realizada em dois congressos estudantis, sendo um deles o 46.º CONUNE (Congresso da União Nacional dos Estudantes) ocorrido em Belo Horizonte em 1999 e outra no CONEA (Congresso Nacional dos Estudantes de Agronomia) ocorrido em Pelotas (Rs) em setembro deste mesmo ano procurou saber como andava a organização e estrutura do movimento estudantil. A escolha do CONUNE foi feita porque ele foi considerado um ponto onde os diversos grupos se manifestam e marcam seu campo político e reivindicações, mas acima de tudo um local onde a experiência coletiva se consolida e procura mudar seus métodos ou continuar como está. A pesquisa delimitou quatro campos extraídos a partir das entrevistas e pesquisa participante para sua exposição: A) O movimento estudantil e os estudantes B) O movimento estudantil e os partidos políticos C)O movimento estudantil e seus ideários D) O surgimento de novas linguagens e práticas emergentes em seu interior. . No primeiro texto da série “Por um movimento social menos ideológico” tratou-se do item A dizendo das falhas do movimento em relação a sua institucionalização e de formas de atuação antigas. Ainda assim não é uma institucionalização qualquer, mas sim uma que envolve os partidos, e é disso que o segundo texto vai tratar, isto é, o item B e na próxima semana o item C.
Na pesquisa constatou-se que para os entrevistados existe uma forte relação dos partidos com o movimento, partidos esses que imprimem sua visão de mundo, estratégias, ideário e proposta de sociedade em maioria de esquerda, sendo para muitos estudantes militantes uma das maiores barreiras para a efetiva representação de entidades/estudantes. A tendência majoritária da UNE no 46.º CONUNE apostou em unir forças políticas com o slogan “A UNE é união, não é partido não” buscando um movimento estudantil unitário e apartidario e essa idéia pôde ser vista em vários dos cartazes e faixas dispostos no congresso. Muitas vezes o tema em uma roda de discussão do congresso é comunicação e muitos vem falar de partidos, sendo que não deveria ser aquele o tema segundo uma militante da UJS/PC do B, ainda assim em militantes de outros grupos não é um discurso que aparece dessa forma. Na pesquisa foi preciso entender a unidade do movimento através da visão que cada tendência tem do conceito, que ainda como uma questão pertinente não pode acabar com o espaço para manifestação de diferenças. Em muitos discursos, no entanto, o tema aparece de forma ambígua, isto é, ainda que apartidarista vem mediado por uma tendência mantida por um partido. É necessário que exista para se manter enquanto grupo político e defende em vários momentos a importância do partido para organização dos estudantes dentro do movimento, portanto deixa de ser um discurso “neutro”.
Se o discurso então é ambíguo isso mostra que as entidades estudantis se desgastaram e houve uma reação à excessiva partidarização, e nesse sentido entre os meios menos institucionalizados a lógica apartidarista é mais aceita, sendo isso tudo efeitos da influencia dos partidos. Ainda que com tanta variação o discurso das diversas teses até mesmo das tendências mais tradicionais procuram amenizar a influencia partidária e a cultura criada e conservada por ela, apesar de não significar extinção do partido como orientador do movimento. Os entrevistados entendem a existência de conflitos que demarcam a fronteira movimento/partido, mas não vêem isso como um problema, mas como uma entidade que organiza, orienta e estimula os estudantes e a critica vem ao aparelhamento da entidade pelos partidos, havendo inclusive considerações de que só há linha organizada no movimento se houver partido. Discute-se nesse sentido que se a entidade se torna aparelho de um partido então vira uma extensão desse, aderindo suas visões de mundo e agenda demonstrando a falta de uma agenda clara da própria entidade e desconsideração inclusive da própria educação e universidade.
Existe uma “instrumentalização da entidade” e os entrevistados admitem que politizam, orientam, criam autonomia no pensar mas a cultura partidária no movimento estudantil Brasileiro é tamanha que imprime lógica própria abafando e sobrepondo iniciativas criativas feitas pelos estudantes e de alguma forma paralisa o movimento e limita a intervenção estudantil. Pode ser considerado uma profissionalização da política e um espírito vanguardista que leva ao tentar convencer as pessoas, por partir de uma compreensão hierarquizada dos fatos. Bordieau afirma que quanto maior a tendência de profissionalizar a política e burocratizar o partido a competição inicial é de quem toma poder sobre o aparelho e esses representarão os simples laicos, o monopólio da elaboração está mais reservado aos profissionais.[2]
O que então dizer sobre a influência dos partidos no movimento?
Percebe-se que enquanto instituição aparelhada o movimento estudantil se torna um braço do partido correspondente, levando a frente então seus objetivos, ideários, visão de mundo excluindo assim pessoas que não pertencem aquele partido ou estudantes que não fazer parte de partido algum. Muitos dos entrevistados na pesquisa consideraram ainda o partido um elemento importante da organização enquanto que não a aparelhe. Considero isso um erro, na medida em que como entidades externas podem sim haver membros participantes no movimento, mas que não necessariamente isso deva ser o guia do movimento. Acredito que outros referenciais devam ser procurados que não os partidários, e nesse sentido o fato de o militante ser de um partido é só algo que contribui com sua participação e pode trazer benefícios ao movimento, mas que deve ser mesclado a outras experiências de outros participantes partidários ou não com a consideração de que fazem parte de um outro além do partidário, portanto que se crie novos referenciais, nova organização que vá além dos partidos e assim concordo que a existência de um partido como orientador paralisa a criação de novas formas de comunicação criando um discurso fechado e institucionalizado como o único possível. [3]A conclusão da pesquisa, portanto, nesse sentido é que o discurso dos estudantes se torna fechado distanciando outras pessoas para a entrada do movimento criando a necessidade de outras formas de comunicação de maneira a não institucionalizar mais o discurso como único possível e nela estou de acordo.
Lembrem-se de referenciar a fonte caso utilizem algo deste blog. Dúvidas, comentários, complementações? Deixe nos comentários.
Escrito por: Rafael Pisani
Observação: No servidor anterior foi postado no dia 14/04/2014 as 11:07.
Referencias:
Marcos Ribeiro Mesquita, « Movimento estudantil brasileiro: Práticas militantes na ótica dos Novos Movimentos Sociais », Revista Crítica de Ciências Sociais [Online], 66 | 2003, colocado online no dia 01 Agosto 2012, criado a 28 Março 2014. URL : http://rccs.revues.org/1151 ; DOI : 10.4000/rccs.1151