O dilema da produção de energia não é tecnológico, mas político, pois o essencial é saber para que, para quem e sob o controle de quem é produzida a energia. Essa constatação perpassou a plenária de convergência sobre energia e indústria extrativa da Cúpula dos Povos nesse domingo (17).
Esse espaço reuniu movimentos sociais, em especial da América e da África, para discutir os problemas do modelo energético e da indústria extrativa e fazer o exercício de propor uma alternativa que não agrida o meio ambiente, as comunidades atingidas e os trabalhadores.
Os participantes identificaram o problema no papel das corporações transnacionais, que avançam sobre os territórios desrespeitando a soberania dos povos, em especial nos países do hemisfério sul, com o objetivo de acumular lucro. As falas da plenária trouxeram muitos exemplos regionais de como ocorre esse processo. Em Moçambique, é a Vale extraindo carvão; na Guatemala, há mais de 100 projetos de hidrelétricas que, apesar de recusados pelo povo em plebiscito, continuam a serem impostos; nas áreas indígenas de Roraima e Rondônia, no Brasil, o problema são as grandes barragens.
De manhã, sob a proposta de identificar os problemas estruturais nessa área, Gustavo Castro, do Movimiento de los Afectados por las Presas y em Defensa de los Ríos (Mapder), do México, explicou que a crise do capital leva à intensificação da indústria extrativa, que coloca sob controle das grandes empresas não só os mineirais, mas também o ar, a água, os bens vegetais.
Gilberto Cervinski, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), do Brasil, destacou a centralidade da energia para o capital, pois ela aumenta a produtividade do trabalho dos trabalhadores, e ressaltou que o problema central não é com relação à matriz, mas diz respeito ao controle das corporações sobre a geração de energia.
Fabian Masisa, da Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale, de Moçambique, trouxe o relato da extração de carvão pela transacional brasileira Vale em seu país e denunciou a absoluta falta de respeito pelas comunidades atingidas, que têm sua vida mudada para pior.
Também denunciaram a situação predatória do capital extrativista na África Bobby Peck, do Friend of Earth Africa, e Thembeka Majali, do One Million Climate Jobs, já no período da tarde, quando a tônica do debate foi discutir as alternativas dos povos para solucionar esses problemas.
João Antônio de Moraes, da Federação Única dos Petroleiros (FUP), do Brasil, ressaltou que os trabalhadores do setor da energia não são adversários das comunidades atingidas pelas obras nem do meio ambiente, pois são também vítimas dessa indústria predatória. Ele destacou a importância da luta contra a privatização e destacou que as energias ditas “renováveis” também têm impactos sobre o meio ambiente e as comunidades e devem, como todas as formas de geração de energia, serem debatidas pelos trabalhadores e não impostas pelo capital.
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