Transporte urbano: “A cidade está na espinha. Não tem mobilidade nenhuma”
15 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaQuem mora numa cidade grande como o Rio de Janeiro — aliás, nos arredores, como Baixa de Fluminense, São Gonçalo ou Zona Oeste –, certamente vai compartilhar deste sentimento: o de que você perde boa parte da sua vida no trânsito. E é justamente sobre esse problema estrutural que foi o debate desta manhã (16) na Cúpula dos Povos sobre Mobilidade Urbana, organizado pelo Fórum Permanente de Mobilidade Urbana da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Uma conta básica já basta para causar espanto: quem passa, em média, de duas a quatro horas por dia no trânsito, ao final de 30 anos, cinco deles você passou dentro dos meios de transporte. Preocupante, não?
Além da piora na qualidade de vida, estudos mostram que, só na cidade do Rio de Janeiro, há uma “deseconomia”: a perda financeira, que prejudica o desenvolvimento da cidade, chega a ser de R$ 6 bilhões ao ano, por conta do adoecimento dos trabalhadores, principalmente das mulheres, devido às pessimas condições dos transportes coletivos. Sem falar na poluição atmosférica que é intensificada, uma vez que 82% do transporte no Rio é rodoviário - número que pode ser maior, pois 10% do transporte, como um todo, são vans.
Celso Sá, um dos participantes do debate, foi membro dos Sindicatos dos Rodoviários por 10 anos. Para ele, a questão do transporte urbano é uma problemática séria e deve ser resolvida o mais rápido possível. “A cidade está na espinha. Não tem mobilidade nenhuma.”, reforçou.
“Quem mora em Vargem Grande, Recreio ou Barra da Tijuca acaba alugando apartamentos no Centro do Rio, onde ficam de segunda a sexta-feira, e voltam pra casa aos finais de semana. Acho que é a única cidade do mundo onde se tem uma casa de veraneio dentro da própria cidade. E quem não tem dinheiro para isso?”, provoca.
Outro ponto interessante abordado por Sá foi a questão da instituição dos feriados em vista dos grandes eventos que a cidade promove e ainda vai promover. “No Carnaval, o Rio recebe um milhão de pessoas. Mas cerca de 700 mil habitantes saem da cidade pela ponte Rio-Niterói ou pelos aeroportos. Aí dá para administrar. Mas, quando ninguém sai, complica.”
Para Sá, é necessário pensar alternativas para resolver a questão do transporte urbano e da qualidade do serviço oferecido por concessionárias, empresas e consórcios para que haja uma melhora na qualidade de vida.
Cada transporte para o público que lhe cabe
Carlos Cosenza, professor e engenheiro da Coppe/UFRJ, defendeu a necessidade de se adequar o transporte à demanda existente. Para ele, o Brasil já deixou de pensar o planejamento de engenharia urbana como algo efetivamente importante para a cidade. “Hoje, se faz no chute e depois se vê como é que fica”, desabafa.
O engenheiro explica ainda que as pessoas, hoje, levam mais tempo no trânsito do que em seu local de trabalho. “Não vai ser possível conviver com isso por muito tempo. A cidade está parando”, alerta.
Cosenza expôs um enorme problema que ainda está por vir: de acordo com ele, já foi aprovado pelo Governo Federal a construção da Linha 3 do metrô carioca, que liga Itaboraí ao Largo da Carioca, no Rio. Como? Uma linha levaria os passageiros de Itaboraí até o terminal das Barcas S/A , e de lá seria feita a conexão até a Praça XV, onde os passageiros seguiriam viagem através da Estação da Carioca. Como é possível pensar nessa logística, questiona Cosenza, já que as barcas, mesmo hoje, já têm um serviço precário?
As questões levantadas aqui são assuntos importantes que devem ser pensados, discutidos e levados adiante. É importante pressionar para que os governos não ajam de forma leviana mediante as condições do transporte público. Celso Sá, do Sindicato dos Rodoviários, reforça que essa é um debate longo que “passa por uma discussão sobre mudar o horário do comércio, dos bancos e do serviço público. Não se poder ‘despejar’ todas essas pessoas às 18h no trânsito, na volta para casa”.
Rio+Tóxico: Santa Cruz
15 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindapor Convergência de Comunicação dos Movimentos na Cúpula dos Povos, com informações de Rio+Tóxico.
De ontem (15) até amanhã, comunidades e entidades da sociedade civil guiam ativistas, jornalistas e pesquisadores por três empreendimentos de forte impacto socioambiental na região metropolitana do Rio de Janeiro. O objetivo do grupo é mostrar que, na mesma cidade que promete redefinir os marcos ambientais do planeta, estão sendo erguidos ou tocados uma série de megaprojetos na contramão do discurso oficial.
O primeiro desses toxic tours, como são chamadas as atividades, foi uma visita a Santa Cruz, na zona oeste da cidade, área afetada pela siderúrgica ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA). Localizada na Baía de Sepetiba, a TKCSA se instalou no Rio após ser negada em outros países e estados do Brasil. A siderúrgica despeja partículas de ferro-gusa e emite toneladas de gás carbônico no ar, suficientes para aumentar as emissões na cidade do Rio de Janeiro em 76%. Isso tem afetado a saúde e o meio ambiente dos moradores e pescadores da região em um nível tão elevado que se tornou um problema para a sede da empresa, na Alemanha.
Diretor do PNUMA vai ao Aterro debater “economia verde”
15 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaAchim Steiner, diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), estará hoje (16) no Aterro do Flamengo para um “Diálogo sobre Economia Verde” com representantes da Cúpula dos Povos, das 18h às 20h, na tenda do Kilombo – Plenária2/Bens Comuns. Veja no mapa da Cúpula a localização da tenda (em PDF).
No encontro, estarão em confronto direto as posições antagônicas que separam a Rio+20, realizada pelas Nações Unidas, da Cúpula dos Povos, promovida pela sociedade civil. Se a ONU quer disseminar a ideia da “economia verde”, defendida por Steiner — um de seus principais formuladores –, o movimento social entende que o conceito transforma recursos naturais em mercadorias, gerando maior concentração de riquezas, perda do controle público sobre territórios e bens comuns, além da contínua degradação do planeta.
Pela Cúpula dos Povos, participam do “Diálogo sobre Economia Verde”, entre outros, Pat Mooney, diretor do Grupo ETC e grande especialista em questões relacionadas a biodiversidade, e o presidente da CUT, Artur Henrique.
Membros do governo debatem a reforma agrária
15 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindapor Convergência de Comunicação da Cúpula dos Povos – MST
A Fundação Perseu Abramo, em parceria com o Partido dos Trabalhadores (PT), realizou debates sobre a questão agrária brasileira nesta sexta-feira (15), como parte da Cúpula dos Povos. Participaram do painel O Agrário Brasileiro e a erradicação da pobreza com sustentabilidade ambiental o deputado Padre João; Renato Maluf, presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea); Guilherme Cabral, secretário de extrativismo e desenvolvimento rural sustentáve; e Leonardo Veloso, secretário de agricultura e membro do grupo de estudos em agrobiodiversidade.
Os debatedores discutiram a crise alimentar sob diferentes perspectivas. Para Renato Maluf, a crise dos alimentos é sistêmica e está articulada à crise econômica, ambiental e energética. “A pobreza rural e a fome no campo só podem existir numa sociedade desigual e injusta, pois não ter comida para o camponês, que produz alimentos para a sociedade, é cruel”.
Já Guilherme Cabral disse haver vontade e interesse do governo em realizar a reforma agrária, mas não se consegue fortalecer a pauta. Ele apontou que o Instituto Nascional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) reconhece a agroecologia como forma de resolver a pobreza nos assentamentos, mas que “a mudança não acontece só por vontade do governo; as organizações do campo devem levar a questão da agroecologia para os assentamentos e formar a base”.
Leornado Veloso acredita que a erradicação da pobreza no campo se dá por meio de políticas do governo, mas que este tem interesses diversos e contraditórios. “Por exemplo, a produção de arroz orgânico nos assentamentos do Rio Grande do Sul está sendo ameaçada agora pela liberação do arroz transgênico”.
Por fim, Padre João defendeu que, para alterar o estado das coisas, é necessário também haver educação no campo. “As universidades públicas colocaram o saber do campo nas mãos das multinacionais. É preciso criarmos um modelo educacional diferenciado para o campo”. O deputado afirmou que a educação no campo não avançou muito e que as maiores expressões de educação são iniciativa das próprias entidades e movimentos.
Opiniões sobre a reforma agrária
Quando indagados sobre a real intenção do governo em realizar a reforma agrária – já que continua não apenas investindo maciçamente no agronegócio, mas também perdoando as dívidas dos grandes latifundiários – os palestrantes deram as seguintes respostas:
Renato Maluf: ”A Reforma Agrária é um tema que deve ser reafirmado a todo momento, pois o governo não se apropria dele com facilidade. É um ponto forte, que gera conflitos, por isso é preciso ficar pressionando o governo para que a questão seja abordada.”
Guilherme Cabral: “A reforma agrária é um tema complexo e o governo não é monolítico. O PT precisa avançar nessa questão com os movimentos sociais, é um tema que precisamos debater mais no próprio partido, com o intuito de pressionar o governo e fortalecer o Incra e o MDA.”
Padre João: “A principal característica da Agricultura Familiar não é o tamanho da propriedade, é o uso da semente crioula, o não-uso de agrotóxicos. E está comprovado que, onde há incentivo do governo, há produção muito maior. No entanto, a reforma agrária não é prioridade do núcleo do governo. Nós deputados temos que disputar e pautar o tema. Também tenho angústias em relação ao cumprimento da reforma agrária, mas gostaria de reafirmar meu compromisso com essa luta e também pela soberania alimentar.
Agência Nacional de Agroecologia debate alternativas para o Agronegócio
15 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaComunicação de convergência da Cúpula dos Povos – MST
A Agência Nacional de Agroecologia (ANA) realiza, durante os dias 15 e 16, como parte Cúpula dos Povos, o seminário “Agricultura familiar e Camponesa e Agroecologia como alternativa à crise do sistema agroalimentar industrial”. A primeira palestra teve como tema Crise alimentar mundial e desafios à soberania alimentar. Participaram da palestra Aksel Naerstad, da Coalizão More and Better; Maria Emília Pacheco, da FASE/Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil; Pat Mooney, Membro do Grupo de Ação sobre Erosão, Tecnologia e Concentração (ETC, sigla em inglês). A mesa foi coordenada por Jean Marc Von der Weid, da Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA).
Aksel iniciou a palestra indagando que crise alimentar o mundo sofre hoje. “ A crise alimentar é permanente: em 1992, época da Rio92, havia 858 milhões de pessoas passando fome. Há muito alimento no mundo para alimentar o dobro da população mundial. Parte desse alimento se perde no armazenamento, parte é usada em alimentação de animais, além do desperdício nos restaurantes, que, se fosse evitado, poderia alimentar o 1 bilhão de pessoas que passa fome. Ele salientou que a verdadeira crise está na concentração de poder em poucas grandes empresas multinacionais alimentícias, que acabam com a diversidade alimentar e poluem o meio ambiente devido ao uso de agrotóxicos e fertilizantes.
A lógica que as grandes indústrias impõem foram apontadas por Aksel como um grande problema para o avanço da agricultura familiar. “o próprio sistema cria a crise. A OMC obriga a importação de alimentos, o que impossibilita o desenvolvimento agrário local. Na Noruega, por exemplo, comemos muitas batatas, mas não há batatas Norueguesas, pois a maioria vem de outros países europeus”.
Por fim, encerrou dizendo que os governos não podem continuar investindo no agronegócio. “Há sim formas ideaias de se produzir alimentos, como a agroecologia. É preciso que as políticas governamentais mudem para que esse novo modelo de produção possa florescer.
Pat Mooney iniciou sua exposição analisando a Rio+20: “a Cúpula oficial é um fiasco, os diplomatas lá presentes não tem a resposta para solucionar a crise. Vinte anos atrás, na Rio92, a discussão era como os países do norte poderiam controlar a biodiversidade do sul. Hoje, os países do norte querem pegar o que sobrou da natureza que pode ser explorado”. Pat disse que não existe outra maneira de resolver a crise climática sem a agroecologia. “A cadeia industrial não tem flexibilidade para nos sustentar. Para cada caloria de comida produzida pela indústria, gasta-se quatro calorias de energia, o que resulta em emissões de poluentes. Na cadeia campesina, a proporção é de uma caloria de alimento para uma de energia”.
Além disso, ele apontou que o sistema agroecológico trabalha com mais diversidade de espécies animais e vegetais, além de não patentear os produtos que cria como a indústria faz. Também criticou a pesquisa em relação à agricultura. “Antes, era necessário um milhão de dólares para criar um organismo geneticamente modificado; hoje, é necessário mais de 136 milhões de dólares para se criar um transgênico. É um investimento estúpido”. Pat acredita que “a minha geração é a primeira do planeta que perdeu mais conhecimento do que ganhou. Mas ainda temos muito e podemos reverter esta situação”, referindo-se às técnicas camponesas que foram sendo destruídas devido ao êxodo rural e imposições industriais.
Ele encerrou sua fala afirmando que não vamos sobreviver a uma crise ambiental com o sistema agrário que temos, e pediu que os agricultores do mundo se unam, para trocar conhecimento e diversidade de espécies.
Segundo Maria Pacheco, a crise alimentar é o elo mais dramático do conjunto de crises que vivemos hoje, pois o próprio valor da via está em crise. Para ela, o aumento dos preços devido à especulação, que transforma alimentos em mercadoria e “gera um contexto mundial no qual uma a cada sete pessoas passa fome”. O que preocupa Maria em relação às soluções apontadas pelo capital para a crise econômica é que estas “se referem ao saber tradicional dos povos indígenas e camponeses como algo que deve ser incorporado ao mercado para resolver a crise. Isso se dá porque esses novos conhecimentos de mercado querem privatizar inclusive o conhecimento natural”.
Maria acredita que o sistema agroecológico será implantado apenas com muita luta social por parte dos movimentos. “Os sistemas agroecológicos tem índice de produção maior e reduzem a pobreza rural. É com a agroecologia que os camponeses conseguem sua subsistência sem necessariamente ter de passar pelas regras do mercado”, e terminou salientando a importância da Reforma Agrária para se estabelecer a agroecologia. “A Reforma Agrária é essencial. Sem acesso à terra não há como assegurar o direito à vida. É fundamental que o movimento ecológico se uma na luta pela terra”.