por Renata Giraldi e Carolina Gonçalves
O chefe da delegação do Brasil na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, embaixador André Corrêa do Lago, um dos principais negociadores do documento final da conferência, condenou hoje (21) a cobrança de líderes políticos por um texto mais amplo e completo. Para ele, os líderes não podem fazer cobranças porque seus negociadores participaram de todas as reuniões e concordaram com a redação do texto finalizado há dois dias.
“Líder [referindo-se a chefes de Estado e Governo] reclamar não faz sentido, pois todos participaram das negociações [sobre o texto final da conferência]. O que deve haver é uma dimensão de entendimento que há uma decisão global e outra que diz respeito a como cada país vai fazer individualmente”, disse o embaixador.
Publicamente, vários presidentes reclamaram do texto final, como François Hollande (França), Rafael Correa (Equador), José Pepe Mujica (Uruguai), Evo Morales (Bolívia) e Raúl Castro (Cuba), além de autoridades europeias. Nos últimos dias das negociações em torno do documento, houve divergências entre os negociadores dos países desenvolvidos e os de países em desenvolvimento.
Diferentemente do que ocorreu a portas fechadas no Riocentro, principal local das negociações da conferência, Lago elogiou os norte-americanos. Segundo ele, há uma compreensão do governo dos Estados Unidos sobre a necessidade de promover o desenvolvimento sustentável como oportunidade para gerar avanços sociais e ambientais.
O embaixador reiterou que a conclusão geral é que o saldo da Rio+20 é positivo. “O principal saldo da conferência foi fazer com que o desenvolvimento sustentável se transforme em paradigma em todos seus aspectos, o social, o ambiental e o econômico”, disse Lago.
A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que entregou o documento com críticas ao texto final da Rio+20 às autoridades, rebateu a afirmação. Segundo ela, a sociedade civil não se vê representada nos 283 pontos contidos na redação acordada e que, por isso, não há razão para manter, no texto, a informação que os movimentos sociais apoiam o documento.
“É engraçado que, nesse momento, há um consenso, né? Os chefes de Estado [e Governo] todos dizem que estão insatisfeitos com o texto. Não sei para quem estão falando, talvez para eles mesmos”, disse a ex-ministra.
Marina Silva completou dizendo que “se não estão satisfeitos com o texto que eles decidiram, por que a sociedade vai chancelar? Neste momento, a sociedade está cumprindo seu papel. O que está sendo feito é adiar mais uma vez o inadiável”. O embaixador disse que é natural a cobrança da sociedade civil. “É função da sociedade civil cobrar”, ressaltou Lago.
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