ONU debate discurso de ódio e fake news em série sobre participação política das mulheres
10 de Setembro de 2018, 15:12Divulgação de boatos e informações falsas por meio de grupos de mensagem é tema de novo episódio da websérie da ONU Mulheres sobre a participação das mulheres na política brasileira. Foto: PEXELS
Em um novo episódio da websérie #Brasil5050: paridade de gênero na política, a ONU Mulheres discute como o discurso de ódio e as fake news podem afetar as eleições de 2018 no Brasil. Agência das Nações Unidas aborda a importância da checagem de dados, uma estratégia adotada por agências de notícias e veículos de comunicação para garantir a divulgação de informações corretas.
Flávia Campuzano, jornalista da Agência Lupa, explica por que a verificação dos fatos também deve levar em conta as desigualdades entre homens e mulheres. “A causa feminista, independente de partido ou posição política, é uma causa global. A gente percebe que são causas com ataques muito fortes, principalmente dentro das redes”, afirma.
A Agência Lupa é parceira do Facebook para combater as fake news — desinformação ou notícias falsas. “O objetivo é que o alcance desses ataques e das notícias falsas sejam diminuídas dentro da rede”, diz Campuzano.
A jornalista alerta para plataformas, como grupos de mensagens por celular, nos quais há mais “propagação de notícias falsas, porque são grupos com controle menor, normalmente da família e do trabalho”. “Boatos e ataques se alastram muito rápido”, enfatiza.
Outro aspecto do trabalho de Campuzano é a checagem de propostas de candidatos e candidatas sobre políticas para as mulheres.
“A partir da série Sobre Elas [especial da Agência Lupa sobre as “promessas de campanhas” das eleições 2016], a causa das mulheres se tornou premente nas eleições 2018 e, com a importância que tem, a representatividade das mulheres no parlamento. A Lupa fará um trabalho também olhando as declarações de candidatos e candidatas em relação às pautas femininas”, completa.
As eleições também trazem mais um desafio — a produção e a circulação do discurso de ódio. De acordo com Thânisia Cruz, integrante da Articulação Nacional das Negras Jovens Feministas e do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, parceiro da ONU Mulheres, o problema “tem aumentado e se alastrado no contexto brasileiro”.
Segundo a jovem ativista, isso “afeta famílias de todas as classes e origens” e enfrentar essa prática é se comprometer com “informações claras, objetivas e de representatividade”.
A websérie documental #Brasil5050: paridade de gênero na política traz cerca de 90 depoimentos sobre a participação das mulheres nas instituições e no processo democráticos. Entrevistas serão publicadas nas redes sociais da ONU Mulheres Brasil e do projeto Cidade 50-50 até o final do ano. Os episódios abordam as candidaturas de mulheres, a responsabilidade dos partidos e a violência política, além de iniciativas do poder público sobre questões de gênero.
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ONU participa de exposição sobre Nelson Mandela em Brasília
10 de Setembro de 2018, 15:06Nelson Mandela. Foto: Fundação Nelson Mandela
Chega a Brasília no dia 12 de setembro a mostra “Mandela: de Prisioneiro a Presidente”, organizada pelo Instituto Brasil África, parceiro do Centro de Excelência contra a Fome da ONU. Com curadoria do Museu do Apartheid, de Joanesburgo, o projeto comemora o centenário do nascimento do líder sul-africano, que se tornou símbolo da luta contra a discriminação racial. Exposição acontece no Palácio Itamaraty e fica em cartaz até 4 de outubro.
A iniciativa já passou por França, Suécia, Estados Unidos, Equador, Argentina, Peru e Luxemburgo, alcançando um público de mais 1 milhão de pessoas. Agora, além do Brasil, serão realizadas montagens simultâneas no Canadá, Irlanda e Inglaterra. A capital federal é a segunda cidade brasileira a receber a mostra internacional, que já esteve em Fortaleza.
O Centro de Excelência contra a Fome participará da cerimônia de abertura da exposição, na próxima quarta-feira (12).
A mostra apresenta a vida de Mandela em seis fases: “A pessoa”, “O camarada”, “O líder”, “O prisioneiro”, “O negociador” e “O homem de Estado”. Fotos e vídeos constroem uma narrativa que vai desde o início do ativismo contra o Apartheid, passando pelos 27 anos de prisão, pela conquista do Prêmio Nobel da Paz, até a eleição como o primeiro presidente negro da África do Sul.
“Estamos ansiosos para ver a exposição agora sair de Fortaleza e ir para Brasília, para que toda essa emoção continue pelo Brasil”, afirma o criador da mostra e diretor do Museu do Apartheid, Christopher Till.
“Nosso país ainda tem uma série de ‘apartheids sociais’ que precisam ser solucionados, e refletir sobre os exemplos que Nelson Mandela nos deixou, de união e luta pela justiça, pode ajudar todos os brasileiros a começarem a agir em prol de uma mudança no futuro”, ressalta o presidente do Instituto Brasil África, João Bosco Monte.
ONU lança iniciativa para igualdade de gênero nas empresas da América Latina
10 de Setembro de 2018, 13:00ONU Mulheres e União Europeia vão promover, em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), iniciativas de empoderamento econômico das mulheres na Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Jamaica e Uruguai. Foto: ONU Mulheres/Ângela Rezé
Agências da ONU e a União Europeia reuniram em agosto, em São Paulo, cerca de 550 lideranças dos setores privado e público para debater as desigualdades entre homens e mulheres nas empresas da América Latina e Caribe. O Fórum WEPs 2018 marcou o lançamento do programa Ganha-Ganha: Igualdade de gênero significa bons negócios, que será implementado pelas Nações Unidas e pelo bloco europeu na Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Jamaica e Uruguai.
A sigla WEPs é uma referência aos Princípios de Empoderamento das Mulheres (Women’s Empowerment Principles, no original em inglês), lançados pela ONU Mulheres e pelo Pacto Global das Nações Unidas para estimular o compromisso do mundo corporativo com políticas de gênero. Mais de 2 mil instituições já adotaram as medidas, que visam à igualdade entre homens e mulheres no local de trabalho, no mercado e na sociedade.
Durante o fórum, realizado em 29 e 30 de agosto, a Lee Hecht Harrison Brasil e a Sodexo Benefícios e Incentivos aderiram às recomendações dos organismos internacionais. Com isso, subiu para 174 o número de empresas signatárias dos princípios no país. Atualmente, o Brasil é a terceira nação com a maior quantidade de companhias apoiadoras das diretrizes.
Uma pesquisa inédita, realizada pela Fundação Dom Cabral e apresentada no evento em São Paulo, identificou uma diferença salarial considerável entre homens e mulheres no mercado de trabalho. A disparidade aumenta conforme os cargos vão se tornando mais altos. Segundo o estudo, enquanto 54% dos postos de coordenação são ocupados por mulheres, apenas 31% delas ocupam posições de diretoria nas empresas. O número cai para 26% em cargos de presidência e vice-presidência.
O levantamento foi feito em parceria com a Aliança para o Empoderamento da Mulher, que tem o apoio da ONU Mulheres.
Desigualdades de gênero na América Latina e Caribe
Durante lançamento da iniciativa Ganha-Ganha: Igualdade de gênero é um bom negócio, a diretora regional da ONU Mulheres para as Américas e Caribe, Luiza Carvalho, enfatizou a responsabilidade das empresas para acelerar o empoderamento econômico das mulheres.
“Elas (as companhias) podem promover muitas ações, sejam por meio da mudança de sua cultura corporativa, da eliminação de práticas discriminatórias, da promoção de políticas ativas de incorporação e ascensão de mulheres em seus quadros”, explicou.
O diretor da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Martin Hahn, lembrou que mais de 90% dos empregos no mundo estão no setor privado. “O poder de transformação das empresas é enorme e muito estratégico para os negócios. Percebemos que existe uma relação direta e muito clara na melhora de resultados das companhias que implementaram programas que promovem a igualdade de gênero. Mais diversidade gera criatividade e melhoria nos produtos”, afirmou.
Também presente no fórum, a ministra das Mulheres e Igualdade de Gênero do Chile, Isabel Plá, questionou o uso recorrente do conceito de meritocracia, em contextos marcados por disparidades que prejudicam as mulheres.
“Na América Latina, o talento, o mérito e o esforço para as mulheres não são suficientes. Hoje, só 7% de nós estão em cargos de direção na política do Chile”, lembrou.
Em maio, a dirigente lançou em Santiago o “Agenda Mujer”, um programa com 22 medidas para alcançar a igualdade de direitos e deveres para homens e mulheres. Na lista, está o aumento da participação das mulheres em cargos de alta responsabilidade.
O projeto Ganha-Ganha busca promover não apenas a igualdade de gênero nas empresas, mas também oportunidades de negócios para as empreendedoras da Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Jamaica, Uruguai e Europa. O objetivo é incentivar o debate entre instituições, fortalecendo a pauta do empoderamento feminino.
“Queremos colaborar com as companhias para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável na América Latina e no Caribe, por meio do diálogo e do intercâmbio com os países da União Europeia”, destacou o embaixador da União Europeia no Brasil, João Gomes Cravinho.
Juntos, os seis países latino-americanos e caribenhos envolvidos no programa Ganha-Ganha reúnem quase 250 empresas signatárias dos WEPs. Com quase 70% do total, o Brasil marca presença principalmente nos setores elétrico, bancário e financeiro, tecnologia, suprimentos, saúde, alimentação, mídia e têxtil. Com o programa Ganha-Ganha, a meta é ampliar consideravelmente o número de empresas signatárias, trazendo a questão de gênero para o centro da estratégia de negócios.
Saiba mais sobre os Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs) clicando aqui.
Lídia Abdalla, CEO da Sabin Medicina Diagnóstica, frisou que é fundamental transformar a cultura institucional, alcançando as cadeias de fornecimento e fomentando mudanças no entorno da empresa. Para a dirigente, esta “força-tarefa”, que compreende a comunicação clara, a formalização de acordos e a estipulação de metas, “nem sempre é fácil”.
“Traz desafios de gestão e administração, mas também uma grande riqueza para os negócios”, afirmou.
Convidado para dividir os compromissos do Santander Brasil, o CEO Sergio Rial chamou atenção para a tendência à conformidade e à acomodação do mundo corporativo. “As empresas têm que ter flexibilidade e diálogo”, disse.
Cida Bento, coordenadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), abordou como a desigualdades de gênero se somam a outras formas de discriminação, como a racial.
“Quando olho para esta sala, quase esqueço da realidade do Brasil. Desafio as minhas colegas: como podemos trazer a agenda da equidade com mais presenças nesses momentos, para que comporte mulheres negras, indígenas, quilombolas? Brasileiras somos todas nós. A realidade das empresas está mudando, mas para quem?”, questionou, em pronunciamento para um público predominante branco.
O Fórum WEPs 2018 discutiu também o engajamento dos homens na pauta da igualdade de gênero, o papel das empresas na luta contra a violência, mecanismos inclusivos de compras corporativas, estereótipos na publicidade e a participação das mulheres com deficiência e da comunidade LGBTI+ no setor privado.
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UNICEF: metade dos adolescentes no mundo são vítimas de violência na escola
10 de Setembro de 2018, 11:31Em Villanueva, Honduras, o jovem de 16 anos, Darwin, lembra de seu colega Henry, que se suicidou em setembro de 2016. De acordo com um professor, os dois amigos sofriam bullying. Foto: UNICEF/Adriana Zehbrauskas
Em todo o mundo, metade dos estudantes entre 13 e 15 anos de idade – cerca de 150 milhões de jovens – já foram vítimas de violência por parte de seus colegas. Episódios de agressão aconteceram dentro e fora do ambiente escolar. É o que revela um relatório divulgado neste mês (6) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Globalmente, entre a faixa etária analisada, pouco mais de um em cada três alunos sofre bullying. De acordo com a agência da ONU, a mesma proporção está envolvida em brigas corporais. Em 39 países ricos, três em cada dez estudantes industrializados admitem ter praticado bullying com seus colegas.
Embora meninas e meninos tenham o mesmo risco de sofrer bullying, as estudantes estão mais propensas a ser vítimas de violência psicológica, ao passo que os rapazes enfrentam um risco maior de agressões físicas e ameaças.
A pesquisa do UNICEF alerta ainda para formas institucionalizadas de violência. Segundo o levantamento, quase 720 milhões de crianças e adolescentes em idade escolar vivem em países onde o castigo corporal nos colégios não é totalmente proibido.
“Todos os dias, os estudantes enfrentam vários perigos, incluindo brigas, pressão para participar de gangues, bullying – presencialmente e on-line –, disciplina violenta, assédio sexual e violência armada”, afirma a diretora-executiva do UNICEF, Henrietta Fore.
“Em curto prazo, isso afeta seu aprendizado e, em longo prazo, pode levar à depressão, à ansiedade e até ao suicídio. A violência é uma lição inesquecível que nenhuma criança precisa aprender.”
O relatório observa que a violência envolvendo armas nas escolas, como facas e revólveres, continua a tirar vidas. A análise explica ainda que, em um mundo cada vez mais digital, os agressores estão disseminando conteúdo violento, ofensivo e humilhante com o toque de uma tecla.
Para pôr fim à violência escolar, o UNICEF compilou uma série de recomendações a governos e gestores:
- Implementar políticas e legislação para proteger os estudantes da violência nas escolas;
- Fortalecer as medidas de prevenção e resposta nas escolas;
- Apelar às comunidades e aos indivíduos para que se unam aos estudantes quando falarem sobre violência e trabalharem para mudar a cultura das salas de aula e das comunidades;
- Fazer investimentos mais eficazes e direcionados em soluções comprovadas que ajudem os estudantes e as escolas a se manter seguros;
- Coletar dados melhores e desagregados sobre a violência contra crianças e adolescentes dentro e no entorno das escolas e compartilhar o que funciona.
O relatório do organismo da ONU é lançado como parte da campanha global do UNICEF #ENDviolence. Também faz parte de um esforço coletivo de diversas organizações, como a UNESCO, o Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido (DFID), contra a violência dentro e fora das escolas.
Nos próximos meses, o UNICEF realiza em todo o mundo uma série de conversas com jovens sobre bullying e agressões. As discussões, lideradas por estudantes, vão funcionar como uma plataforma para que jovens compartilhem suas experiências e digam o que eles precisam para se sentir seguros no ambiente de ensino. Os encontros terão como resultado um documento para líderes globais. Em julho, a embaixadora do UNICEF Lilly Singh lançou o primeiro Youth Talk na África do Sul, com um grupo de estudantes de 13 a 19 anos.
Acesse o relatório da agência da ONU na íntegra clicando aqui.
UNICEF alerta para violência escolar no Brasil
A pesquisa do UNICEF não traz dados do Brasil, mas estudos realizados nacionalmente mostram que a violência entre colegas e nos centros de ensino também impacta meninas e meninos brasileiros. Um desses levantamentos é a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense, 2015), do IBGE. Focada em alunos do nono ano do ensino fundamental, a a análise revela que:
- 14,8% dos estudantes do nono ano afirmam ter deixado de ir à escola, pelo menos um dia, nos 30 dias anteriores à pesquisa, por não se sentir seguros no caminho de casa para a escola ou da escola para casa;
- 7,4% dos estudantes entrevistados disseram ter sofrido bullying na maior parte do tempo ou sempre, nos 30 dias anteriores à pesquisa;
- Quando perguntados se eles próprios haviam praticado bullying nos 30 dias anteriores à pesquisa, 19,8% responderam que sim;
- 23,4% dos estudantes entrevistados responderam ter se envolvido em alguma briga ou luta física, pelo menos uma vez, nos 12 meses anteriores à pesquisa;
- 12,3% dos estudantes entrevistados foram seriamente feridos, pelos menos uma vez, nos 12 meses que antecederam à pesquisa;
- 5,7% dos estudantes se envolveram em brigas na qual alguém usou alguma arma de fogo, nos 30 dias que antecederam à pesquisa;
- E 7,9% declararam ter se envolvido em alguma briga com arma branca. O percentual é maior entre meninos (10,6%) do que entre meninas (5,4%). E é maior entre estudantes da rede pública, 8,4%, do que entre aqueles da rede privada, 5,3%.
Brasil: Escritório de Direitos Humanos da ONU condena ataque contra Jair Bolsonaro
7 de Setembro de 2018, 12:58Foto: Paulo Ellery/Flickr/CC
O Escritório para a América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) condenou nesta sexta-feira (7) o ataque contra o deputado federal e candidato a presidente da República, Jair Bolsonaro, ocorrido durante um ato de campanha no dia 6 de setembro em Juiz de Fora, estado de Minas Gerais, no Brasil.
“Confiamos nas autoridades brasileiras para uma pronta investigação e punição dos responsáveis”, comentou a representante regional para América do Sul do ACNUDH, Birgit Gerstenberg, expressando a solidariedade de seu Escritório com o candidato.
O ACNUDH também observou o crescimento das tensões nas últimas eleições em países da América Latina e manifestou preocupação com os casos de ameaças contra candidatos concorrendo a cargos nos poderes executivo e legislativo no Brasil.
Para Birgit Gerstenberg, “o processo eleitoral precisa garantir o direito à participação nos assuntos públicos, incluindo o direito à vida e à integridade física, bem como às liberdades de expressão, reunião e associação”.
Para mais informações e pedidos da imprensa, por favor contatar María Jeannette Moya (mmoya@ohchr.org / +569222102970).