Do Portal de Hip Hop Bocada Forte
Nesta segunda-feira, dia 8 de março, a grande mídia impressa e televisiva repercutiu as manifestações e panelaços realizados durante o pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff. Os já conhecidos “revoltados” mostraram sua insatisfação com o governo federal.
As eleições de 2014 e seus desdobramentos em 2015 construíram um quadro estranho e perigoso para os mais pobres. De acordo com o Observatório de Elites Políticas e Sociais do Brasil, Aécio Neves, suas alianças e propostas afastaram o PSDB da tal social-democracia, ficou clara sua movimentação para a direita. Para tirar o PT do poder, o candidato tucano tentou – e ainda tenta – mobilizar os setores mais conservadores do país.
A verdade é que a direita se popularizou. 222 candidatos de partidos de direita foram eleitos. Pastores, apresentadores de programas sensacionalistas da TV, policiais, pessoas ligadas a grandes empresas privadas, etc.
Esses são os novos elementos que, junto com a direita elitista tradicional, dominam o Parlamento. A corrupção na Petrobras, os caminhos incertos da economia brasileira, entre outros fatores, deixaram o governo na defensiva.
Para DJ Cortecertu, Editor do Bocada Forte, as ruas mostram a cara periférica da popularização das ideias da direita política. “Exemplos não faltam, como no caso de um dono de lanchonete da minha área, ex-favelado que trabalhou muito e comprou um apartamento numa região melhor de um bairro aqui da periferia da zona sul. No final de 2014, numa conversa de boteco, o novo empresário torcia para que retirassem a favela que fica nas redondezas para que seu imóvel fosse mais valorizado”, comenta.
Prosseguindo com os exemplos, o DJ, relembra outra situação. “Numa reunião de pais de uma escola pública, presenciei pais que pediam a presença da PM dentro das escolas para resolver o problema das drogas, entre outras soluções rápidas. Vi a sedução e a reprodução do discurso forte e intolerante de políticos e apresentadores de TV, personagens que agem como justiceiros contra tudo que acham errado. Naquelas falas estavam parte da política de segurança do governador Alckmin, a truculência de Jair Bolsonaro e Coronel Telhada, e o controle ‘abençoado’ de seres como Silas Malafaia e Marco Feliciano. Pais pobres repetindo o que a nova e a velha face da direita propõem.”
Noise D, Social Media Manager do BF, acredita que existe uma espécie de “golpe a longo prazo” em andamento. “O PMDB, partido que se diz ‘aliado’ do governo, continua sendo fundamental para a manutenção da governabilidade do país. Infelizmente, sem os votos deles no Parlamento, fica praticamente impossível administrar o país. O PT aliou-se a eles com essa perspectiva. E o PMDB aliou-se ao PT com a perspectiva de assumir o poder. E está conseguindo! A tendência é que durante os próximos anos, PMDB e oposição trabalhem juntos, de forma escusa, com o intuito de prejudicar o governo do PT, aprovando planos, pacotes e medidas impopulares ou mesmo reprovando medidas do governo que visam estabilizar a nossa economia”.
No entanto, Noise reflete o momento como positivo, no sentido das mudanças sociais que estão sendo implementadas nos últimos anos pelo governo e acredita que um exemplo claro disso é o combate a corrupção, que nunca foi tão forte como hoje (saiba mais).
“Devemos ficar atentos ao trabalho de manipulação da opinião pública que a mídia de massa vem promovendo. Na maioria das vezes, é o Parlamento que age de forma a prejudicar o país e a mídia trata a situação como se a causa de tudo fosse o governo do PT. É preciso discernimento. É preciso consciência crítica para se perceber isso. Tem gente que tinha de estar do lado de cá, que está do lado de lá, apoiando o time errado!“, completa.
Nas conversas e posts nas Redes Sociais, não é difícil perceber a falta de entendimento e compreensão em relação ao que é noticiado. Com efeito, o algoritmo do Facebook direciona os debates.
Não é novidade, a maioria das pessoas acompanham as Redes Sociais que massificam a desinformação, pois os mesmos amigos postam notícias o que são indicadas pelo Facebook, que se baseia nas escolhas dos usuários para – mais e mais vezes – empurrar mais informações e dados que se pareçam com eles.
A turma da “revolta” sempre dá a carteirada. Os “novos revoltados” dizem que sua manifestação é um ato democrático, pois sabem o quanto valorizamos a democracia, mas de um jeito que desconhecem, que desprezam.
Triste é saber que negros, pobres, gays, umbandistas, candomblecistas, entre outros perseguidos, caem na conversa de pessoas que não querem apenas combater a corrupção, desejam um país que só tenha espaço para os “normais e de fé verdadeira”.
Ser contra a corrupção em que o PT e outros partidos estão envolvidos não deveria envolver intolerância religiosa, machismo, homofobia, adoração aos PMs corruptos espalhados pelo país, racismo e cegueira política, mas estes são os elementos que alimentam a direita, que alimentam a ideia de golpe.
As demandas da periferia, as mortes nas quebradas, a polícia corrupta, o genocídio da juventude negra, nada disso está na pauta dos “revoltados”. Afinal, a violência está contida em regiões distantes dos “revoltados”, lugares pacificados pela guarda burguesa. Não são os seus que estão na linha de tiro, não são os seus que choram.
“Não teve panelaço no Jardim São Luiz, povo ainda limpa o sangue de mais uma chacina assinada pelo Alckmin. Mortos sem nome, nem justiça”, o escritor Alessandro Buzo postou em sua página no Facebook. O autor fez referência aos assassinatos ocorridos entre sexta-feira e sábado (6 e 7 de março).
DJ Neew, blogueiro, colunista e integrante do grupo Dê Loná, também mandou seu recado na rede social. “Enquanto os playba de Pinheiros, Jardins, Higienópolis, batem panela contra a Dilma Rousseff, eu bato cartão e torço pra voltar pra casa sem ser morto pela policia do Alckmin. ‘Playboy bom é chinês, australiano, fala feio e mora longe…’”
É essa dimensão da realidade que muitos – até integrantes do hip hop – não querem debater.
Os “revoltados” têm sua manifestação garantida pela nossa Constituição, é fato. Mas não podemos esquecer que sua cúpula, seus organizadores, em sua grande parte, não estão nem aí para os anseios do povo pobre. Existe um grande muro ideológico dividindo nosso país. A periferia segue sangrando, e o Bocada Forte já escolheu de que lado está.
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