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Rodrigo Vianna

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FHC sugere renúncia de Dilma: recado ou jogo de cena para agradar a direita nas ruas?

17 de Agosto de 2015, 17:23 , por Escrevinhador - | No one following this article yet.
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Eles acham que ainda são grandes jogadores

Eles acham que ainda são grandes jogadores

por Rodrigo Vianna

A fala de Fernando Henrique Cardoso, classificando o governo Dilma como “ilegítimo” e exigindo a renúncia da presidenta, pode ser vista como um duplo recado: para Aécio Neves, em primeiro lugar; mas também para a direita que está nas ruas.

Antes de avançar, observemos que a declaração não surgiu de improviso, em meio a uma entrevista. FHC não “deixou escapar” a declaração. A frase do líder tucano é resultado de cálculo e faz parte de uma postagem cuidadosamente divulgada pela conta de Facebook do ex-presidente (1995-2002). Clique aqui para saber mais.

Notemos que Serra disse algo muito parecido nessa segunda-feira pós manifestações: Dilma deve renunciar!

Ora, a renúncia não interessa a Aécio. O senador eleito por Minas precisa, desesperadamente, que Dilma e Temer caiam juntos. Só nesse caso, via impeachment duplo ou com a impugnação da chapa no TSE, haveria novas eleições. E, nesse caso, Aécio seria o candidato. A renúncia de Dilma (ato totalmente fora de cogitação, para quem conhece o perfil da presidenta) levaria Michel Temer ao poder, e Serra seria o homem forte desse governo “de transição” até 2018.

FHC e Serra, assim, sinalizam a Aécio que não estão todos no mesmo barco. O tucanato de São Paulo flerta com uma solução que passa por Temer, sem Aécio.

Mas há mais que isso. O PSDB corre o risco de perder a liderança do setor cada vez mais radicalizado que vai às ruas desde março. A fala de FHC pode ser vista como um recado a esse setor de direita extremada: “estamos juntos”!

Dentro do PSDB, já está mais do que claro que uma derrocada do PT e Lula não significa, necessariamente, a volta do PSDB ao poder. As próximas eleições (ocorrendo em 2018, ou antecipadamente no caso de um golpe parlamentar) devem trazer um cenário de fragmentação. A “nova direita” pode construir uma alternativa eleitoral, por fora do PSDB, com Bolsonaro, Caiado e figuras desse naipe.

O PSDB também corre o risco de ver Alckmin ou Serra fora do ninho, numa tentativa solo de chegar ao Planalto. Serra poderia tentar esse voo pelo PMDB. E Alckmin já tem preparado o Plano B, com uma candidatura pelo PSB (o vice-governador de São Paulo é o “socialista” Márcio França).

Diante desse risco de fragmentação, interessa tanto a Serra quanto a Aécio manter a ligação com a direita que está nas ruas.

Não faz sentido que FHC queira “radicalizar” e forçar uma queda da presidenta justamente na hora em que os protestos perdem fôlego e parte das entidades empresariais manifesta preocupação com a postura irresponsável do PSDB.

FHC também destacou, em seu texto, o “boneco inflável” de um Lula preso – imagem cuidadosamente plantada pela oposição em meio ao esvaziado protesto de Brasília, neste dia 16. Disse que Lula “contamina” as condições de governabilidade. Está muito claro que Lula é o alvo da Globo, do PSDB. Dilma poderia ser “poupada”, parece dizer o velho morador de Higienópolis, mas Lula é o alvo supremo.

Mais do que um recado a Dilma, no entanto, a postagem de FHC pode ser lida como parte da estratégia de disputa interna na oposição. Chama atenção que o líder maior do tucanato faça essa declaração dias depois de ter afirmado, a um jornal estrangeiro, que Dilma “é uma pessoa honrada”.

As duas declarações, em sequência, mostram que, se o PT está em crise profunda, o PSDB parece dominado por líderes que agem feito biruta de aeroporto. Jogam para a torcida, e são pautados pelas ruas e as circunstâncias, incapazes de fornecer uma estratégia responsável para o país.

Com uma oposição dessas, Dilma pode sobreviver. Apesar de seus erros.

E Lula mostra ser um fantasma que ainda assombra as consciências forjadas entre as aulas da USP e os jogos de poker (atividade a que FHC tem-se dedicado nos últimos anos, na companhia exótica do ex-jogador Ronaldo).

O jogo segue pesado. Com muitos blefes.

 

 

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Fonte: http://www.revistaforum.com.br/rodrigovianna/plenos-poderes/fhc-sugere-renuncia-de-dilma-recado-ou-jogo-de-cena-para-agradar-direita-nas-ruas/