Todo mundo em São Paulo sabe quem é especialista em dossiês à véspera de eleições. É como se a turma estivesse dizendo ao Alckmin: fica esperto, meu filho; de onde veio esse petardo pode vir muito mais contra você
por Rodrigo Vianna
O dia começou com um fato inusitado: o UOL, site ligado ao jornal conservador “Folha de S. Paulo”, abriu manchete principal para uma denúncia contra Edson Aparecido – o chefe da Casa Civil do governo Alckmin. Inusitada a manchete porque a Folha, como se sabe, é parceira fiel do tucanato
Fui curioso para o texto: será que a Polícia Civil teria adotado procedimento igual ao da PF, e resolvido investigar os donos do poder em São Paulo? Qual seria a fonte da denúncia? Polícia? Ministério Público? E aí veio a segunda surpresa: a matéria não tem fonte.
A terceira surpresa veio quando li o nome de um dos jornalistas que assinam a matéria. Ricardo Feltrin é especializado em cobertura de TV: programas novos, gente famosa, artistas. Não o conheço pessoalmente. Mas tem fama de ser bem informado e muito bem relacionado entre os poderosos de São Paulo (dentro e fora das redações de TV).
Hum…
Matéria contra o governo Alckmin, sem fonte explícita e assinada por um jornalista que cobre os bastidores de TV. Estranho, não acham?
Talvez não seja tão estranho, se lembramos que estamos às vésperas das prévias do PSDB para apontar o candidato a prefeito em São Paulo. De um lado, está Alckmin apoiando João Doria. De outro, o tucanato de alta plumagem (Serra, FHC etc) apóia Andrea Matarazzo.
E aí, como que por encanto, surge uma reportagem que denuncia Edson Aparecido por ser o dono de um apartamento caro. O nome de Aparecido nem vai pra manchete, ele é chamado de “número 1 de Alckmin”.
O imóvel foi comprado de uma empreiteira que tem negócios com o governo. Mas não entendi bem qual q irregularidade que Aparecido cometeu. A “reportagem” amontoa uma série de informações: o valor do imóvel quando foi comprado era X. Hoje vale 8x ou 10x. E a pergunta que fica é: e daí?
Há alguns anos, mostramos que o homem forte de Alckmin é (ou era, porque investigações contra tucanos jamais avançam) por suposto envolvimento com a chamada “Máfia do Asfalto”. Clique aqui para saber mais sobre Aparecido, que era tratado em escutas como “jumento”.
A reportagem do UOL não faz conexões com a Máfia (porque isso talvez chateasse empresas que não devem ser chateadas por quem levantou as informações e repassou aos jornalistas). Não quero ser injusto com os colegas que assinam o texto, nem digo que eles estejam mentindo. Não estão. Mas talvez estejam sendo usados na guerra suja do tucanato.
A matéria do UOL tem aquele jeito de jabuti no alto de árvore. Jabuti não sobre em árvore. Alguém botou o jabuti lá em cima.A matéria parece um recado a Alckmin e à turma dele: a briga é pra valer, se você insistir em Dória não terá vida amena.
Todo mundo em São Paulo sabe quem é especialista em dossiês à véspera de eleições. É como se a turma estivesse dizendo ao Alckmin: fica esperto, meu filho; de onde veio esse petardo pode vir muito mais contra você.
A reportagem, desde o título, parece ter sido pensada para atingir não Aparecido, mas diretamente o governador – que disputa com Serra e Aécio as pretensões de representar o partido como candidato a presidente (a prévia em São Paulo é apenas um degrau da disputa nacional).
Por último, fica a pergunta: Edson Aparecido foi o único tucano a comprar apartamento de empresário suspeito? Por que a mesmíssima “Folha” jamais deu destaque ao apartamento comprado por FHC (clique aqui para saber mais sobre o caso) em Higienópolis? Nem tampouco se interessou em descobrir quem ajudou Serra a comprar a casa onde vivia no Alto de Pinheiros?
Ah, mas aí a Folha não faria jus à fama de ser o mais serrista dos meios de comunicação. Pura maldade, aliás.
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Nº 1 de Alckmin comprou imóvel de empreiteiro por 30% do valor
por Ricardo Feltrin e Diogo Pinheiro, do UOL
Chefe da Casa Civil do governador Geraldo Alckmin (PSDB), Edson Aparecido adquiriu de um empreiteiro que tem contratos milionários com o governo do Estado de São Paulo um apartamento de luxo em uma das áreas mais valorizadas da capital paulista por menos de um terço de seu valor de mercado.
Em março de 2007, quando iniciou seu segundo mandato como deputado federal pelo PSDB de São Paulo, Aparecido comprou de Luiz Albert Kamilos e sua mulher, Sarah Giffali de Moura, um apartamento de 366 m², com quatro suítes, cinco vagas na garagem e sacada com vista para o parque Ibirapuera.
Pelo imóvel, Edson Aparecido afirma ter pago R$ 620 mil. A escritura, no entanto, traz o valor de R$ 1,07 milhão. No dia e mês em que o negócio foi fechado, imóvel semelhante no mesmo prédio, na rua Afonso Braz, Vila Nova Conceição, era avaliado em ao menos R$ 2 milhões, levando em conta o valor médio do metro quadrado no bairro (R$ 5.536) calculado pelo Secovi-SP (Sindicato da Habitação).
O apartamento do condomínio Maison Charlotte hoje é avaliado por ferramentas de busca em R$ 8,6 milhões. Corretores ouvidos pela reportagem estimam o valor atual entre R$ 7,5 milhões e R$ 10 milhões.
O condomínio está acima de R$ 6.000. O IPTU, segundo a prefeitura, custará este ano R$ 23.535,30 (se pago à vista).
O empreiteiro Luiz Albert Kamilos é dono da Construtora Kamilos Ltda., empresa especializada em infraestrutura de transportes e rodovias, que desde a década de 90 toca obras milionárias para o governo do Estado –especialmente junto ao DER (Departamento de Estradas e Rodagem). Os tucanos governam o Estado de São Paulo desde 1995.
Apenas nos últimos três anos, a Kamilos recebeu R$ 43 milhões do governo Alckmin, segundo o Portal da Transparência do Estado.
Kamilos também faz parte da diretoria do Sinicesp (Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São Paulo). Sua construtora integra ainda o consórcio Planalto, que, em 2013, venceu leilão feito pelo governo federal do trecho da BR-050 entre Goiás e Minas Gerais. Com a concessão, o consórcio vai receber R$ 95,8 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para investir na rodovia.
“Informação confusa”
Edson Aparecido nega que haja qualquer irregularidade na compra de seu apartamento. Ele afirma que “não conhece” o empresário Luiz Albert Kamilos.
Na primeira resposta encaminhada por e-mail na última segunda-feira (22), o chefe da Casa Civil de Alckmin disse que havia feito um acordo (não registrado) em 2001, para a compra do imóvel. Isso também está declarado na escritura.
Um dia depois, numa segunda versão, o secretário disse que nunca houve qualquer “acordo” e que tal informação consta de fato na escritura, mas é “confusa”.
O secretário afirma ainda que comprou o imóvel por meio da imobiliária Coelho da Fonseca em 2007, mas não explicou por que teria obtido o “desconto”.
Aparecido informa que, como parte do pagamento, foi incluído outro imóvel, então de sua propriedade, no valor de R$ 320 mil.
“Minhas respostas estão embasadas em minhas declarações à Receita Federal”, afirmou o secretário. “Realizei uma compra completamente lícita. Não tinha como saber se o construtor imobiliário (sic) tinha negócios com o governo. Eu não era do governo e pouco me importava com as relações desse proprietário com quem jamais tive contato”, declarou Aparecido.
Procurado duas vezes, o empresário Luiz Albert Kamilos, não respondeu aos pedidos de entrevista e tampouco entrou em contato por e-mail ou telefone (que foram passados aos seus assessores e funcionários).
Casa na praia e terreno não declarado à Justiça Eleitoral
Além desse luxuoso imóvel, Aparecido tem ainda uma casa com piscina em condomínio fechado na badalada praia de Maresias (litoral norte de SP). O imóvel mais barato desse condomínio (Vila Anoman) custa R$ 1,5 milhão, segundo corretoras de imóveis da região, consultadas pela reportagem. Como é um empreendimento muito valorizado, há pouquíssimas unidades à venda.
O secretário afirmou ao UOL que comprou o imóvel em 2005, por R$ 550 mil, a partir da venda de outro imóvel que teria em São Sebastião desde 1998. Porém, não há registro desse imóvel em nenhuma declaração do ex-deputado junto ao TSE entre 1998 e 2010 (ano de sua última prestação de contas eleitoral). Aparecido afirma ter declarado o imóvel à Receita Federal, mas não soube explicar o motivo pelo qual o mesmo imóvel não foi declarado à Justiça Eleitoral.
Braço direito de Alckmin
Edson Aparecido, 58, ocupa hoje o cargo número um do Estado. Comparativamente, ele está para Alckmin como Jacques Wagner está para Dilma Rousseff. A Casa Civil é responsável pela articulação política e também administrativa do governo.
O atual chefe da Casa Civil começou a carreira política na década de 70, como líder estudantil, quando integrou campanhas pela redemocratização do país. É um dos fundadores do PSDB e foi assessor do ex-ministro das Comunicações Sérgio Motta (1940-1998).
Foi deputado estadual entre os anos de 1998 e 2002, elegeu-se deputado federal por duas vezes (2006 e 2010). No ano seguinte, passou a integrar o governo Alckmin, primeiro como Secretário do Desenvolvimento Metropolitano e depois como titular da Casa Civil.
Aparecido coordenou as campanhas de Alckmin à Presidência da República (2006), à Prefeitura de São Paulo (2008) e ao governo do Estado (2014).
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