Um cozidão bem temperado, mas que pode ter gosto amargo para o governador Alckmin (que, aparentemente, não foi convidado para a festinha – mas paga a conta).
por Rodrigo Vianna
O caso do blogueiro que (segundo a “Folha”) recebe 70 mil reais por mês do governo Alckmin – pra falar mal do PT – é só o fio da meada para puxar uma história muito mais intrincada. Vamos por partes…
Primeiro, a “Folha de S. Paulo” indicou que um sujeito chamado Gravataí Merengue (dono do site “Implicante”, que espalha boatos contra Dilma e o PT nas redes), é beneficiário de uma estranha triangulação: o governo Alckmin repassa (através da secretaria de Comunicação, comandada pelo ex-repórter da “Veja” Marcio Aith) recursos públicos para a agencia PROPEG, que por sua vez entrega os 70 mil ao blogueiro (clique aqui para saber mais).
Na sequência, o Diário do Centro do Mundo (clique aqui para saber mais) mostrou que Gravataí (o nome verdadeiro dele é Fernando Gouveia) tem uma sócia importante: Cristina Ikonomidis. Essa moça é ligadíssima a Serra, e já trabalhou nos governos tucanos (sempre por indicação de Serra) - antes de virar oficialmente sócia da empresa de Merengue. Aliás, ela chegou a ser a chefe da Comunicação na secretaria de Cultura tucana – para quem a Appendix (empresa de Gravataí) “prestava serviços”.
Agora, surge outra revelação: Cristina Ikonomidis é casada com Juliano Nobrega (filho do ex-ministro e consultor Mailson da Nobrega). E Juliano – por sua vez – era o segundo homem na hierarquia da secretaria de Aith. Trabalhava dentro do Palácio, pertinho de Alckmin!
Juliano também parece ser muito próximo de Serra, como sugere a foto abaixo, que circula na internet…
Juliano Nóbrega segura a colher de pau ao lado de Cristina Ikonomidis (de camisa preta); Serra tenta sorrir
Reparem bem no roteiro: Márcio Aith é o secretário de Comunicação (indicado por Serra) e Juliano Nóbrega era o segundo na secretaria… Os dois (de dentro do Palácio) faziam pagamentos à PROPEG. Essa, por sua vez, repassava a grana pra empresa de Gravataí Merengue que, logo, teria como sócia Cristina Ikonomidis – a mulher do próprio Juliano!
Bingo!
Um cozidão bem temperado, mas que pode ter gosto amargo para o governador Alckmin (que, aparentemente, não foi convidado para a festinha).
Detalhe maroto: Cristina Ikonomidis só virou sócia (oficialmente) da empresa abastecida com 70 mil reais por mês quando o marido deixou a secretaria de Aith. Isso foi em janeiro/fevereiro de 2015. Hum… E Juliano foi trabalhar onde? Na CDN – uma grande assessoria de imprensa. E pura coincidência: o currículo de Juliano informa que, desde janeiro, ela tem a responsabilidade de cuidar (na CDN) das contas de quem? SABESP!!!
Bingo, de novo.
A SABESP irriga a mídia amiga do tucanato com recursos, na mesma proporção em que deixa de investir no abastecimento de água para os paulistas.
Segundo a Folha, “pelo menos uma das ordens de serviço que liberaram pagamentos à Appendix foram assinadas pelo também jornalista Juliano Nóbrega, então número dois da Subsecretaria de Comunicação do Palácio dos Bandeirantes e marido de Cristina”.
Aqui, o currículo de Juliano, em que ele indica que trabalha pra SABESP.
Na rede tucana de comunicação, o casal Juliano Nóbrega e Cristina Ikonomidis parece ter papel mais importante do que o espalhafatoso Gravataí Merengue.
Acima, o documento na Junta Comercial mostra que Cristina Ikonomidis virou sócia de Gravataí (Fernando Gouveia)
Em 2010, Serra foi surpreendido na campanha presidencial pela força da internet. Achou que bastava o apoio da Globo, e tentou dar o famoso golpe da bolinha de papel (clique aqui pra saber mais). Em 48 horas, a versão foi desmontada pelos blogs. Na mesma eleição, montou-se uma rede difamatória contra Dilma, com panfletos impressos numa gráfica em São Paulo. De novo, a internet mostrou que a gráfica era da família de um velho militante tucano (clique aqui pra relembrar). Irritado, Serra deu o apelido de “blogs sujos” àqueles espaços na internet que não rezavam pela cartilha do PSDB…
Mas os tucanos não ficaram parados. Desde então, se organizaram nas redes. Claro, aproveitaram os blogueiros de direita já estabelecidos (aqueles da Veja, e outros da Globo); aproveitaram também a militância anti-petista… Mas perceberam que era preciso “profissionalizar” o trabalho na internet.
A empresa de Gravataí e Cristina Ikonomidis (mulher de Juliano) é apenas um dos sinais dessa profissionalização. Feita, segundo a Folha, com apoio de recursos públicos.
É assim que o PSDB quer combater a corrupção no Brasil?
Enquanto a turma do PSDB acusava os blogs de esquerda de serem pagos pelo governo federal, surgiu uma rede com vários centros de operação. No Instituto FHC, parecia estar uma dessas centrais: trata-se de entidade privada, não haveria nada de ilegal nisso. O problema é que – agora - descobre-se que a rede tucana tem outras ramificações. Uma delas aponta diretamente para o secretário Márcio Aith – como mostra o jornalista Luis Nassif no post que voce pode ler aqui.
Abaixo, a segunda matéria da “Folha”, indicando as ligações entre Ikonomidis e Juliano Nóbrega. As digitais de Serra aparecem por aí. Vejamos até onde os jornalistas da “Folha” conseguirão avançar sem a interferência do eterno candidato tucano a presidência.
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por Ricardo Mendonça e Lucas Ferraz, na Folha
Uma ex-assessora da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo tornou-se sócia de um blogueiro antipetista que presta serviços de comunicação para a área que ela chefiou até sair do governo Geraldo Alckmin (PSDB).
A empresa é a Appendix Consultoria, criada pelo advogado e blogueiro Fernando Gouveia há dois anos. A empresa recebe dos cofres estaduais R$ 70 mil por mês para atualizar o portal e os perfis da secretaria nas redes sociais.
Sua nova sócia é a jornalista Cristina Ikonomidis, que chefiou a comunicação da Secretaria da Cultura por mais de dois anos e exercia a função quando a Appendix começou a trabalhar para a pasta.
De acordo com documentos oficiais, pelo menos uma das ordens de serviço que liberaram pagamentos à Appendix foram assinadas pelo também jornalista Juliano Nóbrega, então número dois da Subsecretaria de Comunicação do Palácio dos Bandeirantes e marido de Cristina.
Ela deixou o governo em setembro de 2013, três meses após a contratação da Appendix. Cristina virou sócia da empresa em fevereiro deste ano, um mês depois de o marido se desligar do governo.
SEGUIDORES
Como a Folha informou no sábado (18), a Appendix foi criada em janeiro de 2013 por Gouveia, que usa o pseudônimo Gravataí Merengue na internet. Ele se apresenta como “CEO”, ou executivo principal, do site Implicante, que tem quase meio milhão de seguidores no Facebook.
O site difunde notícias, artigos, memes, vídeos e montagens contra petistas. Gouveia também colabora no site Reaçonaria, de mesmo perfil.
Cinco meses após ser criada por Fernando Gouveia com dois amigos, a Appendix foi contratada pela Propeg, uma das três agências que cuidam da publicidade oficial do governo, para prestar serviços à Secretaria da Cultura.
Os R$ 70 mil mensais são pagos para a Appendix fazer “revisão, desenvolvimento e atualização das estruturas digitais” da secretaria, de acordo com documentos oficiais consultados pela Folha. Segundo Gouveia, dois funcionários que fazem esse serviço trabalham nas dependências da própria secretaria.
Com a entrada de Cristina Ikonomidis na Appendix, que tem capital de R$ 28 mil, a empresa passou a ter quatro sócios. Gouveia e Cristina são donos de 40% cada. André Moura e Andres Ponte dividem os outros 20%. Moura e Ponte disseram trabalhar na própria empresa.
O governo do Estado diz que a responsabilidade pela contratação da Appendix é da Propeg, mas relatórios oficiais mostram que o blogueiro presta contas diretamente à Subsecretaria de Comunicação, que é responsável por verificar as informações e autorizar os pagamentos à empresa.
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