Rapper Linha Dura, Maria Ester Lopes Moreira, Carolina Baima, vice-presidente José Stédille, Germano Andrade Ladeira, Thiago Vinícius e Fernanda Papa.
Foto: Janaina Sobrino
Coordenado pelo vice-presidente da Comissão de Cultura, deputado federal José Stédille (PSB/RS), os convidados do Expresso 168, que teve como tema "Como multiplicar experiências bem sucedidas de projetos culturais em comunidades e favelas", expuseram as principais dificuldades enfrentadas. Preocupações com o orçamento, com a valorização da cultura e com a falta de infraestrutura urbana foram temas debatidos pelos representantes de comunidades e favelas do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Cuiabá.
Na opinião do Fundador da CUFA/MT, o rapper Linha Dura, a principal dificuldade está no orçamento. “Nós da comunidade não somos pobres, estamos empobrecidos. Não somos violentos, somos violentados. Quem mora na favela é perito em sobrevivência, usamos o método da sabedoria popular. O que precisamos mudar é o “timing” da lógica, porque as comunidades são diferentes e possuem problemas diferentes, então as ações do Estado precisam observar essas diferenças”, destacou o rapper.
O cantor afirmou que criar um novo bairro é montar um grande negócio. “É preciso ter infraestrutura, dar condições às pessoas que moram naquele lugar, digo, transporte, escolas, hospitais, trabalho, enfim, é preciso urbanizar as comunidades. Apreendi que a nossa luta é diferente da luta de grêmios estudantis e é também apartidária. Além disso, posso falar que a musica me politizou, me formou e me deu autoestima, porque foi através dela que entendi a área orçamentária e apreendi tudo o que sei”, conclui Linha Dura.
Thiago Vinícius da agência Solano Trindade, da Zona Sul de São Paulo, contou que a realidade da comunidade na qual vive mudou a partir do movimento social denominado clube das mães, que se uniram e viabilizam experiências culturais e sociais. “Tenho orgulho de dizer que moro no Capão Limpo, coisa que o meu pai não tinha. A união popular mudou a realidade que era feita de concreto, cimento e muito sangue. O clube das mães nos ensinou que a cultura periférica está em toda cidade, porque conversamos com todas as classes. Na comunidade temos o banco solidário que criou uma moeda local, em três anos movimentamos 70 mil reais e ajudamos os moradores de inúmeras formas. Sabemos que a briga tem hora para acabar, mas a luta não”, destacou Thiago.
O vice-presidente José Stédille enfatizou a importância da cultura como fator formador, econômico e estruturante. “Quando fui prefeito de Cachoeirinha (RS) criei a Secretaria de Cultura, para ressaltar a importância de estimular os conselhos municipais de cultura. Sabemos que a Cultura carece de recursos, aqui no Congresso Nacional se debate projetos, redução da maioridade penal para combater a violência, mas não se discute mais recursos para a Cultura. E segurança não se faz apenas com polícia e armas, segurança pública também se faz com arte, porque se uma praça possui manifestações culturais, não terá espaço para a violência”, explicou Stédille.
O diretor de Programas Especiais de Infraestrutura Cultural do Ministério da Cultura, Germano Andrade Ladeira, afirmou que o governo tem ações direcionadas para as comunidades e favelas. Ele citou como exemplo, a construção de Centros de Artes e Esportes Unificados, os CEUs - uma estrutura física, para desenvolver as manifestações culturais. Mas o diretor reconheceu que além do equipamento é preciso outras ações: “não basta apenas ter o local, temos que capacitar agentes administrativos e da comunidade para realizar a gestão do CEU, cuidar de manutenção, de buscar recursos nos locais apropriados para as atividades que são desenvolvidas”.
A gestora da Instituição e Consultora para Planejamento Estratégico do Grupo Nós do Morro da comunidade do Vidigal (RJ), Maria Ester Lopes Moreira, pontuou que mais importante do que construir um CEU, é vivenciar os reais problemas da comunidade. “É claro que é importante a construção de um local destinado a manifestações culturais, mas o fundamental é criar alternativas sustentáveis para as atividades que já existem. Na comunidade do Vidigal, temos muitas Vilas Olímpicas que serviriam para as atividades culturais, mas elas precisam de manutenção. Outra questão é fomento para a cultura. Infelizmente, o mecenato pela Lei Rouanet não é uma politica cultural suficiente para dar conta da demanda”, explicou Maria Ester Lopes Moreira.
Carolina Baima, gerente de Projetos do Ministério das Cidades, destacou que comunidades e favelas não precisam ser revitalizadas, “elas precisam ter investimento em infraestrutura, no que tange ao saneamento básico, ao transporte público, a saúde e a educação”.
Fernanda Papa, coordenadora Nacional do Juventude Viva pela Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) e Coordenadora-Geral de Relações Institucionais da Presidência da República, analisa que é preciso reconhecer a importância do movimento cultural, que age como agente transformador. “A arte talvez seja a arma da transformação. A politica cultural toca no coração. É preciso trabalhar os instrumentos do Estado, fazer chegar fomento para quem precisa”, disse Fernanda.
O vice-presidente José Stédille solicitou aos convidados que enviassem suas ponderações à Comissão de Cultura afim de que sejam trabalhadas as demandas em forma de projetos e outras ações legislativas.
Grupo Nós do Morro (RJ) reafirma a relevância da cultura local e de suas políticas
Carolina Baima explica como o Governo pode ajudar as comunidades
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