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Blog do damirso

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.

NACIONALISMO E DESENVOLVIMENTO - ensaio sobre as relações Centro-Periferia

14 de Abril de 2014, 12:33, por Daniel Miranda Soares - 0sem comentários ainda

NACIONALISMO E DESENVOLVIMENTO - ensaio sobre as relações Centro-Periferia
Estamos aqui empregando esse termo de forma geral, mais abrangente, no sentido vulgar usado nas relações entre os países; ou seja países que protegem suas indústrias de forma estratégica e planejada de tal forma a permitir o seu próprio desenvolvimento a longo prazo são nacionalistas. E países que permitem a livre entrada e saída de empresas e industrias de qualquer nacionalidade, sem qualquer regulação, são liberais em nosso prévio conceito. Isto aconteceu de forma típica no Japão durante o império Meiji, no século XIX. Se o Japão não tivesse implementado esse plano nacionalista certamente não seria um país tão desenvolvido como ele é hoje. E isso aconteceu também com os países que se industrializaram mais tarde, além do Japão, a Itália, Alemanha e demais países europeus mais desenvolvidos. Nossa tese aqui é que além dos países clássicos da Revolução Industrial (Inglaterra, França e EUA) os outros países que se industrializaram e se tornaram desenvolvidos só conseguiram esse intento com o nacionalismo. Mas esse é o nacionalismo clássico seguido pelos países desenvolvidos, mesmo durante o período liberal, que se estendeu do séc. XIX até 1930. Neste período, os países desenvolvidos à medida que conseguiam se industrializar, protegendo suas indústrias, logo em seguida pregavam o liberalismo no comércio mundial, para expandir suas indústrias a nível global. Os países periféricos, ainda sem indústria, ficam sem poder industrializar, porque sua inserção no comércio mundial, pela troca de produtos primários por produtos industrializados, os impediam de fazê-lo. Quem chega por último na corrida industrial não consegue competir com quem chegou primeiro, já que este adquiriu avanços de produtividade e diminuição de custos, além de investir mais em pesquisa e inovações tecnológicas. Deste modo, estes países já num estágio mais avançado de desenvolvimento industrial, deixam de ser nacionalistas e passam a pregar o globalismo, o livre comércio mundial. Pois agora, eles podem competir, mas ao mesmo tempo impedir que outros países (que se pretendem industrializar) se industrializem.; e assim diminuir a concorrência aos seus produtos. Foi por causa desse processo, a difusão do liberalismo, que poucos países puderam se industrializar totalmente enquanto que a grande maioria dos países, que são do Terceiro Mundo, ficam impedidos de iniciar sua industrialização e acabam se especializando em exportações de produtos agrícolas e minerais e até mesmo semi-manifaturados e algumas commodities.
A partir da crise de 1929, que é basicamente uma crise do sistema liberal, o mundo muda bastante . Os Estados Nacionais começam a intervir no sistema econômico para evitar crises ou amenizá-las. É o período keynesiano, contraponto ao sistema liberal. No Terceiro Mundo (periferia), alguns países iniciam um processo de industrialização, aproveitando a crise mundial que se estende de 1929 a 1949, período em que os países periféricos deixam de receber os produtos industrializados do Primeiro Mundo (países centrais) e passam a substituir importações (produzindo internamente o que antes importavam). Como são países de industrialização tardia, esse processo é doloroso e parcial, mas é um começo. Para iniciar esse processo, países como o Brasil precisavam de investimentos estatais, já que a iniciativa privada era muito fraca na época. Mas os americanos entenderam isso como Nacionalismo, como concorrência ao seu projeto de transformar a América Latina num satélite submisso. Na verdade, aproveitaram a ideologia da Guerra Fria, para além de combater o comunismo e o “estatismo”, defender seus interesses capitalistas e a não industrialização da Periferia. O nacionalismo era uma desculpa que se encaixava na Guerra Fria; ou seja a Guerra Fria vem a calhar para defender os interesses capitalistas dos países centrais. Noam Chomsky em seu livro “O que o Tio Sam realmente quer?” (Editora UnB, 1999) deixa muito claro as intenções do Tio Sam, ao analisar documentos estratégicos de alto nível do governo americano, no pós-guerra: “..os estrategistas norte-americanos expunham a visão de que a principal ameaça à nova ordem mundial, liderada pelos EUA, era o nacionalismo do Terceiro Mundo, algumas vezes chamado de ultranacionalismo ….”. Nestes documentos, os estrategistas defendem que os países periféricos tem o papel de suprir com matérias-primas as necessidades dos países centrais.

O NACIONALISMO e em decorrência a transformação do país numa potência global e independente dos EUA, era vista como uma ameaça ao projeto hegemônico americano no lado ocidental. Nacionalistas eram tachados de “comunistas”, aproveitando a propaganda da Guerra Fria. Getúlio Vargas era uma ameaça, porque tinha criado várias estatais e quando criou a Petrobrás, foi a gota d'água. Morreu no ano seguinte. O embate entre nacionalistas versus entreguistas passa a ter muita importância, a partir deste período. Estudos da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina, órgão da ONU sediado em Santiago do Chile) liderados por Celso Furtado (um dos maiores economistas que o Brasil já teve) e Raul Prebisch (argentino) pregavam que a América Latina devia se industrializar sim, usando o Estado Keynesiano como instrumento de Política Econômica e de Planejamento. Na falta de uma burguesia industrial nacional, o Estado deveria executar este papel, preparando o terreno para a industrialização, via infra-estruturas fundamentais na área de energia, estradas, educação e saúde, saneamento, siderúrgicas, etc. Algumas estatais seriam importantes nesse processo para criar o ambiente propício ao processo de industrialização. O problema é que realmente o processo se desenvolveu mas, substituindo importações. As multinacionais vieram para produzir os produtos antes importados em ramos estratégicos como o de bens duráveis (automóveis, eletrodomésticos, etc.). A própria CEPAL reconheceu mais tarde, que o caminho percorrido pelos países periféricos da AL, só conseguia desenvolver o subdesenvolvimento. Os investimentos foram aplicados na indústria e na infra-estrutura, mas não foram feitos investimentos na área social – educação, saúde e saneamento. Assim, as mazelas do subdesenvolvimento continuavam se reproduzindo. A questão é que a elite dominante e conservadora da AL, se aliavam aos interesses americanos e só investiam nos interesses dessas elites. Investir na área social, para melhorar as condições de vida da maioria do povo, era coisa de “comunista”. Foi por causa disso que armaram um golpe de Estado contra João Goulart. Jango pretendia investir na área social, as chamadas Reformas de Base: reforma agrária, reforma educacional, saúde, saneamento,etc, reforçar algumas estatais, entre elas a Petrobrás. De novo a Petrobrás, Jango tinha um projeto de aumentar o poder da estatal. Aí veio o golpe. Foi tachado de comunista, sendo que o apoio que tinha dos comunistas era muito pequeno. Mas ele era “comunista”, porque era nacionalista, estatista. Por isso que foi derrubado. Como disse Noam Chomsky não havia inimigo maior para os americanos nesta época do que os nacionalistas.


Hoje, depois da Guerra Fria, não tem mais sentido chamar os nacionalistas de “comunistas”. Mas eles (os americanos) ganharam a guerra ideológica do liberalismo contra o intervencionismo estatal. O liberalismo é visto como o sistema econômico perfeito, livre das garras e regulações do Estado. Não deu certo nem pra eles - a atual crise econômica (a partir de 2008) é prova das imperfeições deste sistema. A direita americana e por extensão a direita brasileira, ainda entreguista, defende com unhas e dentes o sistema liberal. É claro, é o sistema que salvaguarda os interesses das grandes corporações globais. Se o mundo fosse dominado pelo sistema liberal, em todos os sentidos, as grandes empresas e corporações multinacionais iam mandar no sistema político e anular todas as leis e direitos adquiridos por trabalhadores no período keynesiano, acabando de vez com o “welfare state” ( o Estado do bem estar social). Estas leis e direitos foram responsáveis pelos melhores indicadores sociais, proporcionando distribuição de renda e níveis elevados de educação e saúde à grande maioria da população dos países centrais. A crise atual na verdade é resultado das medidas tomadas pelo período neoliberal, que se iniciou com a crise dos anos 1970/1980 e desde então vem tentando desmontar o “welfare state” criado no período keynesiano (pós-guerra: 1945-1975). Conseguiram diminuir benefícios sociais, gastos dos orçamentos dos governos e fragilizaram a fôrça das centrais sindicais : os salários caíram pela metade nos EUA, neste novo período liberal. O desemprego aumentou, a concentração de renda e a miséria aumentaram. Estes sempre foram os efeitos sociais dos períodos liberais, que significam mais mercado, menos Estado. Para frear este modelo, os trabalhadores necessitam de ter mais controle sobre o Estado, pois é o único instrumento possível para melhorar as condições de vida da população. No mercado livre, o Capital domina e tem mais fôrça. Controlando o Estado, é possível frear o mercado e controlar seus excessos e abusos, permitindo mais benefícios sociais à população. Além do mais, o mercado livre, totalmente livre, gera crises. É fácil de observar que todos os períodos liberais entraram em crises. A grande crise de 1929 é resultado do movimento totalmente livre do capital produtivo que gerou uma crise de superprodução – mercadorias que não se realizavam no mercado. A atual crise, a partir de 2008, é resultado da total desregulamentação do mercado financeiro, promovido pelas autoridades monetárias americanas, a partir dos anos 1980. Mas mesmo assim os capitalistas insistem que não devem ser regulados, que não devem sofrer interferência do Estado e continuam vomitando seus ideais liberais até hoje, quando por exemplo a mídia burguesa (americana e brasileira) atacam a Petrobrás e inventam crises, no intuito de desvalorizá-la para possível privatização.
É por isso que hoje achamos que o nacionalismo não é suficiente para superar as condições de subdesenvolvimento dos países periféricos. A esquerda brasileira (e latino-americana) não abraça mais totalmente o nacionalismo, mas defende um sistema neokeynesiano. Para evitar que o Brasil se torne um grande cafezal (como era antes de 1930) e como querem os liberais dos países centrais e a direita brasileira, com todas as mazelas do subdesenvolvimento (miséria, fome, pobreza e concentração de renda) é necessário maior controle dos representantes dos trabalhadores e da sociedade civil sobre o Estado e sobre o mercado livre. A intervenção do Estado nos países periféricos é necessária, extremamente necessária para corrigir as distorções sociais, promover a distribuição de renda e direcionar os investimentos em setores estratégicos ao nosso desenvolvimento econômico. Essa é a única saída para superar o subdesenvolvimento e alcançar os melhores indicadores de qualidade de vida para a maioria da população.

Daniel Miranda Soares é economista e administrador público, mestre pela UFV.



VERDADES SOBRE O CASO PASADENA QUE A MÍDIA NÃO DIZ

29 de Março de 2014, 7:46, por Daniel Miranda Soares - 0sem comentários ainda


REFINARIA DE PASADENA















ARGUMENTOS PARA RELACIONAMENTO NAS REDES E DEBATES PÚBLICOS

10 VERDADES QUE NINGUÉM DIZ…

1 – A Petrobras pagou pela refinaria de Pasadena um preço bem menor se comparado com outros negócios fechados também em 2006;

2 – A refinaria custou, ao todo, US$ 486 milhões e não US$ 1,18 bilhão como afirmam. O preço final equivale a US$ 4.860 por capacidade de barril processado por dia. A média do preço de compra e venda de refinaria naquele ano nos EUA foi de US$ 9.734 por barril. Pasadena custou, portanto, menos da metade do valor pago por outras refinarias.

3 – A decisão de comprar a refinaria atendia ao planejamento estratégico da companhia, definido ainda no governo Fernando Henrique, que previa investir em refino no exterior para lucrar com a venda de derivados de petróleo sobretudo no mercado americano.

4 – A proposta foi aprovada pelo Conselho de Administração porque era vantajosa para a companhia e atendia ao planejamento estratégico. Uma instituição financeira contratada apenas para avaliar o negócio recomendou a compra. Empresários que participavam do Conselho e não pertenciam ao governo foram favoráveis à compra porque entenderam que o negócio era bom e o preço, justo;

5 – A cláusula de ‘put option’ não é motivo para polêmica alguma. A opção de a Astra Oil vender sua parte à Petrobras só existiu porque a estatal brasileira tinha direito à palavra final sobre os rumos e os investimentos futuros na refinaria. Se a Astra não estivesse de acordo, teria a opção de vender e a Petrobras, que como já se viu tinha o interesse em ficar à frente do negócio, teria a opção de comprar.

6 – O mesmo vale para a cláusula Marlim: a Petrobras levaria a Pasadena 70 mil barris/dia produzidos no campo de Marlim, porém só tinha comprado 50% da refinaria, ou seja, uma cota de refino de 50 mil barris/dia. Para processar os 20 mil barris/dia excedentes, a Petrobras pagaria 6,9% de rentabilidade para “alugar” parte da capacidade que pertencia aos belgas.

7 – A refinaria está operando e dando lucro para a Petrobras;

8 – Somente depois de 2006, quando se descobriu o Pré-Sal e a demanda no mercado brasileiro aumentou, o Conselho de Administração da Petrobras mudou o planejamento estratégico. O foco passou a ser a exploração do Pré-Sal e a construção de refinarias no Brasil.

9 – A crise financeira mundial, a partir de 2008, esfriou o mercado de derivados de petróleo nos Estados Unidos e, por tabela, o preço das refinarias instaladas naquele país.

10 – A decisão de vender a refinaria de Pasadena faz parte do plano de desinvestimento, anunciado pela companhia em 2011, para concentrar investimentos na exploração do pré-sal e nas novas refinarias no Brasil. Mas a empresa não pretende vender no período de baixa. No último ano, no entanto, o mercado norte-americano já dá sinais de novo aquecimento por refinaria com o perfil de Pasadena.



1) POR QUE COMPRAR UMA REFINARIA NOS EUA EM 2006?

A decisão de investir em refino fora do Brasil estava alinhada ao planejamento estratégico da companhia, definido ainda no governo Fernando Henrique, e é anterior a dois fatores que mudaram o cenário após 2006: a descoberta do Pré-Sal e a crise financeira mundial de 2008.

Desde 1998, o planejamento estratégico da Petrobras já previa expandir sua capacidade de refino adquirindo refinaria no exterior. Na época, o consumo de derivados no Brasil estava estagnado e a companhia decidiu investir em refino fora do país, facilitando a exportação para mercados mais aquecidos.


Conselho dá aval para busca por refinaria

Em 2004, o Conselho de Administração aprovou a identificação de oportunidades de processamento no exterior. O cenário era de margens de refino positivas, demanda crescente e excedente de petróleo pesado. Era o boom da ‘Época de Ouro’ do refino de derivados nos Estados Unidos.

Como estava ‘sobrando’ (excesso de oferta) óleo pesado no mundo – como o brasileiro, o venezuelano e o mexicano – e seguia crescente a demanda por derivados leves, sobretudo nos Estados Unidos, a Petrobras seguiu a mesma estratégia de outros grandes produtores globais de óleo pesado à época: pagar mais barato por uma refinaria de óleo leve nos Estados Unidos e adaptá-la para processar óleo pesado.


2) POR QUE PASADENA ERA UM BOM NEGÓCIO?

Naquele cenário pré-2006, a refinaria de Pasadena era uma oportunidade para bom investimento por duas razões:

1) o preço, que estava abaixo da média para refinarias do mesmo padrão;

2) a localização, em Houston, no Texas, era estratégica: além de facilitar a exportação dos derivados para o mercado norte-americano, é próxima ao Golfo do México, região que passou a ser foco da Petrobras para exploração e produção.


Compra é aprovada pelo Conselho em 2006

A compra foi aprovada pelo Conselho de Administração da Petrobras porque atendia ao planejamento da companhia e a proposta era vantajosa, segundo estudo contratado para avaliar a viabilidade do negócio.

Eis o que membros do Conselho à época afirmam sobre a operação:

Cláudio Haddad, presidente do Insper e acionista da Ambev, afirma: “Havia a opinião do Citibank dizendo que o preço era condizente e a operação se justificava estrategicamente”.

Fábio Barbosa, presidente da Abril e ex-presidente da Febraban, diz: “A proposta de compra de Pasadena submetida ao Conselho em fevereiro de 2006, da qual eu fazia parte, estava inteiramente alinhada com o plano estratégico vigente para a empresa, e o valor da operação estava dentro dos parâmetros do mercado, conforme atestou então um grande banco americano, contratado para esse fim.  A operação foi aprovada naquela reunião nos termos do relatório executivo apresentado.”

Jorge Gerdau, presidente do Grupo Gerdau, diz: o negócio foi decidido com base em “avaliações técnicas de consultorias com reconhecida experiência internacional, cujos pareceres apontavam para a validade e a oportunidade do negócio.”



3) O PREÇO DE PASADENA ERA CARO OU BARATO?

O crescimento da demanda de derivados nos EUA (especialmente de 2004 a 2007) levaram a um aumento médio e progressivo no preço das refinarias. Mesmo assim, o preço pago por Pasadena foi bem inferior à média das transações em 2006.

A referência para saber se o preço de uma refinaria é “barato ou caro” é o custo em dólar por barril processado por dia. Exemplo: uma refinaria que processa 100 mil barris por dia e custa US$ 500 milhões de dólares tem um índice de US$/bbl 5.000,00. É assim que se valora e se compara aquisições de refinarias que têm características similares de produção.

Em 2006, a Petrobras pagou por 50% da refinaria de Pasadena US$ 3.800 por barril de capacidade de processamento/dia.

O valor médio das aquisições em 2006 foi de US$ 9.734 por barril.




4) QUANTO CUSTOU, DE FATO, A REFINARIA DE PASADENA?

Foi noticiado que a refinaria de Pasadena teria custado US$ 1,18 bilhão de dólares para a Petrobras. Na verdade, a refinaria custou cerca de 40% desse valor. Vejamos:

US$ 190 milhões, em 2006, para a compra de 50% da refinaria, que tem capacidade para refinar 100 mil barris de petróleo por dia. Portanto, a Petrobras adquiriu a capacidade de refinar 50 mil barris/dia.

US$ 296 milhões, em 2009, para a compra dos 50% restantes que pertencia à Astra, da Bélgica, valor estipulado pela arbitragem internacional.

Portanto, a Petrobras pagou US$ 486 milhões à Astra para comprar 100% da refinaria. Nada mais. Este é o preço real do negócio. Um índice de 4.860 dólares por barril de capacidadede processamento/dia.

Ao fechar o negócio, em 2006, a Petrobras também comprou por US$ 170 milhões metade do estoque de petróleo que a refinaria possuía. O óleo, no entanto, é matéria-prima, foi processado e vendido como derivado, gerando receita e lucro para a companhia.

Ao comprar os 50% restantes da refinaria, a Petrobras também adquiriu novo estoque de petróleo, que pertencia à Astra, também no valor de US$ 170 milhões. Novamente, o óleo foi processado e vendido.

Portanto, são US$ 340 milhões que foram gastos para comprar matéria-prima. Não tem relação com o investimento em si na refinaria.

A Petrobras pagou também US$ 156 milhões em garantias bancárias ao BNP. É importante que fique claro que tais garantias não se referem à compra da refinaria, mas sim um recurso necessário para sua atividade operacional regular. Arcar com garantias bancárias faz parte da operação de qualquer refinaria. Não é custo para compra nem investimento. Não faz parte do preço.

A Petrobras só pagou todo o valor das garantias bancárias de uma só vez, em 2012, porque os contratos estavam em nome da Astra e, durante a fase de litígio, a estatal não poderia pagar diretamente ao BNP. Concluído o acordo, acertou o pagamento devido.

As despesas geradas pelo litígio com a Astra somaram US$ 5 milhões em honorários de advogados e US$ 150 milhões em juros. A disputa judicial, no entanto, como afirmamos, foi uma decisão para garantir que a Petrobras pudesse investir na ampliação da capacidade de refino e ser a única dona da refinaria, pagando o preço que julgava o correto e não o valor pedido pela Astra.

Por último, foram gastos cerca de US$ 44 milhões nos ajustes finais para o rompimento da sociedade.



5) O QUE PREVIA O CONTRATO? POR QUE A SOCIEDADE NÃO DEU CERTO?

O contrato assinado com a Astra, ao adquirir os 50% de Pasadena por US$ 190 milhões, em 2006, previa a necessidade de investimento para capacitar a refinaria a processar óleo pesado.

O contrato também previa a criação do Comitê de Proprietários, formado um representante de cada sócio, que seria responsável pelas decisões estratégicas para operação e investimentos na refinaria. Esta é uma solução comum quando se trata de empresas com vários sócios e ainda mais comum quando as participações são iguais (caso de Pasadena).

A cláusula de ‘put option’

Caberia ao Comitê de Proprietários a palavra final nas decisões, desde que os dois sócios estivessem de acordo. Em caso de impasse, a Petrobras poderia decidir sozinha.

O acordo, portanto, previa à Petrobras à prerrogativa e decidir as estratégias e os rumos da companhia. Em contrapartida, o contrato previu a cláusula do ‘put option’, que dava o direito à Astra de exigir que a estatal brasileira comprasse sua participação caso não estivesse de acordo com as decisões tomadas pela sócia. Este tipo de cláusula de opção de venda é comum em sociedade entre empresas.

A cláusula Marlim

Pelo acordo assinado em 2006, 70% do óleo processado na refinaria seria brasileiro, procedente do campo Marlim. Ou seja, a Petrobras estava comprando 50% da refinaria, portanto uma capacidade de refinar 50 mil barris/dia, porém o óleo de Marlim demandaria uma capacidade de refino de 70 mil barris/dia.

Na prática, a Petrobras excederia sua cota em 20 mil barris/dia e teria de usar parte da cota da Astra. Seria preciso pagar uma espécie de “aluguel” à empresa belga. Para isso, o contrato previu a chamada cláusula Marlim: a garantia de remuneração de 6,9% à Astra pelos 20 mil barris/dia que excediam à capacidade comprada pela Petrobras inicialmente.

Cláusula sem efeito

Mas essa garantia só teria valor e o pagamento seria feito se o investimento na reforma da refinaria para processamento de petróleo pesado fosse realizado em conjunto pelos sócios. Como isso não aconteceu, a cláusula não teve qualquer validade, como ratificou a Justiça americana ao final do processo litigioso.

Início do litígio –  Astra se recusa a ampliar a capacidade de refinaria

Estudos de viabilidade econômica mostraram, no entanto, que a refinaria seria mais rentável no longo prazo se sua capacidade de refino fosse expandida para 200 mil barris/dia.

A Petrobras defendeu o duplo investimento: adaptação ao óleo pesado e o aumento da capacidade de processamento. A Astra se negou a investir e abandonou a empresa. Começa aí o litígio.

Recursos à arbitragem, que estabelece valor pelos 50% da Astra

A Petrobras recorreu primeiramente à Câmara de Arbitragem, em junho de 2008, e posteriormente à Justiça dos Estados Unidos porque a Astra se negou a fazer o investimento inicialmente previsto em contrato, isto é, a adaptação para processamento de óleo pesado e também de ampliar a capacidade de refino.

A Astra, por sua vez, como não concordou com a decisão da Petrobras de ampliar os investimentos, recorreu diretamente à Justiça para fazer valer a cláusula de ‘opção de venda’.

O trâmite foi longo, mas ao fim do processo judicial chegou-se ao montante de US$ 296 milhões pelos 50% restantes da refinaria. A Petrobras também comprou da Astra, por US$ 170 milhões sua parte nos estoques de petróleo.


6 – A CARTA DE INTENÇÕES PARA ENCERRAR A DISPUTA

Antes da decisão final da Justiça, no entanto, a Diretoria Internacional da Petrobras preparou uma ‘carta de intenções’, elaborada por Nestor Cerveró, para tentar antecipar um acordo amigável.

O documento também previa que qualquer proposta só teria valor na mesa de negociação mediante aprovação da Diretoria Executiva e do Conselho de Administração da Petrobras. Só depois deste aval é que poderia ser entendida como uma proposta oficial da Petrobras. A carta não foi analisada pelo Conselho e, portanto, nunca teve valor de contrato – como a própria Justiça americana ratificou ao final do processo.


7 – A NOMEAÇÃO DO ‘PRIMO’ DE GABRIELLI PARA A PETROBRAS AMÉRICA

José Orlando é engenheiro, sempre trabalhou na área de exploração e produção e está na Petrobras há quase 40 anos. Ele não teve qualquer envolvimento na compra da refinaria de Pasadena. Passou a comandar a Petrobras América (PAI) em outubro de 2008, portanto mais de dois anos após a Petrobras assumir a operação de Pasadena e já na fase de litígio com a Astra. A gestão de Pasadena sempre esteve aos cuidados das diretorias Internacional e de Abastecimento, ambas sediadas no Rio de Janeiro.

Importante ressaltar também que o foco da Petrobras América, dirigida por ele, é a atuação em E&P no Golfo do México.


8 – CENÁRIO MUDA COM PRÉ-SAL E CRISE FINANCEIRA MUNDIAL

O cenário para investimento em Pasadena é anterior à descoberta do Pré-Sal pela Petrobras. Outro dado que muda a partir de 2006 é o crescimento do consumo de derivados no Brasil.

Diante desses dois cenários, a Petrobras decide em reunião do Conselho de Administração concentrar seus investimentos pós-2006 na exploração e produção do Pré-Sal e na ampliação do parque de refino no Brasil.

Investimento em refino sobe 12 vezes a partir de 2006

Entre 1998 e 2005, a Petrobras investia internamente US$ 200 milhões por ano em refino.  De 2006 a 2011, a empresa passou a investir US$ 200 milhões por mês – US$ 2,4 bilhões por ano -, 12 vezes mais que o período anterior.

Crise de 2008 provoca queda brutal das margens do refino nos EUA

Enquanto a demanda crescia internamente, o cenário externo mudou radicalmente após a crise financeira de 2008. O consumo de derivados de petróleo nos Estados Unidos foi fortemente afetado pela crise, encerrando-se o ciclo da ‘Época de Ouro’ do refino no país.

As margens para venda de derivados de petróleo caíram sensivelmente, afetando o preço  das refinarias instaladas no país.


9 – O PLANO DE DESINVESTIMENTO E A OFERTA DA VALERO

Em 2011, com a mudança de cenário do mercado externo após a crise financeira de 2008, e diante da necessidade de investir em pesquisa e tecnologia para manter o cronograma de exploração e produção do Pré-Sal, a Petrobras decidiu vender ativos no exterior para fazer US$ 14,5 bilhões em caixa.

É importante prestar atenção em um ponto: por ser uma decisão estratégica e planejada, foram mapeados os ativos fora do Brasil que poderiam ser negociados, porém sem pressa e procurando encontrar o melhor preço possível na venda.

A refinaria de Pasadena é um dos ativos mapeados no exterior, porém não pode ter pressa para fazer qualquer negociação. As condições do mercado em 2012 não favoreceriam um bom preço, uma vez que as margens de rentabilidade do refino nos Estados Unidos caíram sensivelmente após a crise de 2008.

Podemos dizer que em 2012, quando a Valero fez a oferta de US$ 180 milhões, vivíamos um momento de baixa, portanto não atraente para o negócio.

Entretanto, o mercado de derivados de petróleo nos Estados Unidos começou a se aquecer agora em 2013, o que, com certeza, elevará o valor de revenda da refinaria.

REPRODUZIDO DO SITE DE  PAULO HENRIQUE  AMORIM

www.conversaafiada.com.br/economia/2014/03/28/argumentos-para-defender-a-petrobras/



Descoberto o falsificador da reportagem da France Football

5 de Março de 2014, 5:47, por Daniel Miranda Soares - 0sem comentários ainda

“A Copa do Medo”, o falsificador e o terrorismo dos brucutus atucanados

3 de março de 2014 | 12:10 Autor: Fernando Brito

picareta

Alertado pelo Diário do Centro do Mundo, fui ler no UOL a história da falsificação da reportagem da France Football sobre  ”a Copa do Medo” no Brasil.

“O jornalista francês Éric Frosio, de 36 anos, se surpreendeu ao saber que uma reportagem que havia escrito sobre a Copa do Mundo no Brasil para a publicação francesa France Football estava sendo compartilhada por centenas de milhares de brasileiros na internet. Não demorou muito, porém, para Frosio se decepcionar ao notar que o texto que estava sendo compartilhado não tinha nada a ver com aquele que ele tinha produzido.

Uma falsa versão do texto, que cita frases atribuídas de forma errada à revista francesa e que, supostamente, mostram problemas do Brasil, teve mais de 200 mil compartilhamentos no Facebook. “Fiquei surpreso e chateado. Usaram a credibilidade da revista para passar ideias erradas, coisas que não escrevemos”, disse Frosio ao UOL Esporte. “Acredito que tenham feito isso com o objetivo de atacar as políticas da presidente Dilma Rousseff, que tentará a reeleição.”

E foi mesmo, Éric.

O autor da falsificação foi um cidadão chamado Luiz Surianni, que se identifica como jornalista formado em Harvard e presidente de várias entidades, entre elas uma Federação de Centros Espíritas e de Candomblé.

Surianni, um coxinha tardio, é só um exemplo da picaretagem que está tomando conta da rede – patrocinada por uma direita sem perspectiva eleitoral – e, pior, da vida brasileira.

Não passa de um imbecil fanático, espumando ódio e fazendo das suas na periferia das rodas tucanas, que adoram um brucutu sem ética como ele. Uma rápida pesquisa mostra que o cidadão diz dirigir uma “fundação” que leva seu nome para captar dinheiro “para crianças com câncer, uma empresa de lobby, uma “Imprensa Press Brasil” e outras instituições imaginárias.

O melhor da história toda é  que o francês Éric faz uma observação muito interessante, que merece nossa reflexão.

“Com relação à percepção que os estrangeiros têm do Brasil, o jornalista acredita que a violência seja o assunto mais lembrado. “Nas outras Copas que cobri, na Alemanha, na França, a gente fica com a ideia de que é só diversão, futebol e alegria. Aqui também vai ter isso, mas a violência estará presente”, afirma o repórter. “Essa é a primeira pergunta que me fazem sobre o Brasil: ‘É violento? É perigoso?’ Achava que isso estava mudando. Mas esse ano, principalmente no Rio, parece ter voltado.”

Sim, Éric, está voltando e a origem, se você pensar um pouco, é o “pacto entre anormais” firmado pela mídia, coxinhas, extrema direita e oposição.

Eles precisam do medo a que se refere a revista, porque não tem outra forma de voltar ao poder, senão assustando de todas as formas e sem nenhuma ética,  como você mesmo viu com a falsificação de sua matéria, o povo brasileiro.



A guerra suja da Syngenta contra o cientista Tyrone Hayes

2 de Março de 2014, 9:11, por Daniel Miranda Soares - 0sem comentários ainda

NOAM CHOMSKY ESTAVA CERTO. As Corporações são Totalitárias e anti-democráticas como os regimes nazistas. Não querem nosso bem, só querem lucro, mesmo que seus produtos matem e prejudiquem a natureza.

Em entrevista ao Democracynow, o cientista Tyrone Hayes estranha que as multinacionais farmacêuticas produzam tantas substâncias cancerígenas, quanto produtos que combatem o câncer.

Veja esta reportagem publicada no Viomundo:

http://www.viomundo.com.br/denuncias/a-guerra-suja-da-syngenta-contra-o-cientista-tyrone-hayes.html

A guerra suja da Syngenta contra o cientista Tyrone Hayes

publicado em 25 de fevereiro de 2014 às 18:51

por Heloisa Villela, de Nova York

O trabalho de pesquisa do cientista Tyrone Hayes mais parece um roteiro pronto para um diretor como Martin Scorsese.

A jornalista Rachel Aviv, da revista New Yorker, contou a saga de Hayes em nome da Ciência.

Uma pesquisa que bateu de frente com a Syngenta, a gigante suíça que fabrica pesticidas e vende sementes.

Em 1998 Tyrone Hayes já trabalhava no laboratório de biologia da Universidade da Califórnia em Berkeley quando foi convidado, pela Syngenta, para fazer uma pesquisa a respeito do herbicida atrazina, fabricado pela Syngenta. Hayes topou. Ele tinha trinta e um anos e já havia publicado vários trabalhos sobre o sistema endocrinológico dos anfíbios.

Os dois lados, com certeza, se arrependeram da parceria. Hayes descobriu que o atrazina atrapalhava, ou até impedia o desenvolvimento sexual dos sapos. A empresa não gostou do resultado, tentou impedir a publicação do estudo, tentou comprar os dados para mantê-los em segredo e as relações da empresa com o cientista foram rompidas, definitivamente, no ano 2000.

Mas Hayes não é do tipo que trabalha apenas pelo dinheiro. O que ele percebeu na pesquisa atiçou a curiosidade do cientista e ele continuou estudando os efeitos do atrazina sobre os anfíbios por conta própria.

O artigo de dez páginas da revista New Yorker conta como a empresa estruturou e levou a cabo uma ampla campanha de difamação de Hayes com o objetivo de destruir a reputação do cientista.

Estudou todos os aspectos profissionais e pessoais da vida dele para melhor explorar qualquer ponto fraco. Lembra demais a descrição de táticas descritas em detalhes pelo jornalista Rubens Valente no livro Operação Banqueiro.

Como já se desconfiava por aqui, as grandes empresas farmacêuticas e do agronegócio contratam cientistas e pesquisadores para que repitam informações que interessam às empresas. E muitos se prestam, sem pudor, a esse papel.

Pior: o artigo da New Yorker relata as manobras adotadas pela empresa para comprar, também, o apoio dos responsáveis pela aprovação de drogas no mercado norte-americano.

Os riscos que o herbicida atrazina oferece à saúde foram considerados sérios o suficiente para que o produto fosse banido na Europa. Nos Estados Unidos, continua sendo usado em cerca de metade da produção de milho do país.

No Brasil, também é aplicado à vontade nas plantações.

A perseguição a Tyrone Hayes foi tão intensa que ele passou a ser visto, pelos colegas, como um paranoico. Achava que tinha a conta de e-mail monitorada, que era perseguido, que não podia fazer palestras sem a presença de agentes da Syngenta que tentavam intimidá-lo e criar dúvidas a respeito das conclusões que ele apresentava.

Para se prevenir, ele passou a copiar os dados da pesquisa e enviar para a casa dos pais. Usou o e-mail como forma de confundir o adversário, com a ajuda dos alunos que trabalhavam no laboratório com ele. Recentemente, ficou provado que Hayes não era nada paranoico e que a conspiração existia de fato.

Um dos únicos biólogos afro-americanos de destaque do país, Tyrone Hayes era considerado um dos melhores professores de Berkeley e uma das grandes promessas do meio acadêmico e científico.

Ao longo dos últimos 14 anos de guerra aberta contra a Syngenta, ele acabou perdendo o laboratório em Berkeley. Mas de certa forma, foi vingado.

A Syngenta foi processada em uma ação coletiva por 23 municípios do meio-oeste dos Estados Unidos. Eles acusaram a empresa de esconder o perigos reais do atrazina para a saúde.

Por conta do processo, jornalistas norte-americanos tiveram acesso a documentos internos, memorandos e e-mails da empresa. O trabalho de Tyrone Hayes foi a base científica usada pelos advogados dos municípios.

Desde que passou a se dedicar ao estudo dos efeitos do atrazina sobre animais e até sobre humanos, Hayes angariou seguidores.

Outros cientistas seguiram a mesma linha e ampliaram as descobertas do pioneiro na área. E hoje já existem resultados que falam em defeitos de nascimento em humanos. Enquanto os pesquisadores acumularam dados contra o herbicida, a empresa se ocupou em colher informações sobre Hayes.

Em entrevista ao programa DemocracyNow! da jornalista Amy Goodman, Tyrone Hayes contou que as ameaças não paravam na esfera científica.

Ele disse que um representante da empresa o abordou antes de uma palestra e sussurrou que ele podia ser linchado, que ía mandar uns rapazes para mostrar a Hayes como é ser gay e chegaram até a ameaçar a segurança da mulher e da filha dele.

Enquanto isso, vários trabalhos foram apresentados à EPA (Agência de Proteção Ambiental) a respeito dos perigos do atrazina para a saúde e da contaminação do solo e da água nos locais onde ele é usado.

Dados científicos que as autoridades norte-americanas refutaram duas vezes: mantiveram a licença do produto, sem restrições.

Depois também veio à tona que alguns membros do comitê da EPA, que tomou a decisão favorável ao atrazina, tinham relações com a Syngenta.

Este ano, o herbicida, o segundo mais usado nos Estados Unidos, será avaliado novamente. Quem sabe qual será o resultado da análise desta vez…

PS do Viomundo: A pesquisa do cientista demonstrou que o herbicida provoca a mudança de sexo em sapos; na excelente entrevista que deu ao DemocracyNow!, ele estranha que os conglomerados produzam tanto substâncias cancerígenas quanto contra o câncer. Por que $erá?



A “Fabricação do Consenso” segundo Noam Chomsky

28 de Fevereiro de 2014, 7:21, por Daniel Miranda Soares - 0sem comentários ainda

A “Fabricação do Consenso”  segundo Noam Chomsky

O documentário “Chomsky & Cia” é de 2008 e explica como a mídia manipula a opinião pública via fabricação do consenso. Chomsky, considerado o intelectual mais popular e citado do mundo, também é um ativista. Para mostrar como funciona a fabricação de opinião, Chomsky dá exemplo de dois padres dissidentes da década de 80. O 1º, polonês, se tornou o símbolo mundial do terror soviético e o 2º, de El Salvador não teve tanta importância. Em 24 de março de 1980 em El Salvador, Oscar Romero foi assassinado enquanto rezava missa. Ele lutava contra a ditadura apoiada, armada e imposta ao seu país pelos EUA. Seu assassinato causou muito menos comoção que o de seu colega, o padre Popieluszko em 14 de outubro de 1984, na Polônia. O padre dissidente foi assassinado pela polícia do poder comunista. A emoção foi muito grande, a mídia se indignou, o assassinato chegou às manchetes 10 vezes na capa do The New York Times. Noam Chomky e  Edward Herman escreveram um livro em que estudam detalhadamente os dois assassinatos. Resultado: o padre dissidente do regime comunista da União Soviética recebe 100 vezes mais importância que o padre de El Salvador, vítima da ditadura apoiada pelos EUA.

Mas como essa manipulação se dá? Através de complô, serviço secreto? Não. Para Chomsky os EUA não são uma ditadura, a mídia é livre. Mas livre ? Os jornalistas como na França acham que são totalmente livres. Segundo Chomsky se você não satisfizer determinadas condições e requisitos você não será um jornalista de destaque. Isso ilustra a diferença entre estados totalitários e sociedades democráticas. No estado totalitário, o Estado produz e declara a política do partido, você tem que aderir. No estado democrático, a política do partido não é articulada, é pressuposta. Nesse pressuposto ela promove um debate ardente, mas dentro da estrutura do pressuposto. Ninguém questiona, é como o ar que respiramos. Ele penetra na política do partido dando a impressão que há um debate.  O termo “fabricação do consenso” aparece nos anos 1920 criado pelo jornalista Walter Lippman (1889-1974) : significa ganhar adesão e apoio da opinião pública criando “ilusões necessárias”. As ilusões podem ser de criação de necessidades artificiais ou ao contrário a criação do medo, insegurança ou até o terror ou seja a ilusão que cria a desilusão. Walter Lippman vê o povo como um rebanho que se perde facilmente por emoções, medo, incapaz de cuidar de suas coisas, e que deve ser enquadrado, controlado e guiado por uma elite de tomadores de decisões esclarecidos. As pessoas devem ser desviadas para ficarem inofensivas, é preciso submergí-las e atordoá-las com informações, para que não tenham tempo de refletir. Para Chomsky o triunfo da lavagem cerebral sobre os libertados da democracia liberal, é obter, sem violência, sem tortura, o que os totalitaristas conseguem com o uso das armas.

Perguntam ao Chomsky: como o governo influencia a mídia? Ele responde: o governo não influencia a mídia. É como perguntar: como o governo pode convencer a General Motors a aumentar os lucros ? Não faz sentido, a mídia é feita de grandes corporações que tem o mesmo interesse das empresas que dominam o governo.

Existe uma diferença entre a opinião pública e a opinião culta (das elites). A mídia é mais influente nos setores mais cultos e intelectuais, mas muito menos influente na opinião pública. P.ex. durante a campanha de adesão da França à União Européia, as elites e a mídia trabalharam pelo “sim”, enquanto que no referendo popular o povo foi contra. A opinião culta corresponde às políticas públicas.

Mas como mudar a opinião pública? Para Chomsky é muito fácil, é só provocar um incidente. Para provocar a guerra do Vietnã, o presidente Lyndon Johnson só declarou guerra, depois de dizer que o navio americano Maddox tinha sido atacado pelos comunistas em 1964. Um relatório oficial comprovou mais tarde que o navio não havia sido atacado. Outro exemplo: a guerra do Iraque. Aproveitou-se do 11 de setembro para atacar o Iraque, dizendo que eles possuiam armas de destruição em massa. Fizeram a guerra (a indústria bélica prosperou), logo depois descobriu-se que não havia aquelas armas. Nos dois casos, é bom que se diga, que o governo conseguiu o consenso (político) para iniciar as guerras, mas mais tarde houve protestos populares (1968 - Vietnã)) contra as duas guerras. No caso do Iraque, os americanos conseguiram a adesão de alguns países europeus, mas houve grandes protestos populares nestes países.

Em sociedades democráticas a mídia tem um papel: fazer com que a população absorva os valores, as formas de pensar e a visão do mundo que estão de acordo com os interesses das elites. O caso dos transgênicos. No final dos anos 90 os transgênicos eram mal vistos pela população. Agências foram contratadas para passar mensagens positivas e foi feito todo um trabalho sobre linguagem, escolhendo as palavras, como “natureza” e “natural”  e omitindo palavras proibidas de serem usadas. Assim a Monsanto foi aconselhada a usar uma linguagem positiva a favor dos transgênicos. Mas o caso foi abafado também em outras frentes: as empresas financiaram todo um complexo de ações para “liberar” os transgênicos, tais como: influenciar relatórios científicos (até adulterar alguns), participar de comissões de fiscalização dos governos, comprar políticos e a batalha judicial. Nesta última eles perderam em alguns campos em países da Europa, onde são proibidos. Podemos acrescentar que este caso também serve para diversos outros: o caso do “aspartame” (que chegou a ser proibido e depois liberado pela FDA, órgão que passou a ser controlado pela indústria farmacêutica) e no Brasil, o caso dos “agrotóxicos” (hoje vários movimentos sociais estão lutando pela proibição deles - pelo menos dos mais perigosos que já provocaram várias mortes, câncer e envenenamento).

Mudanças Climáticas. Matéria catastrófica foi publicada sobre o acidente da Exxon no mar, provocando mortes e poluição. A Exxon Mobil prometeu US$10 mil a cientistas que escrevessem artigos que diminuíssem a importância das mudanças climáticas. Patrick Michaels, prof. Phd começa a discordar dos cientistas que pregam o aquecimento global. Aparece em todos os jornais e manchetes. Ele diz que há um esfriamento e a mídia divulga que ele diz a verdade. Aquecimento global vira resfriamento global. Mas Patrick tem uma pequena ligação com a Exxon. A Exxon financiou 40 grupos de lobistas para pressionarem o domínio político, mídia e científico. E isso pode explicar porque Chomsky afirma que não há compatibilidade entre capitalismo e democracia. As corporações são tirânicas, anti-democráticas: são as instituições que mais se aproximam do estado totalitário, que não se sentem em obrigações com o povo. E são predadoras. Elas dominam a mídia e o Estado. Para o povo se defender destes predadores, o único instrumento que eles tem é o próprio Estado. Não é uma arma muito poderosa, porque o Estado é aliado destes predadores.

Chomsky prega a democracia industrial. Democracia industrial significa que os trabalhadores vão controlar as instituições, as fábricas, o comércio a distribuição e as comunidades. Associações voluntárias vão substituir o Estado no futuro. São os sovietes ? (pergunta do repórter): Eram os sovietes, mas temos de lembrar que a primeira coisa que Lenin e Trotsky fizeram foi destruir os sovietes e os conselhos dos trabalhadores. E todas as instituições democráticas onde estavam as pessoas.

Para Jean Bricmont, professor da Universidade de Louvain, é difícil classificar Chomsky, ele é muito original, não se classifica nas correntes tradicionais (marxista, leninista, trotskista, esquerdista, socialista, não é liberal, nem Nietszche, nem Heidegger) suas raízes se encontram no Iluminismo, no positivismo lógico do sec. 20, na obra de Russell, no trabalho dos anarquistas pouco conhecidos (Roquere, Abad, Santillán), nos marxistas antileninistas dos conselhos, mas como grande pensador seu pensamento é original. Não podemos reduzi-lo a uma corrente apenas. Ele se diz “anarcossocialista”.

Daniel Miranda Soares é economista e administrador público aposentado, ex-professor universitário.