Entrevista com Sérgio Luís Bertoni, Metalúrgico, Blogueiro, Mestre em Filosofia Social pela Universidade Estatal de Moscou M.V. Lomonossov, coordenador de TIE-Brasil e presidente da Fundação Blogoosfero.
Como surgiu o Blogoosfero?
Blogoosfero surgiu a partir de uma necessidade muita concreta d@s blogueir@s progressist@s. Em 2010 tivemos muitos problemas com censura à blogs, vári@s blogueir@s foram julgad@s e condenad@s a retirar seus conteúdos do ar e a pagar multas descabidas. Os provedores comerciais, onde os blogs estavam hospedados, não tinham o menor interesse em defender blogueir@s e, para preservar seus negócios, retiravam conteúdos até mesmo sem decisão judicial.
No 1º Encontro Estadual dos Blogueir@s Progressistas do Paraná, a judicialização da censura e a necessidade de termos uma internet segura, que protegesse tanto os conteúdos publicados quanto seus autores, estiveram em pauta.
Discutiu-se a criação de uma internet “blindada”, segura, em plataforma tecnológica própria, onde os conteúdos ali publicados e a tecnologia fossem nossos, desenvolvidos no Brasil.
Entre os softwares existentes no mercado, a absoluta maioria é desenvolvida nos países do norte. O único software para blogs e redes sociais desenvolvido no país e no sul do planeta naquele momento era o noosfero, criado a partir das necessidades do movimento de economia solidária e mantido pela Colivre, sediada em Salvador, BA. Portanto, um software comunitário e livre desenvolvido por movimentos sociais e iniciativas de economia solidária.
O encontro paranaense aprovou a proposta de desenvolvimento do Blogoosfero (acrônimo de blogs com noosfero), assim como o estabelecimento de contatos com os participantes e organizadores dos demais Encontros Estaduais e do Nacional de Blogueiros Progressistas, de forma a criar uma plataforma de comunicação de abrangência nacional.
As conversas levaram à formulação da proposta apresentada no 2º Encontro Nacional de Blogueir@s Progressistas, realizado em Brasília em 2011, onde foi aprovada. Em 26 de maio de 2012, no 3º Encontro Nacional de Blogueir@s, realizado em Salvador, BA, aconteceu o lançamento oficial do Blogoosfero.
Blogoosfero é uma plataforma web, livre a autônoma desenvolvida para que @s blogueir@s possam hospedar seus blogs com segurança, sem estarem atrelados a serviços ou contratos com multinacionais do segmento. O conteúdo postado no Blogoosfero é de propriedade de seu autor e está protegido contra possíveis intervenções das grandes corporações e governos.
Vários são os casos de blogs brasileiros hospedados em provedores comerciais estrangeiros ou nacionais que são retirados do ar sem aviso prévio. O Blogoosfero vem na contramão das restritivas políticas de privacidade e de propriedade do conteúdo difundidas pelos provedores comerciais.
Antecipando-se à aprovação do Marco Civil da Internet, o Blogoosfero defende desde as suas origens que, caso algum blogueir@ seja acionado na justiça, seu blog e/ou conteúdos publicados só serão retirados do ar se a decisão judicial em última instância for desfavorável ao blogueir@.
Outro diferencial do Blogoosfero é o seu desenvolvimento colaborativo, ou seja, os usuários da plataforma podem opinar e, assim, ajudar a melhorar sua usabilidade constantemente, sugerindo modificações, novas funcionalidades, etc.
O Blogoosfero não é apenas uma plataforma para hospedar blogs, ele é uma Plataforma de Comunicação que busca integrar cada vez mais os usuários, trazendo uma nova concepção de rede social, as Redes Sociais Federadas.
Outro diferencial que a plataforma do Blogoosfero oferece a seus usuários está na possibilidade de espelhamento de blogs.
Se você já possui um blog hospedado em outra plataforma, pode através do serviço RSS espelhá-lo no Blogoosfero, ou seja, tudo o que você escreveu até hoje em seu antigo blog será publicado também no seu blog no Blogoosfero, criando uma espécie de backup de seus artigos. Caso aconteça alguma coisa com seu blog original (invasão, retirada arbitrária de conteúdos, etc) tudo que você produziu está seguro e salvo no Blogoosfero.
O Blogoosfero aponta também para uma mudança no modo como o brasileiro utiliza as possibilidades e ferramentas da internet, preconizando uma real Liberdade de Expressão. Para os idealizadores do projeto, na era da informação digital, não existe liberdade de expressão sem liberdade tecnológica. Se você não domina as ferramentas de desenvolvimento, se você não domina a tecnologia que usa, ficará à mercê das grandes corporações, que lucram milhões de dólares com as informações que postamos, teoricamente, de graça.
Ao escolher a plataforma Blogoosfero, o usuário não está apenas criando um novo canal de comunicação. Está acessando uma rede crítica e capaz de mobilizar outros sujeitos que permitirão promover o diálogo construtivo e propositivo, além de possibilitar uma nova dinâmica de construção e disseminação dos conteúdos produzidos em rede.
O Blogoosfero é hoje referência quando o debate é: soberania tecnológica, liberdade de expressão e segurança dos dados.
Quais foram os melhores momentos do blog/projeto?
O processo de articulação para tornar possível o desenvolvimento do Blogoosfero foi altamente excitante. Porém, o lançamento de nossa Plataforma de Comunicação Livre e Colaborativa no 3º Encontro Nacional de Blogueiros foi dos momentos mais prazerosos, um dos marcos de nosso movimento de blogueiros progressistas, pois significou desafiar, na prática, no processo produtivo, às grandes corporações nacionais e transnacionais tanto da velha mídia, como das novas mídias digitais que tem a internet como meio de difusão.
O período eleitoral brasileiro de 2012 foi outro momento importante na vida do Blogoosfero, quando os acessos à nossa plataforma livre e soberana aumentaram exponencialmente pondo a prova sua segurança e estabilidade. E o Blogoosfero resistiu bravamente aos milhares de acessos das pessoas que nele encontram artigos e informações variadas e de qualidade que lhes permitiam tirar suas próprias conclusões sobre o processo eleitoral em curso.
Não podemos deixar de notar que as denúncias de Edward Snowden, em junho de 2013, além de confirmar aquilo que os movimentos de blogueir@s e do software livre já diziam sobre a segurança na rede quando defendiam a criação do Blogoosfero, deu um impulso poderoso à nossa plataforma. As pessoas passaram a procurar por ambientes livres e seguros e encontraram no Blogoosfero este espaço.
Em 2014 nossa Plataforma de Comunicação Livre e Soberana experimenta um crescimento constante, tanto de acessos quanto da oferta de serviços, como a incorporação de novas funcionalidades, tais quais a TV.blogoosfero e o sistema de Ensino à Distância. Blogoosfero participa ativamente do lançamento do consórcio de desenvolvimento e cooperação político-tecnológica unindo as várias iniciativas que utilizam o software livre nacional noosfero.
Quais as dificuldades que o blog/projeto enfrenta?
Além da tradicional dificuldade de financiamento que todo projeto inovador e desafiador enfrenta, um dos principais desafios para o Blogoosfero é este processo de transformação dos brasileiros da condição de meros usuários de tecnologias para produtores livres e soberanos das mesmas.
Há um longo caminho a percorrer até que se compreenda que a existência de pessoas preocupadas com o futuro da Democracia e da Humanidade, organizadas em torno de redes de informação alternativas, não é suficiente na era digital.
Precisamos também controlar as tecnologias usadas, saber como elas funcionam e o que fazem com as informações e dados que nelas publicamos.
As redes alternativas fazem um contraponto informacional e político precioso: impedem que os planos dos golpistas neoliberais sejam facilmente aplicados.
Cidadãos de distintos países trocam informações em suas redes de contatos. Estas as divulgam e logram desmontar as versões mentirosas disseminadas pela imprensa patronal a serviço dos grandes interesses econômicos. Assim tem sido no Brasil, assim tem sido na Venezuela, na Argentina, Equador e até mesmo na Ucrânia.
Se não existissem fontes alternativas de informação e meios eletrônicos soberanos para sua divulgação, certamente a vida dos golpistas seria muito mais fácil e o resultado de suas ações contra os povos mais avassalador.
Além das guerras convencionais, enfrentamos uma verdadeira ciberguerra mundial que potencializa a tradicional guerra informacional. EUA e UE gastam bilhões de dólares e euros anualmente para manter a infraestrutura que torna possível a ciberguerra. Seus serviços secretos, aliados às empresas transnacionais, investem bilhões em redes digitais privadas para manter as pessoas plugadas o maior tempo possível. Conectadas, elas consomem, sem a menor chance de raciocínio, conteúdos devidamente preparados para que aceitem determinadas “verdades” produzidas pelos ideólogos do pensamento único neoliberal.
Estamos em uma guerra operada por grandes potências industriais e, principalmente, tecnológicas, que possuem um roteiro muito claro para colocar as mãos sobre as riquezas naturais e minerais dos países. Logo, para defender-se e preservar-se, os países pobres precisam desenvolver mais e novas tecnologias livres e soberanas, que permitam aos povos resistir aos ataques desferidos pelo grande capital transnacional.
A existência de redes livres e soberanas, como Blogoosfero, compõe o novo cenário logístico da resistência digital e da luta dos setores populares e democráticos em todo o mundo. Estas redes são o contraponto tecnológico à política intervencionista e centralizadora das grandes redes digitais privadas, mantidas por empresas transnacionais.
O lema do Blogoosfero, por exemplo, é “Ocupar a Internet, Resistir e Produzir nossos próprios conteúdos e tecnologias”, porque sem as iniciativas livres e soberanas, o controle ideológico e tecnológico dos países ricos sobre os países pobres seria ainda mais violento do que é atualmente.
Sem as tecnologias livres e soberanas, a recolonização cultural, política e econômica dos países do terceiro mundo já seria um feito muito além das intenções concentradoras do grande capital transnacional que hoje observamos.
E esta conscientização dos usuários de tecnologias digitais é um dos maiores desafios enfrentados pelo projeto Blogoosfero.
Como você avalia a importância da blogosfera progressista no cenário político e midiático brasileiro?
A blogosfera progressista brasileira é um contraponto ao pensamento único neoliberal que impera nas velhas mídias nas últimas décadas.
Embora numericamente pequena e economicamente pobre, a blogosfera progressista tem conseguido pautar vários debates importantes no país, tais como Democratização das Comunicações, Marco Civil da Internet, Direito à Verdade, Aprofundamento da Democracia, Liberdade de Expressão, Direito à Informação, Soberania e Independência do Brasil, Desenvolvimento Econômico com Direitos Humanos e Sociais.
A blogosfera progressista muitas vezes consegue forçar as velhas mídias a repercutir debates iniciados nas redes sociais e na blogosfera, incomodando profundamente aos barões da imprensa nativa, neoliberais acostumados a criticar o Estado, mas que vivem a mamar em suas tetas.
A blogosfera progressista se diferencia das velhas mídias por difundir e distribuir informações de qualidade, sendo uma grande produtora de conteúdos diversificados que atendem aos mais diferentes interesses dos leitores. É sem dúvida um dos mais importantes movimentos em defesa da Liberdade de Expressão no Brasil e no mundo, por praticá-la diuturnamente.
No Brasil é a blogosfera progressista quem pratica o jornalismo factual e investigativo, que tanto falta nos meios de comunicação das velhas mídias, levando aos leitores opiniões qualificadas e embasadas, que desmentem as campanhas ideológicas montadas pelo “latifúndio midiota” brasileiro.
A blogosfera progressista também é ousada!
Busca, além da informação, introduzir novos debates na sociedade brasileira, sem medo de colocar o dedo nas feridas e mazelas de nossa sociedade hipócrita e falso moralista.
Já o desenvolvimento do Blogoosfero nos coloca em um lugar único no blogosfera mundial, pois além de produzir conteúdos, partimos também para a produção tecnológica, produção dos meios pelos quais propagamos nossos conteúdos, debatendo processos de desenvolvimento tecnológico, defendendo a soberania tecnológica do país e abrindo novas frentes de ação que passam pelo enfrentamento às grandes corporações internacionais que tentam criar verdadeiros latifúndios cibernéticos.
A blogoosfera progressista, diferentemente das velhas mídias vendidas ao imperialismo, acredita nas potencialidades do Brasil e investe em gente, na construção coletiva de conhecimento e em tecnologia, pois sabe que isso torna uma nação mais rica social, intelectual e economicamente falando.
Como você enxerga as potencialidades da Internet na questão da democratização da mídia?
Sejamos claros. Na era da informação digital, a democratização das comunicações depende diretamente da democratização do acesso à internet e do controle que exercemos sobre as tecnologias que fazem a internet possível.
Um desafio está colocado para nós, brasileiros, neste início da era do capitalismo informacional: aceitar a condição de consumidores de tecnologias e informações alheias ou nos transformarmos em produtores autônomos e soberanos das mesmas.
No capitalismo informacional, a produção material está assumindo um papel secundário nos processos produtivos, sendo apenas uma consequência da aplicação de tecnologias e conhecimentos.
A chamada produção imaterial ou de bens intangíveis (tecnologia e conhecimento) vai assumindo um papel predominante e quem dominá-los, dominará todo o processo econômico e social. Prova disso é o valor de mercado e o poder de compra de uma empresa de tecnologia como o Google, muitas vezes superior ao valor de mercado da maior montadora de automóveis, que é um exemplo clássico da era industrial. Além disso a saúde financeira das empresas de tecnologia e informação fariam o combalido sistema financeiro internacional passar vergonha, se a tivesse...
Se no obscurantismo da idade média, as catedrais estavam no centro de toda a organização social, política e econômica, assim como na era industrial estavam as indústrias e no capitalismo financeiro os bancos, no capitalismo informacional tudo vai se organizando em torno dos produtores de conhecimento, tecnologia e informação, onde a internet é o grande meio de propagação dos mesmos.
Portanto, se nos contentarmos com a condição de meros consumidores de tecnologia e conhecimento, nos contentaremos com a indigna posição de dominados e agravaremos as mazelas nacionais. À exclusão social e econômica, adicionaremos a exclusão digital e do conhecimento. Aprofundando, assim, a concentração da mídia e o controle que ela exerce sobre as pessoas.
Para superar esta condição, antes mesmo que ela esteja consolidada, precisamos romper com o complexo de vira-latas que ainda reina em nossas mentes e corações.
Precisamos ser ousados e passar à condição de produtores de tecnologias e provedores de serviços tecnológicos e informacionais.
Precisamos criar infraestruturas tecnológicas nacionais públicas e abertas que garantam o acesso de todas as camadas da população aos novos serviços proporcionados pelo desenvolvimento tecnológico e informacional.
Precisamos, inclusive, ter servidores e repositórios públicos nacionais para armazenamento seguro de toda a informação, conhecimento e tecnologia produzidos no país. Aliás, a segurança de nossos dados pessoais e coletivos, das tecnologias que produzimos, assim como a sua integridade, são questões tanto de segurança nacional, como de preservação cultural, de nossas crenças e sabedorias autóctonas.
Note-se que falamos de infraestrutura pública e não estatal, porque entendemos que esta mudança de condição, este deixar de ser consumidor de tecnologia e conhecimento para tornar-se produtor dos mesmos, só é efetivamente possível e inclusivo se houver ampla colaboração entre comunidades, governos, sociedade civil, sindicatos, movimentos sociais, empresas públicas e privadas. Esta colaboração só pode existir em um ambiente livre e colaborativo, onde todos os que participam do mesmo, preservadas suas especialidades e capacidades, igualmente são tratados como sujeitos do processo de desenvolvimento.
A condição de igualdade e protagonismo dos agentes a qual nos referimos no parágrafo anterior não existe no mundo da propriedade intelectual privada, no mundo do copyright como ele é atualmente concebido. No mundo da propriedade intelectual privada, quem a detém, quem detém uma patente, está num patamar superior aos demais e, conforme legislação em vigor, possui determinados direitos reservados que lhe permite, inclusive, não disponibilizar o uso da mesma.
Para sobreviver nesta nova selva do capitalismo informacional precisamos de um projeto de desenvolvimento tecnológico nacional que junte iniciativas e evite a concorrência danosa entre irmãos, ou seja, aquela concorrência que leva a dispersão de energias e de trabalho. Não se propõe aqui reinventar a roda, mas sim juntar as partes que hoje se desenvolvem em separado e criar sinergias que possibilitem o desenvolvimento conjunto delas. E isso, mais uma vez, só é possível em um ambiente de colaboração.
Também não podemos nos esquecer que antes do surgimento de determinadas redes digitais privadas (ver Quem manda no shopping center é o dono) muito difundidas pelos velhos meios de comunicação (Não acreditem em mim: The Terrible truth about facebook), já existiam Redes Sociais reais, humanas, presenciais, analógicas.
Estas redes sempre intercambiaram informações e experiências, construindo conhecimento coletivamente e isso não pode ser suplantado pelas redes digitais, mas potencializado por elas. Neste aspecto a internet precisa ter um caráter integrador, agregador e plural.
Também não basta ter informação! É preciso saber o que fazer com ela e quais meios usar para compartilhá-la de forma eficiente possibilitando aos cidadãos acesso à informação.
Podemos achar que basta criar uma conta em uma determinada rede digital e lá postar a informação que se deseja compartilhar. Mas há milhares delas na internet, qual escolher?
Além disso, muitos cidadãos estão nas mais distintas redes. Outros tantos nem acesso ao computador tem!
Algumas destas redes vendem a ilusão de democracia e liberdade, mas de fato forçam os usuários a ficar dependentes delas, evitando que as informações sejam compartilhadas em outras redes, fora delas! Estas são redes digitais conectadas em si e burlam o grande diferencial da internet que é a interconectividade digital.
As denúncias recentes do ex-agente da CIA, Edward Snowden, mostram o quão perigoso é usar determinadas redes digitais conectadas, centralistas e centralizadoras, usadas como poderosos máquinas de espionagem e bisbilhotagem. Também por isso, não podemos cair no populismo digital e achar que nossos problemas de comunicação estarão resolvidos se usarmos apenas as redes “mais acessadas” ou se jogarmos nossa companheirada no colo de uma só rede.
A Comunicação na era digital deve ser inovadora e horizontal, deve aproximar as pessoas e organizá-las, como sempre foram as iniciativas cutistas de sucesso.
Podemos transformar a comunicação no país se apostarmos na inovação e na horizontalidade que a comunicação digital oferece: a interconectividade.
A interconectividade digital é garantida pela diversidade das redes que compõe a Internet e, claro, pela capacidade que elas possuem de comunicar-se entre si, formando uma Federação de Redes ou as Redes Sociais Federadas.
Um dos principais debates no mundo das redes digitais gira em torno dos conceitos:
a) rede centralizadora e centralizada;
b) redes sociais federadas.
Rede Centralizadora e Centralizada é aquela onde todos devem estar dentro da mesma rede para poder compartilhar a informação.
É o conceito que rege o facebook e outras redes digitais privadas e proprietárias.
Redes Sociais Federadas, ou as redes de redes, são aquelas que permitem aos usuários de diferentes redes digitais se conectar, trocar informações entre si, criar novas formas de interação através da Web sem necessariamente serem usuários de uma mesma rede digital centralizada e centralizadora.
Este é o conceito que inspira e rege as redes digitais livres, soberanas e anti-hegemônicas.
Com as Redes Sociais Federadas é possível que duas ou mais pessoas, usuários de redes digitais distintas, se relacionem e compartilhem informações e conhecimentos independentemente de quais redes participem.
É o usuário que decide livremente onde estar, onde divulgar suas informações, com quem quer se comunicar. Algo semelhante ao que ocorre com os serviços de e-mails atualmente, porém online ou de forma imediata.
Do ponto de vista de uma Rede Centralizadora e Centralizada, como facebook, se você não estiver cadastrado na rede e não mantiver lá um perfil, você não existe. A única maneira dos seus amigos que estão em determinada rede interagirem com você é convidando-o a participar da mesma. E você necessariamente precisará se cadastrar lá para interagir com estes amigos.
Apesar de existir centenas de redes digitais na internet, quase todas funcionam como se não houvesse nenhuma outra rede digital na Web e cada uma busca ser a “rede social” hegemônica, a mais poderosa e a mais popular de todas.
As Redes Sociais Federadas, ou as redes de redes digitais, significam uma mudança de paradigma, ou seja, a existência real de uma gigantesca rede digital global, descentralizada e livre, gerida por pessoas e entidades diferentes e autônomas que interagem através da interconectividade das redes.
Mas as Redes Sociais Federadas de pouco servem se não facilitarem a interação entre distintos indivíduos, movimentos sociais, políticos, culturais, tecnológicos, etc, se não promoverem a inclusão de novos atores e sujeitos nas dinâmicas de organização e compartilhamento de conhecimento e informações. Portanto, para funcionar elas precisam, além de protocolos abertos e livres, da livre interação entre os distintos indivíduos, movimentos e redes, numa grande articulação global baseada em conceitos como o pluralismo, a autonomia, a horizontalidade e a unidade na diversidade, onde ninguém é mais que ninguém e todos juntos somos fortes.
Investir em Redes Sociais Federadas, efetivamente interconectadas, é um passo fundamental para democratizar a comunicação digital e alcançar um número cada vez maior de cidadãos. É possibilitar que um número cada vez maior de pessoas se tornem sujeitos do processo de comunicação e organização, fortalecendo cada vez mais os movimentos sociais, além de democratizar a produção e o acesso à informação e ao conhecimento.
Portanto, a internet poderá exercer um papel fundamental na democratização das comunicações se paralelamente à luta por esta democratização levarmos adiante a luta pela soberania tecnológica, como já estamos fazendo na prática com o Blogoosfero.
Se possível, resuma sua trajetória pessoal e profissional.
Nascido em uma família operária, aos 14 anos entrei no SENAI na qualidade de trabalhador na Ford, onde me tornaria ferramenteiro e sindicalista, militante da Oposição Sindical Metalúrgica de SP. Aos 21 anos fui eleito Secretário Geral da Comissão de Fábrica dos Trabalhadores na Ford, de onde, em 1988, sairia para estudar Filosofia Social na Universidade Estatal de Moscou, na URSS.
Em terras soviéticas, e mais tarde russas, além de estudar dediquei-me também à formação de sindicalistas russos, criando TIE-Moscow (Troca de Informações sobre Empresas Transnacionais) que promove o intercâmbio de informações e experiências entre trabalhadores estrangeiros e locais, preparando-os para os embates (que viriam a ter neste século XXI) com as empresas transnacionais que se instalaram na Rússia após o fim da União Soviética.
Mestre em Filosofia Social e de volta ao Brasil em 2001, dei continuidade ao trabalho de troca de informações e experiências entre trabalhadores em empresas transnacionais. Em 2005 criamos o site de TIE-Brasil, que seria listado por Emir Sader, anos mais tarde, como uma das 10 fontes de informação alternativa na internet brasileira. Na condição de editor e administrador do site de TIE-Brasil, em 2010 participei do 1º Encontro Nacional de Blogueiros. No ano seguinte faria parte da comissão organizadora do 1º Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas no Paraná e desde então um dos coordenadores do projeto Blogoosfero.
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