Depois da vergonhosa batalha campal promovida gratuitamente por torcedores do Vasco e Atlético Paranaense no último domingo, mais uma vez inicia-se o faz-de-conta máfio-midiático de caça as bruxas, onde se procura encontrar os culpados pelo incidente e onde, mais uma vez, tudo acabará em nada, sem nenhuma punição para os verdadeiros responsáveis. Assim, temos a garantia concreta de que nos próximos anos, sempre na última rodada do brasileirão, as cenas de barbárie continuarão a se repetir.
Desta vez a caça aos responsáveis limita-se a PM catarinense que não se fez presente dentro do Estádio Arena Joinvile e ao Ministério Público Catarinense que supostamente, proibiu a presença da PM dentro daquele estádio.
Alguns mais exaltados, vociferando ódio, tentam imputar a culpa ao governo federal, esquecendo completamente do fato de que o GF não tem poderes sobre a PM catarinense, nem sobre o MP daquele estado, nem sobre o estádio e muito menos sobre a CBF, uma entidade privada, responsável pela realização do torneio.
Novamente os verdadeiros responsáveis permanecem convenientemente escondidos e, como sempre, impunes.
Tanto a torcida do Atlético Paranaense quanto a do Vasco da Gama possuem um vasto histórico de violência nos estádios, espancamentos e até homicídios. A partida, de mando do Atlético, foi realizada em Joinvile devido a uma punição que o clube paranaense recebeu por causa de atitudes violentas de sua torcida em jogos sob sua responsabilidade.
Para a partida, a diretoria do clube paranaense proibiu a venda de ingressos para mulheres e crianças…
Ora, nem é preciso usar mais do que dois neurônios para perceber que as cenas de barbárie já eram esperadas. O Atlético Paranaense, com seu esquema de segurança privada e insuficiente para conter os ânimos das duas torcidas, foi conivente e co-responsável pelas agressões.
A diretoria do Atlético já sabia dos riscos para a integridade física de seus torcedores e se tivesse um mínimo de preocupação com seus fãs não colocaria nenhum ingresso a venda. Se a CBF e a justiça desportiva tivesse um mínimo de responsabilidade para com seus clientes, os torcedores, determinariam que o jogo fosse realizado com os portões fechados e pronto, ninguém sairia machucado.
Mas já faz muito tempo que o futebol deixou de ser um esporte, é nada mais que um negócio lucrativo que movimenta grandes somas e sobrevive graças a paixão quase irracional de grandes massas de seres supostamente pensantes.
As torcidas organizadas de alguns grandes clubes estão muito mais para milícias organizadas e uniformizadas. São milícias violentas a serviço de seus líderes e, principalmente, a serviço das diretorias de seus clubes e que, a qualquer momento, podem levar seus métodos de atuação dos estádios para as ruas.
Não deve ser coincidência que os protagonistas da barbárie do último domingo, quase todos carecas bombadões, se assemelham na aparência e no método aos baderneiros dos protestos de junho, aqueles que vociferavam “Sem Bandeira,” “Sem Partido,” faziam ameaças e promoviam os quebra-quebras nas imediações do Centro Cívico.
Apesar de todas as evidências e das constantes recorrências na prática de crimes de violência das torcidas organizadas, a justiça brasileira ainda trata o assunto com desdém, as punições quase sempre muito leves, limitam-se ao indivíduo agressor e a instituição “torcida organizada”, no máximo, fica proibida de freqüentar os estádios por um breve período de tempo.
Também é evidente que toda esta impunidade das organizadas não é obra do acaso.
Os dirigentes dos grandes clubes, muitas vezes, também são muito influentes no meio político e desfrutam de certas regalias patrocinadas pelos poderes eleitos. Como uma milionária reforma de um estádio particular, bancada com dinheiro público e justificada pela realização de quatro jogos inexpressivos da copa do mundo, aqui na cidade.
Os membros e lideranças das organizadas também não ficam muito atrás. É comum um chefe de torcida ser eleito para um mandato eletivo e, no caso da barbárie de domingo, um dos envolvidos é ex-vereador de Curitiba e que atualmente exerce um cargo de confiança no governo do estado. Juliano Borghetti (PP-PR) é superintendente da Ecoparaná, uma autarquia vinculada a secretaria do Turismo do Estado.
Qual o policial, delegado ou juiz que vai se sentir a vontade para investigar ou punir um apadrinhado do governador ou alguém muito influente na política do estado?
Assim, a impunidade corre solta e aquilo que, em tese, seria a paixão nacional pelo futebol, é nada mais que um instrumento para enriquecimento ilícito de dirigentes esportivos, todos com seus interesses muito bem protegidos por suas milícias de plantão, as organizadas.
No fim das contas, o maior responsável pela violência nos estádios é o próprio torcedor que nem se envolve com as organizadas. Aquele torcedor que ama seu time, que compra o jornal com notícias esportivas, que assiste aos programas esportivos da televisão e que compra os pacotes de pay-per-view da TV fechada para poder assistir aos jogos do seu time dentro de sua casa.
É um mercado milionário e o subir ou cair de divisão não diz respeito apenas ao sucesso ou fracasso dentro do gramado. O que está em jogo são os contratos de publicidade, a visibilidade nos noticiários esportivos.
Com tanto dinheiro em jogo, comprar um resultado, um árbitro ou patrocinar a entrada de suas milícias para dentro do estádio, para que fomentem a confusão e depois, isso sirva como justificativa para reverter um resultado no tapetão é lugar comum.
Infelizmente, muitos ainda acreditam que o futebol é um esporte. Cegados pela paixão, não percebem que tudo não passa de um negócio, uma mercadoria. E numa economia de mercado, tudo tem seu preço. Inclusive um resultado, um campeonato e até, não ter que disputar uma segunda divisão.
Polaco Doido
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