por Rodrigo Vianna
O auditório ainda se agitava com as histórias sobre o trânsito infernal em Salvador, na sexta-feira à noite, quando Altamiro Borges, presidente do Centro de Estudos Barão de Itararé, deu por iniciado o III Encontro Nacional de Blogueiros, chamando os primeiros convidados à mesa.
Em meio ao burburinho (e não era Stanley) que vinha dos corredores, Miro pediu que os presentes (quase 300 blogueiros de todo o Brasil) prestassem atenção à mensagem em vídeo que seria exibida no telão. O barulho, de repente, cessa - diante da voz conhecida. É Lula que surge na tela, numa saudação que ele – pessoalmente – decidira gravar. O ex-presidente lembra a participação dele no II Encontro, em Brasília, e ressalta o papel dos blogs para a construção de uma Comunicação com mais diversidade. “A Comunicação não pode estar concentrada em poucas famílias no Brasil”, diz o ex-presidente. A voz rouca ecoa pelo auditório.
Na sequência, outras vozes: Rosane Bertotti (FNDC), Marcio Pochmann (IPEA), Nelson Breve (EBC)… ”O Brasil ainda não superou completamente o subdesenvolvimento, ainda tem características de um país subdesenvolvido, e uma delas é a democracia imperfeita na área de Comunicação. Seremos uma Democracia plena quando tivermos pluralismo e liberdade nessa área”, diz Pochmann.
Nelson Breve, que hoje comanda a TV Brasil, lembra da época em que trabalhava na Secretaria de Comunicação (SECOM), sob a presidência de Lula. E conta qual foi a estratégia para furar o bloqueio da velha mídia naquela época. A SECOM passou a trabalhar com a imprensa internacional, a imprensa regional e, segundo ele, “com uma terceira imprensa que surgia: a blogosfera”. Breve lembra de episódios em que a blogosfera cumpriu papel decisivo. “Pra ficar num só, falemos da bolinha de papel em 2010″.
Essa “terceira” imprensa parece incomodar. A tal ponto que passou a receber ataques sucessivos nas páginas da velha mídia, aquela controlada pelas tais “famílias” a que Lula se referiu no vídeo. Incomoda tanto que a revista mais vendida do Brasil decidiu enviar um repórter (dessa vez não era Dadá, nem algum araponga a serviço de Cachoeira) para acompanhar o encontro em Salvador. “Cadê o cara da Veja?”, “merece uma saudação especial”, brincam os blogueiros pelos corredores. Renato Rovai ironiza, via twitter: “ele [o repórter da Veja] tá sendo bem tratado, ninguem invadiu o quarto de hotel dele”.
A gente brinca, mas sabe muito bem que, do outro lado, há uma turma que não brinca em serviço: ataca, tenta destruir os adversários mas, no fundo, se amedronta diante da concorrência e do contraponto que vem dos blogs.
Ainda na abertura do Encontro, o ex-ministro Franklin Martins fez uma bem-humorada saudação “aos blogueiros sujos, que fazem uma imprensa limpa”. E lembrou que a turma dos blogs tem uma qualidade importante: “a capacidade de ser insubmissa; é assim que se cria cidadania”.
Franklin defendeu, sim, a regulação da Comunicação eletrônica: “regulação que existe em todas as democracias”. E acrescentou: defender isso é defender “o que já está na Constituição”.
O mote, lançado por Franklin, parece ter ganho corpo entre os blogueiros. Ampliar o debate para além da esquerda, trazendo para o debate amplas parcelas da sociedade: essa deve ser a direção nos próximos meses/anos. Por isso, no segundo dia de debates, Paulo Henrique Amorim sugeriu um novo lema para os blogueiros que lutam por Comunicação democrática no Brasil: “Nada além da Constituição”!
Assino embaixo. Foi o que defendi num recente encontro do FNDC. A turma do outro lado quer que a sociedade acredite que, do lado de cá, há “bolcheviques querendo controlar a imprensa livre”. Nada disso. Pra fazer a comunicação democrática, não precisamos de Revolução Russa. Basta um pouquinho de Revolução Francesa.
Nada além da Constituição!
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