Bancários de vários estados brasileiros entraram em greve nesta terça-feira. A paralisação vem depois de várias rodadas de negociações infrutíferas. De acordo com balanço do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, 20 mil bancários paralisaram suas atividades hoje na Grande São Paulo.
Na pauta, estão o aumento salarial, maior participação nos lucros e melhorias nas condições de trabalho. Os bancários reivindicam reajuste de 10,25%, mas a federação dos bancos oferece apenas 6%, frente a uma inflação de 5,39%. Os bancários também reivindicam aumento nos vales alimentação e refeição, alegando a alta inflação no preço dos alimentos.
A greve dos bancários vem em um momento delicado para os bancos. No início do ano, os maiores instituições financeiras anunciaram lucros recordes em 2011 e mesmo assim se mostraram resistentes à política do governo de redução dos juros. Ao final, o governo forçou a redução por meio dos bancos públicos. Entretanto, o governo ainda luta para conseguir reduzir o spread bancário, ou seja, a diferença entre as taxas de juros cobradas pelos bancos aos clientes e o real custo delas.
O Escrevinhador conversou com Juvandia Moreira, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região sobre as demandas dos bancários, mas também sobre os altos faturamentos dos bancos e a resistência de alguns setores em aderir às diretrizes econômicas do governo. (Juliana Sada)
- No início deste ano, vários bancos anunciaram que tiveram lucros recordes em 2011. Ainda assim, os bancos ofereceram um reajuste real de menos de 1% para seus funcionários. O que eles alegam para tamanho descompasso?
Eles colocam a proposta e afirmam que esse ano os ganhos serão piores, embora tenhamos números que comprovam que os bancos seguem ganhando muito. Eles afirmam também que os bancários já tiveram aumentos nos anos passados. De 2001 a 2011, o lucro dos bancos aumentou em 500%, essa variação é muito maior do que o reajuste que tivemos nesse período. Os seis maiores bancos [Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Santander, Caixa Federal e HSBC] tiveram mais de R$ 25 bilhões de lucro nesse primeiro semestre, ano passado foram R$ 52 bi e, em 2001, o lucro era R$ 4 bi. Olha o salto que deu, nosso salário não cresceu isso.
- Há outra discrepância também em relação aos salários do alto escalão e dos bancários. Qual é a média salarial de um alto executivo?
Um executivo do Itaú vai receber este ano R$8,3 milhões, isso já foi aprovado na assembleia dos acionistas. O piso de um bancário é de R$ 1.400 para seis horas. Em média, o aumento para os executivos vai ser de 9,7%.
- Como o sindicato vê essa situação?
É uma baita de uma desigualdade, uma discrepância muito grande. A gente mora num país em que cerca de 16 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza. Não faz sentido ter gente passando fome e gente que ganha R$ 8 milhões por ano.
- Um dado apresentado no site do sindicato que chama a atenção é de que em 1996 um bancário era responsável em média por 83 contas correntes; em 2010, ese número passou para 292 contas. Qual o impacto da tecnologia nesse ponto? E como isso afeta não só a saúde de trabalhador mas também a qualidade do serviço?
Na verdade, nas agências os bancários cuidam de um número de contas ainda maior, porque esse média é feita entre todos os funcionários dos bancos. Muitas vezes o bancário não tem tempo nem para almoçar. Fizemos uma paralisação no Itaú na hora do almoço, como um protesto, porque os bancários não conseguiam parar para almoçar.
- As mudanças tecnológicas também permitiram esse aumento de trabalho, não?
Houve uma demanda muito grande por crédito e é algo que sobrecarrega o bancário diretamente porque ele tem que analisar cada caso, a tecnologia não faz isso sozinha. No fim do governo FHC, a relação crédito/PIB era de 22% e hoje é de 50%.
- Como é fazer greve dentro dos bancos privados?
Como os trabalhadores estão insatisfeitos com as condições de trabalho, com as cobranças, é fácil fazer greve em um banco privado hoje.
- Mas há uma pressão maior dos bancos privados sobre os funcionários?
O que a gente vê é que empregador é empregador. Os bancos, tanto privados como públicos, fazem muita pressão para os trabalhadores não aderirem.
- Outro ponto de reivindicação é o fim do assédio moral e das metas. Como está a situação nos bancos?
Temos dois problemas: um é o assédio moral e outro, a pressão. De manhã, você recebe um e-mail avisando qual a sua meta do dia. Na hora do almoço, vem outro falando quantos produtos ainda faltam vender, e no fim do dia vem outra avaliação. O bancário vive o tempo todo sendo cobrado, sob um desafio imenso, e muitas vezes os clientes já estão saturados de produtos. Atualmente, a segunda principal causa de adoecimento de bancários são doenças mentais: estresse, depressão, síndrome do pânico…
- E o não cumprimento de metas gera demissões?
Muitas demissões são decorrentes disso. As metas mudam a cada mês, então, você pode alcançar nesse mês mas no próximo, a meta dobra. No fim do mês, sempre alguém vai ficar em último lugar no ranking das metas e tem banco que se você ficar três meses em último lugar, já começa a se preocupar com sua vaga. Os bancos não medem o esforço, só se você vendeu ou não. Os executivos ganham em cima disso também, então fazem uma pressão gigantesca sobre os bancários.
- Apesar da diminuição da taxa de juros, os bancos seguem aumentando o lucro. Como o sindicato avalia a política econômica do governo Dilma?
É acertada a decisão do governo de reduzir o spread e a taxa Selic. Isso é fundamental para o Brasil, há anos defendemos isso. Na verdade, os bancos não fizeram grandes reduções de spread, precisa reduzir muito ainda. A inadimplência vem caindo já que nossa economia tem geração de empregos, o que é importante para pagar as contas. Acho que a redução dos juros é uma coisa fundamental se o Brasil quer crescer. A política tem sido acertada, mas tem que cobrar ainda mais para ser efetiva. Por exemplo, os juros do cartão de crédito são altíssimos e não estão caindo…
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