Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho
Perto de completar a primeira metade de seu governo, analistas começam a se perguntar: qual a marca destes primeiros dois anos do mandato de Dilma Rousseff, a primeira mulher eleita presidente da República?
Levada ao Palácio do Planalto com o discurso da continuidade, na esteira da alta popularidade com que o ex-presidente Lula chegou ao final do seu governo, Dilma herdou boa parte da equipe ministerial e dos principais projetos lançados na administração anterior, da qual ela própria foi uma figura chave.
Mais do que os números da economia, que podem servir para qualquer balanço positivo ou negativo, Dilma marca sua presença no governo pela imagem de governante austera, implacável com os malfeitos e os desmazelos dos seus auxiliares, zelosa na tarefa de cuidar dos interesses do país.
Pelo que se lê nos jornais, não deve ser fácil trabalhar com Dilma, que a todo momento aparece irritada, cobrando providências urgentes, dando descomposturas em ministros, inconformada com apagões e outros buracos na infra-estrutura.
Se a promessa da continuidade foi decisiva para levá-la ao poder, agora coloca Dilma em seu labirinto: se os ministros e seus projetos de governo não estão funcionando como ela gostaria, por que não trocá-los e montar o governo do seu jeito, à sua imagem e semelhança daqui para a frente?
Fosse Dilma executiva de uma empresa privada, certamente já teria feito isso, mas no poder público o buraco é mais embaixo, com o inquilino do Palácio do Planalto, seja quem for, eternamente enredado pelos desafios da governabilidade.
Dona de ampla maioria tanto na Câmara como no Senado, teoricamente com o apoio da quase totalidade dos 30 partidos nacionais, com a exceção de dois ou três, mesmo assim Dilma não consegue impor a sua marca porque precisa contemplar os interesses difusos do balaio de gatos que forma sua base de sustentação parlamentar.
Às voltas com disputas dentro de cada partido e entre os aliados por mais fatias de cargos e verbas, fica difícil para a presidente montar o seu time e dizer como deve jogar. Como sair deste labirinto?
É por isso que o ano deve começar com uma mini-reforma ministerial, nada muito dramático nem entusiasmante, apenas para acomodar esta base aliada sempre faminta que saiu das urnas nas eleições municipais.
Por enquanto, de certo mesmo só a entrada no ministério do PSD de Gilberto Kassab, o seu novo aliado. No mais, deve remanejar alguns postos menos importantes, o que no fim vai deixar mais do mesmo numa Esplanada dos Ministérios em que nenhum nome ou área se destaca até agora.
O governo Dilma até agora se limita a Dilma, com seu estilo centralizador em que praticamente só ela fala, e tem falado muito pouco.
Desde o primeiro dia, a prioridade absoluta de Dilma é o combate à miséria, com a criação do programa “Brasil Carinhoso”, que se junta ao “Minha Casa, Minha Vida” e ao “Bolsa Família”. .
Os programas sociais, no entanto, já eram a marca do governo Lula. O grande desafio de Dilma agora é acelerar as obras do PAC, exatamente o Plano de Aceleração do Crescimento, que a levou à vitória em 2010, mas que anda empacando em várias regiões do país, como acontece com a Transnordestina e a Transposição do São Francisco.
Enfrentando mais mais problemas na base do governo do que na oposição, que está desmilinguindo a cada eleição, e com o PT enfrentando uma situação difícil após o julgamento do mensalão e a Operação Porto Seguro, Dilma precisa aproveitar o próximo ano para fixar a marca do seu governo e não só o da presidente.
Por isso, a batalha pela redução das tarifas de serviços públicos e privados e a conclusão de grandes obras de infra-estrutura tornam-se tão importantes para o embate da sucessão presidencial, que já está nas ruas.
Já que 2013 é um ano sem eleições, a presidente Dilma poderia tomar a iniciativa de promover o debate sobre as tão esperadas reformas política e tributária para desonerar a produção e conter a sangria de recursos públicos que dão origem a tantas crises, criando um clima desfavorável aos investimentos tão necessários ao país.
Com um “pibinho” em torno de 1%, só o controle da inflação e dos juros não bastam a médio prazo para manter os níveis de emprego e renda, que garantem a popularidade da presidente. É preciso criar instrumentos mais permanentes para promover o crescimento sustentável da economia num momento em que as notícias que chegam de fora são preocupantes.
Se dois anos já se passaram sem grandes conquistas, temos outro tanto de tempo pela frente para viabilizá-las. Para isso, é preciso dar uma virada no jogo agora. Coragem, Dilma!
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