por Rodrigo Vianna
Logo depois de conhecer os números do DataFolha e do Vox Populi (primeiras pesquisas após o início do horário gratuito), parei pra ver os programas de TV dos candidatos em São Paulo. Com som baixo, mais interessado no encadeamento de imagens, passei meia hora observando.
Relato o que vi. A propaganda de Serra não é ruim. Ao contrário de 2010, quando os tucanos levaram ao ar uma inacreditável “favela cenográfica” (matáfora, talvez, da dificuldade do PSDB de falar com o povão), dessa vez o programa pareceu-me correto. Serra não aparece muito, até porque o público já o conhece. O eleitor precisa ser poupado da imagem do candidato… Na abertura do programa, os marqueteiros mostraram favelas reurbanizadas na gestão Serra/Kassab, mas o nome do prefeito (pessimamente avaliado nas pesquisas) foi citado de passagem, na boca de uma eleitora. A tentativa, sutil, é de reduzir a rejeição a Kassab, mostrando que nem tudo é tão ruim na Prefeitura.
Resumo da ópera. Se Serra seguir caindo nas pesquisas, a culpa não será do programa de TV. Há uma fadiga geral com o candidato. Imagem desgastada. Parece que Serra quer disputar eleição sem saber direito por quê. Foi o que me perguntou dia desses meu filho de 15 anos, ao ver o cartaz de Serra na rua: “pai, ele não cansa de ser candidato?”. Ele, talvez não. Mas o eleitor está cansado de Serra.
O programa de Haddad é, disparado, o mais bonito: a textura de imagem, a sofisticação de enquadramentos, a edição de imagens. Tudo muito bem feito. O que incomoda? Haddad fala em tom professoral. Ele não ouve o povo. Fala, e fala sem parar. Claro, o candidato é pouco conhecido, precisa mostrar que tem consistência, que não é um jovem aventureiro. Mas essa postura professoral também pode gerar antipatia mais à frente.
O ponto positivo: Haddad é o primeiro a lançar na campanha uma proposta concreta, fácil de entender – o bilhete único mensal. Nada de promessas vazias e insossas: “mais saúde, mais educação”. Isso o eleitor nem escuta mais. Haddad propôs algo concreto, palpável.
Russomano é o candidato que ouve mais do que fala. Ele vai às ruas, aproxima-se da eleitora e do eleitor – e escuta a queixa, o pedido. É como se botasse a mão no ombro do eleitor e dissesse: “deixa comigo”. Mas não é só por isso que Russomano se consolida em primeiro…
A resposta talvez esteja no programa de outro candidato. Na TV, Chalita explora exaustivamente as “picuinhas” entre PT e PSDB. E conclui: o eleitor está cansado disso! Parte do eleitorado parece concordar com Chalita. Mas em vez de escolher o peemedebista para romper a polarização, parece ter escolhido Russomano. Chalita precisa ver se faz sentido bater na tecla da polarização PT/PSDB, numa eleição em que já há alguém ocupando o lugar da terceira via. Do jeito que está, o programa de Chalita (muito bem acabado, aliás) acaba ajudando Russomano.
Se encontrar um novo mote, Chalita ainda pode entrar no jogo. O eleitor classe média que tradicionalmente vota nos tucanos para barrar o PT, pode preferir Chalita (e não Russomano) para cumprir esse papel. O governador Alckmin gostaria muito se isso acontecesse.
E Haddad? Ele subiu porque ficou mais conhecido (graças ao programa na TV, muito bem feito), e também por causa de Lula. Mas até onde Haddad pode crescer? Até onde Lula pode levar a candidatura? O ex-presidente é forte, claro! Mas, especialmente em São Paulo, Lula não faz mágica. Lembremos que, quando era presidente em 2004 e 2008, o apoio dele não garantiu a vitória de Marta.
Claro, agora há um prefeito pessimamente avaliado do outro lado. E há um candidato (Haddad) com baixa rejeição. Mas é bom entender que – à medida que Haddad ficar marcado como “homem do Lula e do PT” – o antipetismo paulistano fará com que a rejeição a ele aumente. Se Haddad for ao segundo turno contra Serra ou Russomano, tem boa chance de vitória. Contra Serra, pela rejeição estrondosa do tucano. Contra Russomano, terá mais dificuldades. Mas crescem as chances do petista se ele colar no adversário a pecha de “aventureiro”.
E Russomano? Não é bobo, sabe usar a TV (no segundo turno, teria o tempo igual ao do adversário). Pode ocupar o espaço (hoje vazio) do velho populismo paulistano. Depois de Adhemar, Jânio e Maluf, teria chegado a hora de Russomano?
A situação mais complicada é a de Serra. Caso ele encerre a carreira com uma derrota humilhante (o que hoje é o mais provável), muitos paulistanos vão comemorar. Mas talvez a comemoração maior aconteça dentro do PSDB – que finalmente poderá virar essa página.
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