Por Izaías Almada
Em discurso no encerramento do recente evento RIO+20 no mês passado, o presidente Rafael Correa, do Equador, enfatizou que há uma guerra não declarada a ser combatida pelos setores progressistas de todo o mundo. A guerra da mídia contra a verdade dos fatos e a criminosa manipulação de consciências que se faz através de jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão.
Modestamente, ouso discordar em apenas um pequenino, mas significativo ponto do discurso do presidente equatoriano: já é uma guerra DECLARADA. O que se publica e se divulga ou é uma meia verdade, ou uma mentira inteira ou não apresenta o fato em seu verdadeiro contexto o que, em última palavra, vem a dar no mesmo.
Trago aqui três exemplos desses últimos dias para a nossa reflexão: a declaração do senado norte americano sobre o banco HSBC, o debochado discurso de uma senhora chamada Danuza Leão sobre o povo brasileiro e a “vitória” de parte da mídia nacional ao pautar o julgamento do mensalão para antes das eleições municipais, mensalão que ainda não se provou, segundo o batalhador Mino Carta.
Notícia da Folha de São Paulo na última terça-feira, 17 de julho, diz o seguinte:
HSBC pôs em risco sistema financeiro dos EUA, acusa Senado
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
O banco britânico HSBC, um dos maiores da Europa, colocou em risco o sistema financeiro dos EUA, ao relaxar seus controles e ficar vulnerável a operações para lavagem de dinheiro relativas ao tráfico de drogas e terrorismo.
As acusações fazem parte de um relatório do Senado americano divulgado nesta terça-feira.
“Na era do terrorismo internacional, da violência vinculada às drogas em nossas ruas e nossas fronteiras, do crime organizado, deter esse fluxo de dinheiro que apoia esses horrores é uma prioridade para segurança nacional”, escreveu no comunicado o senador democrata Carl Levin, que presidiu o comitê de investigação.
Denúncia grave, claro, que envolve um dos maiores bancos mundiais com quase 500 agências só nos Estados Unidos. Onde a manipulação, se não do senador democrata, mas da maneira como a notícia é dada, se atentarmos para um fato extremamente importante e esclarecedor?
Segundo alguns dos últimos relatórios da Organização Mundial de Saúde (2008/9), os norte americanos são os maiores consumidores de drogas do planeta. Apesar da legislação repressiva adotada nos Estados Unidos, os americanos aparecem como os maiores consumidores de maconha e cocaína do mundo, revela um estudo realizado em 17 países e publicado na ‘PLoS Medicine’, uma revista científica on-line. Segundo o estudo, dirigido por pesquisadores da Universidade de New South Wales (Sydney, Austrália), 16,2% dos americanos já consumiram cocaína ao menos uma vez, enquanto 42,4% já fumaram maconha.
Cabe, então, a pergunta: como essa droga chega aos Estados Unidos? Quem protege o tráfico? Quanto ela movimenta em dinheiro? Por qual razão os EUA têm bases militares na Colômbia, maior produtor mundial de cocaína e invadiram o Afeganistão, maior produtor mundial de ópio? Para combater a droga ou para protegê-la no escoamento até a terra do Tio Sam, onde – inclusive – outros bancos devem também acionar a sua lavanderia? Como o maior consumidor de drogas do mundo, portanto o maior comprador, pode acusar um banco de lavar dinheiro proveniente do tráfico? E quanto desse dinheiro financia operações da CIA? Hipocrisia ou manipulação da informação?
O senador democrata se esqueceu dos assassinatos autorizados pelo próprio governo americano contra alvos escolhidos, mas que costumam matar civis inocentes, conforme recente denúncia do ex-presidente Jimmy Carter ao jornal New York Times, em territórios do Afeganistão, no Iraque, e com o conhecimento do presidente Obama.? Será que é a esse terrorismo que se refere o senador? E Batman, não é mais o super herói que nos protegerá das forças do mal? Pelo menos no Colorado?
Outro caso interessante é o da socialite (ou seja lá o que isso queira dizer) carioca importada do Espírito Santo que há dias deitou falação “instruindo” brasileiros e estrangeiros sobre como se comportar nos anos de Copa do Mundo (2014) e Olimpíadas no Brasil (2016). Chamada no site da UOL:
Danuza Leão dá dicas de como brasileiros devem se comportar na Copa
DE SÃO PAULO
O Brasil está prestes a sediar os dois mais importantes eventos esportivos do mundo: a Copa e as Olimpíadas, em 2014 e 2016, respectivamente. Mas, para receber os estrangeiros que virão ao país por consequência disso, os brasileiros precisam se preparar, diz a colunista da Folha Danuza Leão.
Em entrevista gravada, ela dá dicas de comportamento para a população e também para os visitantes.
(O leitor poderá acessar o vídeo na TV UOL, se ainda lá estiver)
Dispenso-me de reproduzir os cinco minutos de idiotices que diz a colunista da FSP, onde vem à tona todo o preconceito, rancor, inveja com a condução segura da economia brasileira nos últimos dez anos por parte dos governos Lula e Dilma. Reduz o povo brasileiro a uma súcia de ignorantes, de caráter duvidoso e diz aos estrangeiros para tomarem muito cuidado com jóias, carteiras, bolsas, etc. isso depois de insistir, como fazem muitos jornalistas do PIG, que parte das obras em infraestrutura de aeroportos, estádios, hotéis, praças e avenidas, não ficarão prontas no tempo previsto.
Manipulação pura e simples dos incautos e dos que torcem contra o país. Ficam todos atrás das portas ou atrás dos muros à espera de um desastre para dizerem: viu, não falamos que não iria dar certo essa mania de grandeza? Um país que tem uma classe média que ouve Danuza Leão e vota no Serra, agride negros, nordestinos e gays não precisa de inimigos… E nunca é demais lembrar que em 1950, um país muito mais pobre que o de hoje, organizou uma copa mundial de futebol, onde vários estádios foram construídos, como o estádio Independência em Belo Horizonte e o Maracanã no Rio de Janeiro. E ninguém reclamou…
Por último a farsa do mensalão, a mãe de todas as corrupções brasileiras – segundo Demóstenes, Álvaro Dias, Heráclito não sei das quantas – aquela que foi criada para enfraquecer o governo Lula, se possível abatê-lo, mas que deu com os burros n’água.
A ação da Polícia Federal nas Operações Vegas e Monte Carlo, bem como os primeiros depoimentos da CPMI VEJA/Cachoeira já mostraram ao público brasileiro como foi montada toda essa operação repercutida pelos principais meios de comunicação do país: vídeos montados, escroques a serviço de honoráveis políticos e jornalistas, chantagens, documentos falsos, a imprensa a serviço de bandidos e moralistas de fachada. Políticos do DEM, do PSD, do PSDB, do PPS, envolvidos até o pescoço com a maracutaia e protegidos por uma mídia que tem o rabo preso. Tão violenta e intensa foi essa manipulação que até parte relativamente significativa da esquerda brasileira acreditou.
E tão preso está esse rabo que tentam uma última investida contra o PT, isto é, querem ver se ainda sobram respingos para o ex-presidente Lula e para a atual presidente. Matéria requentada, sem nos esquecermos de que um dos juízes que estará votando no STF é suspeito de integrar o esquema de Carlos Cachoeira.
O castigo vem a cavalo, diz o adágio popular. As mentiras e as falácias da imprensa, bem como a ética e a moral da direita conservadora brasileira, tão bem representada no momento nas insistentes candidaturas de José Serra a qualquer cargo executivo correm o risco de morrer do próprio veneno. Basta que o Brasil do bem meta o dedo na ferida e faça, desta vez, vazar todo o pus acumulado. Força Brasil!
Izaías Almada é escritor, dramaturgo e roteirista cinematográfico, É autor, entre outros, dos livros “Teatro de Arena, uma estética de resistência”, da Boitempo Editorial e “Venezuela, povo e Forças Armadas”, Editora Caros Amigos.
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