Pochmann vai ter de derrotar o PSDB disfarçado de esquerda
Por Renato Rovai, no Blog do Rovai
Presente num encontro com a militância do PT, em Campinas, após debate com o candidato Marcio Pochmann, Emir Sader disse, em tom de brincadeira, algo como: “Aqui vocês têm sorte, os três principais candidatos são de esquerda”.
Evidente que isso não é fato. Mas a situação partidária em Campinas é emblemática da confusão atual entre as siglas. Não que a distinção direita e esquerda seja para se jogar fora, mas o movimento dos candidatos entre os partidos tornou a coisa bem mais complexa, com cenários específicos em cada cidade. Como um pedaço da direita faz parte da coligação que dá sustentação ao governo federal, e o restante que se abrigava principalmente no PSDB e no DEM perdeu completamente o rumo com o governo Lula, muita gente desse campo migrou para partidos que tinham história na esquerda e na centro-esquerda. O caso de Campinas é ilustrativo.
O segundo colocado nas pesquisas, Pedro Serafim, do PDT, atual prefeito, chegou ao poder indiretamente, depois da cassação do prefeito, Dr. Hélio (também do PDT) e do vice (do PT). Tem um alto índice de rejeição e deve ser o adversário mais fácil de se bater no segundo turno. Tenta se descolar do seu grupo de origem, muito manchado com a ligação com Dr. Hélio. Sua posição nas pesquisas se explica por ser o atual prefeito e por estar dando um “banho de loja” cosmético e eleitoreiro na cidade. Mas sua imagem tem brechas que vão dificultar muito sua reeleição, como ter defendido um aumento de 126% no salário dos vereadores.
O primeiro colocado é Jonas Donizette, do PSB, mas cuja história é tucana. Ele foi do PSDB de 1992 a 2001 e seu vice, Paulão, é do PSDB. O setor Alckmista do partido vê na sua eleição a grande chance de retomar o comando na cidade. Quem fala grosso na aliança são os tucanos, que têm laços fortes com a classe média rentista tradicional local (proprietária de imóveis, principalmente).
O vice tucano, Paulão, é ligado ao deputado federal Carlos Sampaio, que perdeu para Toninho quando tentou concorrer à prefeitura e hoje tem um alto índice de rejeição. Junto com a deputada estadual, Célia Leão, eles bancaram a candidatura a vice de Paulão, que derrotou Artur Orsi nas prévias do partido. Orsi, vereador, foi o principal articulador da queda de Dr. Hélio, sendo uma das figuras proeminentes da CPI.
Paulão teve a candidatura à vice impugnada, mas o PSDB está insistindo nele, mesmo correndo o risco de ver Jonas cassado se a impugnação vier a ser mantida. A impugnação se deve à reprovação das contas de Paulão quando este era diretor da Funcamp, a fundação da Unicamp que gerencia os convênios da universidade. O TCU o condenou por ter investido o dinheiro de contratos no CDB e não na poupança, como era a regra. Isso gerou um excedente nos juros que foi apropriado pela administração geral da Funcamp e não retornou para os contratos específicos de onde o dinheiro se originou.
O vice de Jonas Donizette ainda está envolvido em outra polêmica. Ele foi pró-reitor da universidade até recentemente e trabalhou forte nos bastidores para que a universidade fizesse a compra de um terreno no valor de R$ 150 milhões, anexo ao campus principal. O problema é que, mais tarde, descobriu-se que o corretor da transação é ex-secretário de Alckmin e o dono do terreno é doador do PSDB.
Isso não quer dizer que Paulão é corrupto, mas tamanha “coincidência” deveria servir de alerta para o candidato a prefeito Jonas Donizette. Até porque Campinas viveu um trauma razoável nos últimos tempos em relação à seriedade com a coisa pública.
E falando em tomar o que é dos outros, Jonas está se “vendendo” na cidade como o “candidato da base aliada”, buscando lucrar com a popularidade de Lula e Dilma. Mas a verdade é que Lula foi o grande articulador da candidatura de Pochmann e Lula já gravou depoimento de apoio a Pochmann.
Mas não se pode negar que os partidos de Jonas Donizette e Pedro Serafim, PSB e PDT, são da base aliada do governo. E que são partidos com história de esquerda. Neste caso de Campinas, porém, os candidatos que os representam fazem um jogo, para se dizer o mínimo, dúbio. Numa das maiores cidades do estado, com mais de 1 milhão de habitantes, o PSDB ofereceria o vice a alguém que não fizesse seu jogo? Convenhamos, seria mais razoável que Jonas Donizette, por exemplo, assumisse que é o candidato de Alckmin.
Mas as idiossincrasias da política partidária brasileira permitem que alguns candidatos se digam qualquer coisa. Eles não são de centro, nem de direita e nem de esquerda. E ao mesmo tempo apóiam o governo federal e o governo estadual, mesmo quando há grande diferença política entre um e outro.
É um jeito de fazer política que tem história no Brasil, mas que melhoraria muito a política se deixasse de ser um jeito que dá certo.
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