Os tucanos mentem ao dizer que a inflação está fora de controle e que o governo tem sido leniente no controle da inflação. É fato inconteste de que, desde o governo Lula, a meta de inflação tem sido atingida (ver AQUI).
A grande questão é a diferença entre a retórica tucana e suas reais intenções. Por um lado, o argumento PSDbista é de que a inflação pode corroer o poder de compra do trabalhador, caso o aumento de preços na sua cesta de consumo seja maior do que o ganho salarial, o que não tem ocorrido no Brasil.
De fato, os salários reais têm crescido acima da inflação, o que eleva seu poder de compra, como pode ser visto no gráfico acima.
Resta entender qual é o real objetivo tucano ao preconizar tal descontrole inflacionário.
Direto ao ponto: o patamar da inflação não é dos mais confortáveis. O processo de distribuição de renda envolve aumento do salário mínimo e do salário da base da pirâmide de rendimentos, o que gera uma rigidez da taxa de inflação, particularmente no setor de serviços.
Há dois caminhos possíveis para reduzir o patamar da inflação: 1) valorização cambial e 2) arrocho salarial. Ambas possuem contradições entre o objetivo de política monetária e o processo de desenvolvimento brasileiro.
Nos anos em que o centro da meta foi atingido, houve valorização da taxa de câmbio. O problema é que, com uma indústria fragilizada pelas dificuldades impostas por uma ordem internacional em que impera a extrema competitividade chinesa, recorrer à valorização cambial pode acentuar a perda de densidade da indústria brasileira.
A segunda estratégia pode ser implantada de duas formas: cessar o aumento do salário mínimo (ou até reduzi-lo) e gerar uma enorme recessão na economia brasileira, por exemplo, por um ajuste fiscal de grandes proporções ou uma forte elevação dos juros. As políticas fiscal e monetária contracionistas resultam num menor poder de compra e numa redução do poder de barganha para os trabalhadores.
Claramente, tal estratégia significaria exterminar o processo civilizatório pelo qual a economia brasileira tem experimentado pela decisão de crescer com distribuição de renda.
Nos debates, Aécio Neves se esquiva de dizer publicamente como ele reduziria a inflação, apesar de frequentemente afirmar que a inflação está fora de controle. O banqueiro Armínio Fraga, o ministro da Fazenda de Aécio, também não disse como reduziria a inflação no debate com Guido Mantega promovido pela Globonews (ver AQUI).
No entanto, o indício de como será o combate à inflação foi dado por Armínio em outra ocasião (ver vídeo abaixo): ele considera que os salários estão muito elevados. A estratégia, provavelmente, será adotar o arrocho salarial, por meio da contenção do salário mínimo, do ajuste fiscal e da elevação da taxa de juros.
Dizer que a inflação corrói o poder de compra do trabalhador e que ela está fora de controle é o falso pretexto tucano para justificar o que eles realmente querem: reverter o processo de distribuição de renda, elevar os juros e favorecer os detentores da riqueza financeira. Caso o problema para os tucanos fosse realmente o poder de compra para o trabalhador, o arrocho salarial não seria a alternativa escolhida para reduzir o patamar da inflação.
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