Sensacionalismo de gênero, o novo jornalismo da Paraíba
Por Maíra Kubik Mano, no Território de Maíra
Corpos mutilados, sem roupas, com tarjas nos olhos. É assim que as mulheres vítimas de violência têm aparecido na imprensa paraibana. Aos olhos desapercebidos pode parecer um sensacionalismo qualquer de jornal querendo alavancar vendagem, mas não é: essas publicações têm um evidente recorte de gênero.
Não se trata apenas de usar deliberadamente uma imagem chocante – prática antiga e infeliz no jornalismo –, mas também de reforçar que a vítima é uma mulher, ou seja, uma pessoa que está propensa a sofrer violência pelo simples fato de pertencer ao sexo feminino.
Crimes como estupro, assassinatos por maridos e ex-companheiros, abusos de toda ordem por chefes, pais, tios e irmãos, entre outros, são crimes de gênero. Acontecem porque vivemos em uma sociedade onde os homens entendem que podem cometê-los. E alardeá-los na mídia com todos os detalhes e sem qualquer tipo de crítica só reforça a naturalização de ocorrências desse tipo.
Algo que nenhum veículo de comunicação minimamente responsável deveria fazer.
Cansadas de abrir o jornal e dar de cara com fotos grotescas, diversas integrantes de organizações de mulheres e feministas enviaram uma carta à imprensa paraibana.
“Entendemos que tais imagens (…) reforçam a humilhação das vítimas, no que diz respeito aos crimes de caráter machista ou de violência de gênero, e estimulam ou ao menos recompensam aqueles que os cometeram. A humilhação da vítima, seja para lavar a honra, seja para obter prazer (no caso dos estupros) é sim, e não podemos calar quanto a isso, um dos motivos que levam seus algozes a cometê-los”, dizem elas no documento.
No estado, segundo dados oficiais divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado, 73 mulheres foram mortas. O número de homicídios apenas até a metade deste ano supera o registrado em todo o ano passado, que foi de 41 mortes.
De acordo com a coordenadora geral do Centro da Mulher 8 de Março, Irene Marinheiro, em cerca de 70% dos casos de mulheres assassinadas, o autor do homicídio é um parceiro ou ex-parceiro da vítima.
Responsabilidade e ética. É isso que, com razão, as mulheres cobrando. Um jornalismo que não explore as vítimas de violência para vender mais exemplares.
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