“Não queremos os fantasmas do passado: a recessão e o arrocho. O povo não quer mais aqueles que chamavam aposentado de vagabundo. Não quer mais racionamento de energia, nem aqueles que se ajoelhavam para o FMI” (Dilma, abrindo a disputa com Aécio Neves: FHC x Lula).
por Rodrigo Vianna
O primeiro balanço a se fazer da eleição é o institucional. E esse é bastante contraditório. O PT (Dilma) termina o primeiro turno com cerca de 5 pontos a menos do que conquistou em 2010: teve quase 47% dos votos há quatro anos; e agora ficou com cerca de 42%. Aécio teve os mesmos 33% de Serra em 2010 (parte do eleitorado tucano, que ensaiou uma revoada em direção a Marina depois da morte de Eduardo, voltou para o ninho original). Já Marina teve 21% agora – contra 19% em 2010.
Fora isso, o PSOL praticamente dobrou a votação. Luciana Genro colheu algum resultado pela coragem de enfrentar temas dos quais o PT foge. Mas é um crescimento ainda residual, que mal chega à casa de 2% dos votos.
Na disputa efetiva pelo poder, a conta para o segundo turno, de saída, é a seguinte…
- Aécio (segundo as pesquisas, que até agora erraram demais) deve ficar com ao menos 60% dos votos de Marina. Ou seja, dos 21% de Marina, 13% devem seguir para o tucano – são os votos marineiros do Sul e Sudeste, principalmente. Ele também deve garantir mais cerca de 2% dos nanicos conservadores(Pastor Everaldo e Levy Fidelix). Resumo/Aécio: 33% do primeiro turno + 13% de Marina + 2% dos nanicos = 48%.
- Dilma, que teve quase 42%, deve herdar pouco mais de um terço dos votos de Marina (especialmente os votos do Nordeste e Norte), além de capturar boa parte do eleitorado que votou no PSOL. Resumo/Dilma: 42% do primeiro turno + 8% de Marina + 2% da esquerda = 52%.
Essa é minha aposta inicial: 52% a 48%. O segundo turno será duríssimo. E a distância pode encurtar ainda mais, já que Dilma terá contra si a oposição cerrada da mídia e o discurso de ódio que avança em São Paulo, Brasília e outras cidades brasileiras.
“Um quadro venezuelano de disputa”, foi assim que resumi o cenário para um colega jornalista. Ele riu, e concordou.
Venezuelano não só pela disputa apertada. Mas pelo grau de conflagração verbal e política. Dilma deu uma pista do que será essa disputa, no discurso aqui em Brasília – neste domingo à noite. Agradeceu centrais sindicais, partidos, exaltou a figura de Lula e a militância. Depois, atacou: “não queremos os fantasmas do passado, a recessão e o arrocho. O povo não quer mais aqueles que chamavam aposentado de vagabundo. Não quer mais racionamento de energia, nem aqueles que se ajoelhavam para o FMI”.
Dilma não citou FHC. Mas tá na cara que a estratégia petista será comparar: FHC x Lula. Qual projeto beneficiou mais gente no Brasil?
Estamos diante de uma situação curiosa, e perigosa. O PT, que ao longo de 12 anos apostou em ganhar terreno sem politização e sem confronto aberto, agora será obrigado ao confronto. É uma questão de sobrevivência. Ou Dilma parte para o confronto, ou perde. O eleitorado aceitará essa estratégia, para a qual não vendo sendo preparado nos últimos anos?
O PT terá que arriscar. A redução da bancada na Câmara (o PT recuou para 70 deputados, e o PCdoB perdeu um terço dos parlamentares) dá uma pista de que a falta de apetite para o combate simbólico está custando caro demais para a esquerda.
A direita avança: na sociedade, nas telas da TV e do rádio, no discurso do ódio, e agora também no Parlamento. A despolitização cobra seu preço. A água bate no pescoço. É confrontar ou morrer.
Aliás, mesmo que Dilma consiga vencer (a batalha será duríssima, repito), sofrerá muito no Senado (Serra, Tasso Jereissati, Aloysio, Alvaro Dias, Caiado, Lasier da RBS, Ana Amélia – o núcleo duro e ideológico da direita se reorganiza por ali) e na Cãmara – (onde vai imperar a absoluta dispersão de bancadas). Uma direita tacanha, moralista, que mistura hipocrisia religiosa com arreganhos facistas, avança na mesma velocidade em que a esquerda vira o demônio a se eliminar.
Tempos difíceis nos aguardam.
Mas há resultados contraditórios também para a oposição. Aécio chegou – sim - com força para o segundo turno, mas perdeu Minas. Um baque considerável. Pela primeira vez, o PT elegeu um governador no Sudeste.
O PT ganhou também Bahia, Piauí, e deve vencer no Ceará – em aliança com os irmãos Gomes (Cid e Ciro); o PCdoB venceu no Maranhão.
O núcleo mais atucanado do PMDB (Geddel foi derrotado na Bahia, e Henrique Alves vai suar no segundo turno no Rio Grande do Norte) perdeu força.
Mas, então, quem ganhou? O conservadorismo difuso, a geléia geral da fisiologia.
Junho de 2013 e a tal “nova” Política terminaram nessa miscelânea de Bolsonaros, Malafaias, Russomanos… Por enquanto, é a direita que colhe os melhores resultados do “desencanto” com a Política (desencanto? Com Pezão no Rio e Alckmin em São Paulo?).
O PSOL conseguiu ampliar a bancade de 3 para 5 deputados (incluindo gente muito boa: Ivan Valente de São Paulo, Edmilson Rodrigues do Pará e Jean Willis do Rio). Mas é pouco, pouquíssimo.
De um lado, o país mostrou maturidade ao levar ao segundo turno dois projetos de verdade (PT x PSDB). De outro, deu força para o conservadorismo congressual. Ganhe quem ganhar, o quadro será de paralisia, com dificuldades imensas para governar a partir de 2015.
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