PORQUÊ OS NEGROS BRASILEIROS NÃO SE REVOLTAM COMO OS AMERICANOS?
31 de Maio de 2020, 23:05Se você quer uma resposta simples, procure na pergunta. Brasileiro é brasileiro, americano é americano.
Mas acontece que negros de outros países também têm reagido às violências impostas a seu povo. Dos subúrbios de Paris ao bairro de Soweto, do hemisfério norte ao hemisfério sul, negros têm reagido.
Veja bem, a palavra violência ainda não entrou aqui.
Porque o mistério não é nem saber o motivo pelo qual os negros do Rio de Janeiro, por exemplo, não incendiaram a cidade inteira quando foi assassinada a menina Agatha, em setembro do ano passado.
O mistério não é saber porque os negros não reagiram de forma violenta.
O verdadeiro mistério é saber porque os negros sequer reagiram.
Voltemos à frase “acontece que negros de outros países também têm reagido às violências impostas a seu povo”. Taí. Mistério resolvido.
“Seu povo”.
O negro brasileiro é um negro único no mundo porque não se vê como um povo.
Não foi educado para se ver como um povo.
Não é educado para se ver como um povo.
O negro brasileiro foi programado para sequer se ver como negro.
Em 1835, na Bahia, os negros escravos islamitas planejaram um levante, a “Revolta dos Malês”. Tomar a capital Salvador matando quem estivesse na frente.
Educação. Como o judaísmo, o islamismo é uma fonte de educação fundamental (civilizou a Europa) e, principalmente, ensina um povo a se ver como um povo.
O negro brasileiro foi educado para cair no conto do vigário, na versão criada pela elite de que somos “um povo feito por muitos povos”.
Quem se alinha a esse estelionato demográfico, quem pensa que somos mesmo “um povo feito por muitos povos” são os brasileiros que pertecem às classes e raças privilegiadas.
O truque de convencer negros brasileiros de que somos uma grande e bela família diversa, tupis, cafuzos, loiros, negros. E, por isso, ninguém é tupi, nem cafuzo, nem loiro, nem negro. Somos a soma. Logo, negro, no Brasil, posto que aqui tentam nos conhecer de que não há raças, e sim amálgamas, não encontra nem a categoria “negro” para se ver.
E não se vendo, some.
Se em Londres a polícia assassinar uma menina Síria, a comunidade Síria, que se vê como povo, irá botar pra quebrar. Se uma menina rohingyas é estuprada num beco de Cox’s Bazar, na fronteira de Mianmar com Bangladesh, o povo rohingyas irá botar pra quebrar.
No Brasil, se uma menina da etnia negra é baleada nas costas o que vemos são dois meses de noticiários e hashtags.
O truque da deseducação do negro para não se entender como negro e, por consequência, não se entender como povo, como acontece com rohingyas, sírios, judeus e muçulmanos é tão perverso no Brasil que nossa identificação como povo se dá por vias de mercado.
Dispositivos que nos filiam, servindo de cortina de fumaça para vermos a que povo de fato pertencemos.
Exemplo 1 : Se um palmeirense é atacado por corintianos em uma estação de metro, “o povo corintiano” irá jurar vingança. Provavelmente, no confronto, vai gente preta matar gente preta.
Exemplo 2: Se um bandido de uma facção X for assassinado por outro, da facção Y, durante a tomada de uma boca de fumo, “O povo da facção X”, jurará vingança. E unidos, provavelmente veremos mais negros matando negros.
Fora do Brasil, negros são educados, desde criança, a se verem como negros. E todos os movimentos negros norte-americanos que partiram para o confronto, como os Panteras Negras, não o fizeram sem antes muitos estudar, ler livros sobre o assunto, produzir intelectuais robustos que os fizessem escapar da armadilha da “educação ocidental”.
O livro norte-americano “The Miseducation of the Negro”, “A deseducação do negro”, de Carter Woodson, escrito em 1933, é um dos faróis que não tivemos aqui. Apesar de aqui dançarmos até hoje as músicas do álbum “The Miseducation of Lauryn Hill”, onde a cantora fez questão de, na famosa capa do disco, ter imitado o design da capa do livro de 1933.
Seria como se o primeiro disco de Anita trouxesse na capa o geógrafo brasileiro negro Milton Santos.
Mas Anitta não tem culpa de nada. Ela, e você, não leram a fundamental obra de Carter Woodson. E ainda vêm dando sinais de despertar político. Não tem culpa. Nem ela, nem nenhum outro negro que não sabe que é negro, ou que não queria saber que é negro porque é algo que no Brasil dá trabalho, ou não se vê como parte de um povo que é antagonizado e excluído o tempo inteiro pelas etnias que detém o poder no país.
Nós negros brasileiros, fomos todos educados longe de nossa própria cultura e tradição e ligados às franjas da cultura do povo branco.
Todos os povos são lindos. Os brancos, os sírios, os rhohingyas, os judeus. Lindos todos. E todos se vêem cada um como um povo distinto. E não há pecado algum nisso.
Pelo contrário, ver-se como povo é a coisa mais linda que pode acontecer a um.
Como foi publicado aqui, na coluna de ontem, o que o povo preto quer não é nada que não seja dado a todos os outros.
O direito de respirar.
E, no caso do povo preto brasileiro, o direito de ver.
De se ver.
A DESEDUCAÇÃO DO NEGRO
Preço R$ 40 (180 págs.)
Autor Carter G. Woodson
Editora Medu Neter
Lelê Teles
As escolas não nos ensinam...
31 de Maio de 2020, 22:40As escolas não nos ensinam...
Você tinha conhecimento disso?
"As oferendas deixadas nas encruzilhadas era uma forma de os negros alimentarem seus irmãos escravos que estavam fugindo dos feitores.
Eles escolhiam lugares estratégicos por onde escravos fugitivos passariam e colocavam comida pesada; carne, frango e farofa porque sabiam da fome e dos vários dias sem comer desses indivíduos e deixavam também uma boa cachaça pra aliviar as dores do corpo e dar-lhes algum prazer na luta cotidiana.
As velas eram postas em volta dos alimentos pra que animais não se aproximassem e consumissem o que estava reservado para o irmão em fuga e aí surge o que todos conhecem como macumba.
O rito permanece sendo realizado pelas religiões afro como forma de agradecimento e pedidos aos seus ancestrais e em homenagem a seus santos. A cultura branca e eurocêntrica foi quem desvirtou a prática, para causar medo, terror e abominação e reforçar os preconceitos e discriminações contra os negros.
por Tatiane Fernandes
AS QUALIDADES DE UM COVARDE
30 de Maio de 2020, 12:28Pela manhã, Weintraub recebeu a comenda do Mérito Naval, concedida por Bolsonaro.
À tarde, foi chamado de desqualificado por Rodrigo Maia.
É um condecorado com desqualificação. Deve ser o primeiro denunciado publicamente como desqualificado que é homenageado com medalha pela Marinha.
Como à tarde não teve coragem para reafirmar a frase sobre os ministros do Supremo que chamou de vagabundos, ao depor à Polícia Federal, além de desqualificado Weintraub passou a ser também covarde.
Um ministro da Educação desqualificado, analfabeto e covarde.
Moises Mendes